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Obama evita tomar partido sobre a eficácia de tortura praticada pela CIA

Em nota, Obama pediu à nação para que pare de brigar por algo que ocorreu muitos anos antes dele tomar posse - Brendan Smialowski/AFP
Em nota, Obama pediu à nação para que pare de brigar por algo que ocorreu muitos anos antes dele tomar posse Imagem: Brendan Smialowski/AFP

Peter Baker

Em Washington (EUA)

11/12/2014 06h00

A CIA, agência federal de inteligência dos Estados Unidos, insiste em afirmar que as técnicas brutais de interrogatório que utilizou contra suspeitos de terrorismo há uma década funcionaram. O Comitê de Inteligência do Senado concluiu que não funcionaram. E a respeito disso, o presidente Barack Obama não está tomando partido.

Apesar de Obama ter repetido sua crença de que as técnicas representam tortura e traem os valores americanos, ele se recusou a comentar a questão fundamental levantada pelo relatório, divulgado na terça-feira (9): elas produziram inteligência significativa para impedir ataques terroristas, ou a CIA enganou a Casa Branca e o público a respeito de sua eficácia?

Afinal, esse debate deixou Obama diante da escolha desconfortável entre dois aliados: o conselheiro próximo e ex-assessor que ele nomeou diretor da CIA, contra seus companheiros democratas que controlam o comitê do Senado e a base liberal que apoia suas conclusões.

"Nós não vamos nos envolver nesse debate", disse um alto funcionário do governo próximo de Obama, que falou com os repórteres segundo regras que não permitem que ele seja identificado.

A declaração por escrito de Obama, divulgada em resposta ao relatório, tentou se equilibrar no meio dessa divisão. Ele começou expressando apreço pelos funcionários da CIA como sendo "patriotas" aos quais "temos uma dívida de gratidão" por tentarem proteger o país após os ataques de 11 de setembro de 2001. Então ele julgou que os métodos que eles usaram para fazê-lo "provocaram danos significativos à posição da América no mundo".

E, finalmente, Obama pediu à nação para que pare de brigar por algo que ocorreu muitos anos antes dele tomar posse. "Em vez de outro motivo para brigar novamente a respeito de velhas discussões", disse o presidente, "eu espero que o relatório atual possa nos ajudar a deixar essas técnicas no local ao qual pertencem –no passado".


Obama tem buscado encontrar um equilíbrio nessa questão desde que tomou posse há seis anos. Um de seus primeiros atos como presidente foi assinar uma ordem proibindo o uso de tortura pela CIA. Mas ele resistiu à pressão dos ativistas para fazer com que aqueles que submeteram suspeitos à simulação de afogamento respondessem por isso.

O Departamento de Justiça, sob o secretário Eric Holder, reexaminou os casos de abusos contra prisioneiros que foram encerrados sob o presidente George W. Bush, mas sem processar ninguém. Obama rejeitou a criação de uma "comissão da verdade" proposta por democratas como o senador Patrick J. Leahy, de Vermont. Até hoje, o presidente resiste à divulgação de fotos do tratamento duro dado aos detidos no Iraque e Afeganistão, e sua Casa Branca tem dado apoio à CIA na censura a trechos do relatório do Senado.

Como um presidente que recebe informes regulares sobre ameaças terroristas e é responsável por detê-las, Obama vê a situação de modo diferente do que quando era candidato e condenava o presidente do outro partido. Em sua declaração, Obama não apenas buscou não condenar Bush por ter autorizado as técnicas, como também adotou um tom de empatia.

"Nos anos pós-11 de Setembro, com temores legítimos de novos ataques e a responsabilidade de prevenir mais perda catastrófica de vidas, o governo anterior se viu diante de escolhas agonizantes sobre como caçar a Al Qaeda e impedir novos ataques terroristas contra nosso país", disse.

Uma grande influência tem sido John O. Brennan, o funcionário de carreira da CIA que está ao seu lado desde o início de sua presidência, primeiro como conselheiro de contraterrorismo da Casa Branca e agora como seu diretor da CIA.

Tanto Brennan quanto o primeiro diretor da CIA do presidente, Leon E. Panetta, assumiram a posição, contrária aos críticos, de que os interrogatórios produziram inteligência útil, mas que mesmo assim eram errados e que Obama estava certo em proibi-los.

Brennan não recuou dessa posição com a divulgação do relatório do comitê.

"Nossa revisão indica que os interrogatórios dos detidos nos quais as TIE foram usadas produziram inteligência que ajudou a impedir planos de ataque, capturar terroristas e salvar vidas", ele disse em uma declaração na terça-feira, referindo-se às técnicas de interrogatório expandidas. "A inteligência obtida pelo programa foi crítica para nosso entendimento da Al Qaeda e continua informando nossos esforços de contraterrorismo até hoje."


A senadora Dianne Feinstein da Califórnia, a presidente democrata do comitê de inteligência, disse que o programa não foi apenas moralmente errado, como também ineficaz. O relatório do comitê argumenta que a informação obtida pelos interrogatórios frequentemente era falsa, repetida ou podia ser obtida de outros modos.

"Ele conclui que as técnicas de interrogatório coercivas não produziram inteligência vital, que não pudesse ser obtida de outro modo, como a CIA alega", disse.

Na terça-feira, Obama pareceu primeiro evitar essa afirmação direta. Sua declaração por escrito notou que ele "proibiu inequivocamente a tortura", mas não disse que os Estados Unidos cometeram de fato tortura. Ao discutir o que aconteceu sob seu antecessor, Obama usou frases como "métodos severos" e até mesmo "técnicas de interrogatório expandidas", a frase preferida por Bush e pela CIA.

Assessores foram rápidos em dizer que Obama não estava tentando ficar em cima do muro e que quando o presidente foi entrevistado por José Díaz-Balart, da "Telemundo", várias horas depois, ele usou uma formulação mais direta.

"Algumas das táticas descritas no relatório de inteligência do Senado foram brutais, e como eu já disse, para mim representam tortura", disse Obama.

Mas enquanto grupos de direitos humanos e de liberdades civis pedem para que os responsáveis sejam processados, a Casa Branca demonstrou não ter interesse e os assessores deixaram claro que Obama tem "confiança completa" em Brennan, como um deles colocou.

Ao ser perguntado sobre a avaliação do comitê do Senado de que a CIA enganou o público, Josh Earnest, o secretário de imprensa da Casa Branca, disse: "Isso é algo que não estamos julgando".