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Com Obama, Casa Branca abandona Wi-Fi ruim, impressão preto e branco e computador 486

Stephen Crowley/The New York Times
Imagem: Stephen Crowley/The New York Times

Michael D. Shear

Em Washington (EUA)

05/04/2016 06h00

É possível administrar um país com Wi-Fi irregular, computadores que ligam e desligam aleatoriamente e aparelhos de viva-voz de mesa da Radio Shack, de por volta de 1985?

Sim, é possível. Mas não é ideal, como a equipe do presidente Barack Obama descobriu durante os últimos sete anos. Agora, enquanto Obama se prepara para deixar a Casa Branca no início do ano que vem, um de seus legados será a atualização da tecnologia de informação para escritório finalmente iniciada por sua equipe.

Até muito recentemente, os assessores da Ala Oeste estavam presos a um estado triste e impressionante de inferioridade tecnológica: computadores de mesa da década passada, impressoras preto-e-branco incapazes de fazer impressões de frente e verso, velhos BlackBerrys (nada de iPhones), internet sem fio fraca e telefones de mesa tão velhos que poucos funcionários sabiam programar os botões de discagem rápida.

No Força Aérea Um (o avião presidencial), os funcionários do governo enviavam e-mails por uma conexão de internet com frequência não melhor que os modems discados de meados dos anos 90.

"Não podemos trabalhar assim", lembrou Anita Decker Breckenridge, vice-chefe de Gabinete para operações da Casa Branca, que passou a trabalhar com a Força Aérea na atualização do avião do presidente para velocidades de banda larga. "Este é o Escritório Oval no céu. Não é possível contar com uma rede que não funciona."

Parte do problema? A responsabilidade pela tecnologia da Casa Branca há muito era dividida entre quatro agências, cada uma com seu próprio diretor-chefe de informação: o Conselho de Segurança Nacional, o Gabinete Executivo da Presidência, o Serviço Secreto e a Agência de Comunicações da Casa Branca. Isso levou a uma série de soluções-remendo ao longo dos anos, enquanto uma agência ou outra tentava atualizar de forma picada o equipamento da Casa Branca.

Isso também levou a momentos cômicos. Em 2014, quando os assessores da Casa Branca acompanharam Obama em suas férias de verão em Martha's Vineyard e tiveram dificuldades com os notebooks que travavam constantemente enquanto tentavam revisar uma declaração do presidente, eles não conseguiam receber suporte técnico da Agência de Comunicações da Casa Branca, porque os funcionários da agência não estavam autorizados a logar em computadores concedidos pelo Gabinete Executivo da Presidência.

Breckenridge se inspirou no desenvolvimento por Obama em 2015 do Serviço Digital dos Estados Unidos e sua missão de atualizar o governo federal além da Casa Branca. Após sua frustração em Martha's Vineyard, ela estava determinada a consertar a situação, e em março de 2015 contratou David Recordon, que projetou e realizou a manutenção da tecnologia de escritório para Mark Zuckerberg e outros funcionários no Facebook, como o entendido em tecnologia da informação para o complexo da Casa Branca.

"Foi um desafio interessante e significou muito para mim", disse Recordon.

Uma de suas primeiras tarefas foi tentar mapear os quilômetros de cabos de Ethernet e fios telefônicos dentro das paredes do Nº 1600 da Pennsylvania Avenue. A equipe de técnicos posteriormente descobriu e removeu quase 6 toneladas de cabos abandonados que não tinham mais nenhum propósito.

"Eles foram instalados ao longo de décadas por organizações diferentes, usando padrões diferentes, técnicas diferentes, de épocas diferentes", disse Recordon. "Os trabalhadores encontravam esses dutos que continham feixes de cabos que foram cortados ao longo dos anos e não eram mais usados. Então começamos a removê-los."

Após consertar o cabeamento, Recordon começou a substituir os computadores (os novos possuem unidades de estado sólido velozes e processadores modernos) e impressoras coloridas. O novo sistema telefônico, o primeiro desde o governo Clinton, é todo digital, com viva-voz embutido e botões de discagem rápida que podem ser mudados online. Muitos assessores da Casa Branca agora possuem os iPhones mais recentes. Obama, entretanto, ainda possui um BlackBerry modificado especialmente, de alta segurança.

O Wi-Fi no Salão Roosevelt é finalmente forte o bastante para transmissão ao vivo por streaming de um evento pelo Facebook, como os assessores da Casa Branca fizeram na semana passada, quando Obama surpreendeu ex-presos federais cujas penas foram comutadas. O esquecimento de senhas não é mais uma irritação agora que a Casa Branca começou a exigir o login dos usuários por meio de cartões com chip e código pin.

A equipe de Recordon também projetou um sistema baseado em internet para entrada de visitantes na Ala Oeste, que pode ser administrado de forma segura a partir de qualquer computador, inclusive computadores fora do complexo da Casa Branca.

Algumas tecnologias importantes da Ala Oeste foram atualizadas pelo governo George W. Bush, que reformou a Sala de Situação pela primeira vez desde o governo Kennedy e adicionou equipamentos de comunicação modernos. Joe Hagin, o vice-chefe de Gabinete de Bush, lembrou-se de ter tido que trocar os telefones na limusine presidencial, depois que Bush se queixou de não ter conseguido dar nenhum telefonema a partir do automóvel durante todo o fim de semana.

"Ele me disse: 'Que raios aconteceria se por acaso ocorresse uma verdadeira emergência nacional?'" lembrou Hagin. Aquele medo se concretizou meses depois em 11 de setembro de 2001, quando os problemas de comunicação atormentaram o governo e levaram a um novo equipamento no Força Aérea Um e aos primeiros BlackBerrys na Casa Branca.

A equipe de Hagin também atualizou os computadores 486 e se livrou do lento e desajeitado sistema de e-mail Lotus Notes. Mas a velocidade do avanço tecnológico de novo deixou a Casa Branca para trás.

"Sou muito solidário com eles", disse Hagin, que se compadeceu com Breckenridge no ano passado do estado lamentável da tecnologia da Casa Branca.

Segundo Breckenridge, a Casa Branca não precisou pedir verba adicional para as novas atualizações, que foram pagas a partir das verbas existentes para tecnologia das várias agências envolvidas. Em alguns casos, ela disse, eles economizaram dinheiro ao eliminar duplicações. As quatro agências não mais negociam seus próprios contratos com empresas de telefonia celular e não mais compram cópias duplicadas de licença de software.

Breckenridge espera que Obama deixe para a equipe de seu sucessor um prédio mais útil na era do Facebook e Twitter, ou o que quer que venha a seguir.

Hagin disse que deseja boa sorte a eles, mas previu que não será fácil. Ele se lembrou de certa vez ter descoberto um porão na Ala Oeste repleto de centrais telefônicas, que os técnicos disseram que podiam ser substituídas por uma unidade do tamanho de um frigobar. Mas todos ficaram com medo de cortar os cabos, porque não existia mais nenhuma planta ou esquema guia, ele disse.

Foram necessários dois anos para substituição do equipamento.