Como tela de carro levou comerciante a descobrir traição antes de ser morto

Uma ligação na tela do carro de seu cunhado foi a forma como o comerciante Igor Peretto descobriu a traição da esposa, Rafaela Costa, segundo depoimentos à Polícia Civil. Igor acabou morto a facadas no dia 31 de agosto em Praia Grande, no litoral de São Paulo —Rafaela, o cunhado e a irmã de Igor estão presos acusados de envolvimento no crime.

Ligação apareceu em sistema

Mario Vitorino da Silva Neto, marido da irmã de Igor, relatou que, enquanto levava Igor de volta para casa após uma festa, o sistema CarPlay exibiu na tela uma ligação feita por Rafaela. "Rafaela Cunhada" apareceu no visor do veículo, o que desencadeou uma violenta discussão. O sistema CarPlay é um sistema operacional automotivo da Apple que permite conectar o iPhone à central multimídia do carro.

Igor teria se exaltado, acusando Mario de ter um caso com sua esposa. Durante o percurso até o apartamento, Igor teria começado a exigir explicações. Mario relatou que tentou acalmar o amigo, mas a desconfiança aumentou quando Igor tentou ligar para Rafaela, sem sucesso. Antes de chegarem ao destino, Mario teria enviado uma mensagem para Rafaela com a frase "deu m*", o que agravou a situação.

No apartamento de Marcelly, irmã de Igor, a discussão ficou mais violenta. Igor teria usado um pedaço de vidro para ameaçar Mario. Os depoimentos indicam que a situação culminou em uma luta corporal e no esfaqueamento de Igor, que não resistiu aos ferimentos.

A investigação policial revelou que, além dos relatos dos investigados, a quebra de sigilo telefônico e as análises de dispositivos eletrônicos trouxeram provas técnicas cruciais. Imagens de monitoramento registraram os horários e percursos do grupo, reforçando a cronologia dos eventos. Além disso, pesquisas realizadas no celular de Rafaela indicaram buscas por rotas de fuga e sobre o tempo de emissão de odores por um corpo.

"Essa ligação foi, na verdade, o que iniciou toda a fúria da vítima ao questionar o porquê daquela ligação naquele horário e circunstâncias", afirmou ao UOL o advogado de defesa de Vitorino, Maro Badures. "Mario Vitorino foi sabatinado e explicou detalhe por detalhe de todas as nuances, quer seja sobre o diálogo e as ameaças que sofreu ao levar Igor até a casa da mãe dele (Igor estava separado de Rafaela), assim como após exigir que esses fatos fossem esclarecidos no apartamento da irmã, Marcelly."

Motivação financeira

Embora a traição seja apontada como o principal motivo do crime, o advogado da família de Igor, Felipe Pires de Campos, destacou haver indícios de uma motivação financeira. As investigações sugerem que Mario e Rafaela poderiam estar interessados em acessar contas bancárias ou benefícios financeiros associados à vítima. "A traição foi o estopim, mas os indícios financeiros mostram que o crime pode ter sido planejado com outras intenções", afirmou o advogado.

Segundo o MP (Ministério Público), há indícios de que eles queriam vantagens financeiras. Mario assumiria o controle da empresa que administrava com a vítima, Rafaela herdaria os bens de Igor, e Marcelly, ao se relacionar com ambos, também seria beneficiada com os ganhos futuros do grupo. O plano teria como objetivo eliminar Igor para facilitar a relação e os interesses do trio.

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Na noite anterior ao crime, Igor, Mario, Rafaela e Marcelly estavam em uma festa de comemoração de um campeonato de futebol. Segundo os relatos do inquérito, lá Igor teria consumido ecstasy e "loló".

A ligação exibida no carro, a briga no apartamento e a sequência de eventos foram detalhadas por testemunhas ouvidas pela polícia. Testemunhas protegidas relataram que ouviram gritos, sons de pancadas e discussões intensas vindas do apartamento naquela madrugada.

Investigações continuam

A polícia segue apurando os detalhes do caso, com foco nas quebras de sigilo e análise de registros bancários. Felipe Pires de Campos reiterou que a família busca justiça e transparência. "Estamos confiantes de que as provas técnicas ajudarão a esclarecer todas as circunstâncias do crime."

O MP-SP pediu a conversão das prisões temporárias do trio para preventiva, o que foi acolhido pelo TJSP (Tribunal de Justiça de São Paulo). Segundo a denúncia, o crime foi cometido por motivo torpe, praticado por meio cruel e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima. O MP pediu ainda à Justiça que o trio preso por envolvimento na morte de Igor Peretto pague no mínimo R$ 300 mil aos herdeiros do comerciante.

Mario Vitorino da Silva Neto, sócio e cunhado de Igor Peretto, Marcelly Marlene Delfino Peretto, irmã de Igor e esposa de Mario, e Rafaela Costa da Silva, esposa da vítima, estariam envolvidos em um triângulo amoroso. Segundo o Ministério Público, Rafaela mantinha relacionamentos extraconjugais com Mario e Marcelly, e Igor se tornou um obstáculo para a convivência dos três.

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O vereador Tiago Peretto, irmão de Igor e Marcelly, disse acreditar que a ligação foi proposital. "Eu acredito que tenha sido totalmente de propósito, proposital a ligação, para causar o início do conflito", afirmou o vereador. Ele disse que a família acredita em premeditação do crime, mencionando que Marcelly estava monitorando seu irmão por meio de um rastreador e sabia exatamente onde ele estava. "Ela quis causar o estopim do homicídio", completou.

Para mim, minha irmã é uma das maiores culpadas. Acredito que ela tem participação direta no homicídio. Não existe mais irmã para mim. Quem perdoa é Deus, mas eu não sou obrigado a perdoar, e não vou.
Tiago Peretto

O UOL procurou a defesa de Rafaela e Marcelly, mas até o momento os advogados não haviam encaminhado seus posicionamentos.

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