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Pesquisa indica pela 1ª vez que caminhar reduz a invalidez física de idosos

Mildred Johnston, 82, uma das voluntárias no estudo, afirmou que manteve as caminhadas semanais com mais dois idosos em Gainesville, na Flórida (EUA) - Rob C. Witzel/The New York Times
Mildred Johnston, 82, uma das voluntárias no estudo, afirmou que manteve as caminhadas semanais com mais dois idosos em Gainesville, na Flórida (EUA) Imagem: Rob C. Witzel/The New York Times

Gretchen Reynolds

28/05/2014 06h00

Exercício regular, incluindo caminhar, reduz significativamente a chance de que uma pessoa idosa frágil fique fisicamente inválida, segundo um dos maiores e mais longos estudos deste tipo até o momento.

Os resultados, publicados na terça-feira na revista "Jama", reforçam a necessidade de atividade física frequente para nossos pais idosos, avós e, é claro, nós mesmos.

Apesar de todo mundo saber que exercício é uma boa ideia, independente da idade, as evidências científicas sobre seus benefícios para velhos e enfermos eram surpreendentemente limitadas.

"Pela primeira vez, nós mostramos diretamente que exercício pode efetivamente reduzir ou prevenir o desenvolvimento de invalidez física em uma população de idosos extremamente vulneráveis", disse o dr. Marco Pahor, diretor do Instituto de Envelhecimento da Universidade da Flórida, em Gainesville, e principal autor do estudo.

Inúmeros estudos epidemiológicos se concentraram na forte correlação entre atividade física na idade avançada e uma vida mais longa e mais saudável. Mas esses estudos não provaram que o exercício melhora a saúde dos idosos, apenas que idosos saudáveis se exercitam.

Outros experimentos em pequena escala, aleatórios, estabeleceram de modo persuasivo um elo casual entre exercício e velhice com saúde. Mas a amplitude desses experimentos costumava ser estreita, mostrando, por exemplo, que idosos podem melhorar sua força muscular com musculação ou sua capacidade de resistência com caminhadas.

Sedentários e doentes

Assim, para esse mais recente estudo chamado “Intervenções no Estilo de Vida e Independência para Idosos” (ou LIFE, na sigla em inglês), os cientistas de oito universidades e centros de pesquisa por todo o país começaram a recrutar voluntários em 2010, usando um conjunto incomum de critérios de seleção. Diferente de muitos estudos envolvendo exercícios, que tendem a ser preenchidos por pessoas com saúde relativamente robusta que podem se exercitar facilmente, os cientistas recrutaram voluntários sedentários e enfermos, e à beira da fragilidade.

No final, eles recrutaram 1.635 homens e mulheres sedentários com idades entre 70 e 89 anos que marcaram menos de nove em uma escala de 12 pontos de capacidade física, geralmente usado para avaliar idosos. Quase metade marcou oito ou menos, mas todos eram capazes de caminhar por conta própria por 400 metros, o limite para os pesquisadores de ser fisicamente inválido.

Então os homens e mulheres foram distribuídos aleatoriamente para um grupo de exercício e um de educação.

O grupo de exercício recebeu informação sobre envelhecimento, mas também começou um programa de caminhada e musculação leve, frequentando o centro de pesquisa duas vezes por semana para caminhadas em grupo supervisionadas em uma pista, com as caminhadas se tornando progressivamente mais longas. Também lhes foi pedido que completassem três ou quatro sessões adicionais de exercício em casa, visando um total de 150 minutos de caminhada e cerca de três sessões de 10 minutos de exercícios com pesos por semana.

A cada seis meses, os pesquisadores checavam a capacidade física de todos os voluntários, com atenção particular se ainda eram capazes de caminhar 400 metros por conta própria.

O experimento prosseguiu em média por 2,6 anos, que é muito mais longo que a maioria dos estudos de exercícios.

Ao final desse período, os voluntários de exercícios apresentaram uma probabilidade 18% menor de ter experimentado algum episódio de incapacidade física durante o experimento. Eles também apresentaram uma probabilidade 28% menor de se tornarem inválidos de forma persistente ou permanente, definido como sendo incapazes de caminhar aqueles 400 metros por conta própria.

Ressalvas

A maioria dos voluntários "tolerou muito bem o programa de exercícios", disse Pahor, mas os resultados levantaram algumas bandeiras. Mais voluntários no grupo de exercício foram hospitalizados durante o estudo do que os participantes no grupo de educação, possivelmente porque seus sinais vitais foram checados com mais frequência, disseram os pesquisadores. O regime de exercício também pode ter exposto condições médicas ocultas, disse Pahor, apesar dele não achar que o exercício em si levou às hospitalizações.

Uma preocupação mais sutil envolve a diferença surpreendentemente pequena, em termos absolutos, no número de pessoas que ficaram inválidas nos dois grupos. Cerca de 35% das pessoas no grupo de educação tiveram um período de incapacitação física durante o estudo. Mas 30% também tiveram no grupo de exercício.

"À primeira vista, esses resultados são desanimadores", disse o dr. Lewis Lipsitz, professor de medicina da Escola de Medicina de Harvard e diretor do Instituto para Pesquisa do Envelhecimento do Hebrew SeniorLife, em Boston, que não esteve envolvido no estudo. "Mas então você olha para o grupo de controle, que não era realmente um grupo de controle." Isso porque, em muitos casos, os participantes no grupo de educação, que estavam recebendo informação sobre nutrição e exercício, começaram a se exercitar, como mostram dados do estudo, apesar de não ter sido requisitado que o fizessem.

"Não seria ético impedi-los de se exercitarem”, prosseguiu Lipsitz. “Mas se os cientistas no estudo LIFE pudessem usar um grupo de controle de idosos completamente sedentários com hábitos alimentares ruins, as diferenças entre os grupos seriam muito mais pronunciadas", ele disse.

No geral, disse Lipsitz, "é um estudo importante, porque se concentra em um resultado importante, que é prevenir a invalidez física".
Nos próximos meses, Pahor e seus colegas planejam explorar os resultados de seu banco de dados para um estudo adicional, incluindo uma análise de custo-benefício.

Mildred Johnston, 82 anos, uma funcionária de escritório aposentada em Gainesville, que se apresentou como voluntária para o estudo LIFE, mantém as caminhadas semanais com duas outras voluntárias que conheceu durante o estudo.

"Exercitar mudou tudo o que eu achava que envelhecer significava", ela disse. "Agora não se trata de quanta ajuda você precisa de outras pessoas. Agora se trata mais do que posso fazer por conta própria." Além disso, ela disse, fofocar durante as caminhadas em grupo "realmente mantém você engajada na vida".