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Veterinários dos EUA investem em cuidados para animais de estimação em fase final da vida

Matt Richtel

09/12/2013 06h00

Cada vez mais, cães e gatos recebem tratamento humano. Há spas para animais de estimação, terapeutas para animais, roupas para animais. E como acontece na vida, também agora acontece na morte. O último fenômeno: centros de cuidados paliativos para animais.

Em todo o país, um número crescente de médicos veterinários está oferecendo cuidados paliativos e comercializando esses serviços como uma forma de dar a cães e gatos --e a seus donos-- uma passagem menos ansiosa e mais confortável.

A abordagem, no mesmo espírito dos cuidados com os seres humanos, implica interromper o tratamento médico agressivo e dar medicamentos contra a dor e até contra a ansiedade. Ao contrário dos cuidados paliativos para os seres humanos, a eutanásia é uma opção --e, na verdade, é uma grande parte deste período do fim da vida. Quando chega a hora, o veterinário a realiza na sala de estar, no quarto ou onde quer que a família se sinta confortável.

Segundo os veterinários, esta é uma grande parte do trabalho: aliviar a culpa dos donos dos animais, oferecendo-lhes uma ponte emocional para a morte de um animal de estimação, e deixando que eles passem pelo luto em casa --ao invés de numa clínica ou abrigo de animais. A intimidade traz um prêmio, por vezes, custando 25 por cento ou mais do que a eutanásia em uma clínica. Veterinários e seus clientes dizem que pode valer a pena.

"Eles estão em seu próprio ambiente, não só os animais mas também os donos”, disse Mary Gardner, cofundadora da Lap of Love, uma empresa com sede na Flórida que é uma das líderes desse mercado pequeno, mas crescente.

"Eles podem levar outros animais presentes, outros gatos ou cães, outras crianças", acrescentou Gardner, que refere-se ao proprietário de um animal de estimação como sua “mãe” ou "pai" e, desde então, mudou-se para seu próprio consultório em Los Angeles. “Eu fui a algumas casas onde havia churrascos para o cachorro e eu e meus vizinhos fomos convidados, e o cachorro era o homem da vez.”

A Lap of Love floresceu, desde 2010, de dois fornecedores para mais de 68 parceiros veterinários em 18 Estados. A Associação Internacional de Abrigo e Cuidados Paliativos para Animais, um grupo que começou em 2009, tem agora 200 membros, principalmente veterinários, mas também vários terapeutas familiares, advogados e um santuário animal no norte da Califórnia, que tem em consideração e oferece cura holística e cuidados paliativos para animais terminais e idosos.

"Existe um movimento formal de cuidados no fim da vida, um movimento formal de cuidados paliativos", disse Eden Myers, veterinário do Kentucky que dirige a JustVetData.com, que acompanha as tendências do setor. Sobre os fornecedores de serviços que fazem isso, ela diz: "Eles estão em toda parte.”

Amir Shanan, um veterinário de Chicago que começou a Associação Internacional de Abrigo e Cuidados Paliativos para Animais, descreveu o movimento como algo em crescimento, mas ainda não dominante; as escolas de veterinária só agora estão abraçando a ideia.

"Há céticos por aí", disse ele. "Mas há 20 anos, quase não havia ninguém além dos céticos e isso está mudando rapidamente."

Não existem normas formais para este cuidados paliativos, e Shanan disse que havia um debate sobre como devem ser essas normas.

"O centro do debate é quem deve decidir quando é o momento certo para a eutanásia, se for o caso", disse ele, observando que alguns adeptos dos cuidados paliativos defendem oferecer cuidados paliativos para os animais até eles morrerem naturalmente, como acontece com os seres humanos.

Os cuidados paliativos e a eutanásia em casa são coisas diferentes. O seu crescimento se deve a fatores semelhantes, disse Myers, incluindo uma aceitação maior dos cuidados paliativos para seres humanos, bem como telefones celulares, laptops e um mercado online que torna os serviços veterinários fáceis de operar. Além disso, disse ela, mais veterinários oferecem o serviço como um alternativa de negócio ao alto custo de começar e manter uma clínica tradicional.

“E há pessoas dispostas a gastar montes de dinheiro com seus animais de estimação”, disse ela.

Para os donos de animais, as implicações financeiras deste movimento de cuidados no fim da vida têm duas consequências simultâneas Sob uma luz, os cuidados paliativos podem ser vistos como a redução no custo de cuidados médicos mais agressivos, ou podem ser vistos como uma versão de um cuidado agressivo com conforto, pelo menos quando comparado a realizar mais cedo eutanásia de um animal de estimação.

Uma visita de cuidado paliativo ou eutanásia da Lap of Love geralmente custa US$ 200 ou US$ 250, incluindo as drogas farmacêuticas. A eutanásia numa clínica normalmente custa menos, embora os preços variem muito, e custa menos ainda num abrigo sem fins lucrativos, como um abrigo animal local. Alguns donos de animais dizem que os custos são irrelevantes levando em consideração a paz de espírito --a sua própria.

"Foi mais para mim do que para ele", disse Jan Dorr, bibliotecária em Boca Raton, na Flórida, que foi um dos primeiros clientes da Lap of Love em 2010.

Ela gastou US$ 5 mil em quimioterapia com seu labrador chocolate, Darby, mas a saúde do cão continuou piorando. Quando ouviu sobre a ideia dos cuidados paliativos para animais, sua reação foi positiva; um ano antes, seu próprio pai morreu depois de uma experiência positiva com cuidados paliativos. Ela ligou para Gardner, que a ajudou a deixar Darby confortável, aumentando os medicamentos para a dor e dando a Dorr uma lista de sintomas para ela reconhecer quando fosse o momento de deixá-lo partir, como por exemplo quando ele parasse de comer, andar ou interagir.

Quando a condição de Darby se agravou, poucos dias depois, o veterinário voltou para realizar a eutanásia. Dorr deitou-se em sua cama com Darby, abraçando-o.

A veterinária Michele Price, do norte da Virgínia, cujo negócio de cuidados paliativos em domicílio dobrou desde 2009 para representar 20% dos clientes, recebeu um telefonema recentemente sobre um labrador doente chamado Champ. Ela tinha visto o cão pela primeira vez em agosto, quando seus proprietários achavam que era hora de praticar a eutanásia. Mas, quando Price chegou à casa, Champ estava bem e ela e a família decidiram sobre o tratamento com cuidados paliativos e analgésicos. Mais tarde, a saúde de Champ teve um declínio drástico e ele não conseguia mais andar. Price voltou e eles prepararam a eutanásia.

Champ estava deitado sobre uma colcha de retalhos ao lado da lareira quando Price administrou a sedação inicial.

"Eles o abraçaram e disseram como ele era um bom cão. Disseram 'nós o amamos' e 'vamos sentir sua falta'”, disse Price sobre os donos do animal. Quanto a Champ, "ele adormeceu. Essa é a última coisa da qual se lembra.”