Donos de armas voltam a respirar aliviados com a vitória de Trump
Antes das eleições presidenciais, os ativistas pró-armas estavam tão preocupados com uma vitória de Hillary Clinton que alguns deles compraram munição e armas extras, temendo uma repressão contra certos tipos de armas, balas e revistas.
Eles não estão mais preocupados. Na verdade, desde que Donald Trump foi eleito, defensores das armas têm comemorado, gabando-se de sua influência política e pensando em formas de eliminar muitas das restrições que ainda restam sobre a posse e o uso de armas enquanto aguardam a entrada na Casa Branca de um dos candidatos presidenciais pró-armas mais francos que já se viu.
"Fomos ameaçados. Fomos intimidados. Fomos ridicularizados por oito anos", disse Alice Tripp, diretora jurídica da Associação de Rifles do Estado do Texas, a afiliada regional da Associação Nacional de Rifles. "Espero que o tom mude. Se o tom determina a política, então estamos feitos."
Foi mais do que simplesmente o resultado da corrida presidencial. Defensores de armas tiveram um papel importante na virada do Senado de Iowa de azul (democrata) para vermelho (republicano) e ajudou a derrotar um referendo em Maine sobre a exigência de verificações universais de antecedentes para a venda de armas.
A Associação Nacional de Rifles gastou US$ 50,2 milhões em sete disputas este ano apoiando Trump e seis outros candidatos republicanos ao Senado, e ela perdeu somente uma corrida, em Nevada, de acordo com uma análise do Center for Responsive Politics e do The Trace, uma fonte de notícias sem fins lucrativos que cobre notícias sobre violência por armas.
"Políticos inteligentes de todo o país estão percebendo que se não cooperarmos com a Segunda Emenda, vamos acabar desempregados", diz Aaron Dorr, diretor executivo da Iowa Gun Owners (proprietários de armas de Iowa), cujos membros distribuíram informações sobre candidatos vistos como hostis à Segunda Emenda em cinco distritos do Senado de Iowa. Em cada um desses distritos, o representante democrata perdeu.
Em Kansas e em Indiana, os eleitores aprovaram as emendas que preservam o direito de caçar e pescar que consta nas constituições de seus Estados. E no Maine, David Trahan, diretor-executivo da Sportman’s Alliance of Maine, que era contra o referendo sobre verificações de antecedentes universais no local, disse que as preocupações a respeito de restrições sobre transferências legais de armas e uma sensação de que pessoas de fora estavam ditando o processo político do Maine levaram a uma reação negativa. A medida recebeu o apoio da Everytown for Gun Safety, um grupo de controle de armas fundado em parte por Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York.
Os defensores do controle de armas disseram que a situação no país era mais sutil do que a empolgação dos ativistas pró-armas sugeria. Eles disseram que era impossível saber qual o papel que as questões relativas às armas tiveram na vitória de Trump e negaram que a eleição fosse um referendo nacional sobre os direitos de posse de armas. Das quatro medidas de destaque submetidas a referendo relacionadas às armas em nível estadual, os defensores do controle de armas venceram três e perderam uma, no Maine.
No Estado de Washington, os eleitores aprovaram uma iniciativa que permite que tribunais emitam ordens em caráter emergencial para bloquear temporariamente o direito de possuir uma arma para pessoas que pareçam ter um maior risco de ferirem a si mesmas ou a outras pessoas. Os californianos aprovaram uma medida que requere verificações de antecedentes para se comprar munição. E eleitores de Nevada aprovaram uma medida que requer verificações de antecedentes para quase todas as transferências de armas, além do que é exigido pela lei federal.
Jennifer Crowe, que fez campanha pela medida da verificação de antecedentes em Nevada, conhecida localmente como Pergunta 1, disse que as preocupações com os homicídios e a venda online de armas não-verificadas ajudaram seu lado a vencer, apesar da oposição de grupos pró-armas.
"Quanto mais falávamos sobre o mercado online e sobre o quão poderoso ele é, mais as pessoas pareciam entender a importância da Pergunta 1 como uma medida de segurança pública", diz Crowe.
Erika Soto Lamb, porta-voz da Everytown for Gun Safety, que apoiou os referendos no Maine, no Estado de Washington e em Nevada, disse que os únicos "verdadeiros referendos sobre como os americanos veem a questão da segurança das armas são essas propostas de lei populares". Ela disse que a discussão aberta sobre o controle de armas durante a campanha e as vitórias em nível regional sugeriam que "o que há muito tempo vinha sendo considerado como um tabu se mostrou na verdade uma questão determinante."
Defensores dos direitos à posse de arma dizem o contrário, alegando que a derrota de Hillary seria um sinal de que o controle de armas é uma questão intocável e antecipando uma ampliação dos direitos às armas com Trump como presidente e uma maioria republicana no Congresso.
Uma das políticas que vinham sendo discutidas suspenderia as restrições que proíbem militares de andarem armados em bases militares e centros de recrutamento. As regras sobre armas na maior parte das bases e centros militares proíbem militares que não sejam da polícia ou da segurança de carregarem armas de fogo, e Trump disse que apoia o fim das chamadas zonas livres de armas em bases militares. A questão ganhou novo destaque após tiroteios ocorridos em instalações militares, inclusive em Fort Hood, no Texas, e em Chattanooga, no Tennessee.
"Se alguém tivesse atirado de volta em Nidal Hasan, ele poderia ter ferido e até matado algumas pessoas, mas ele não teria matado tantas quantas ele matou", disse Valente González, administrador do grupo Open Carry Texas na região de Houston, referindo-se ao atirador que matou 13 pessoas em Fort Hood em 2009. "Desarmar pessoas obedientes à lei convida ao caos."
Outras políticas incluem o direito ao porte de armas em nível nacional, o que permitiria que aqueles que possuem autorização para carregar armas de forma oculta em um Estado tenham essa permissão válida nos demais 49 Estados. Também existe uma pressão para se facilitar e baratear a compra de silenciadores, retirando-os da Lei Nacional sobre Armas de Fogo.
"Queremos uma ampla desregulação das armas de fogo", disse Dudley Brown, presidente da Associação Nacional pelos Direitos às Armas. "Está mais do que na hora de as maiorias republicanas no Executivo e no Legislativo fazerem algumas mudanças bem amplas. Como diz o ditado, ‘Dance com quem te trouxe ao baile’."
Alguns proprietários de armas ficaram tão surpresos quanto todo mundo com a inesperada vitória de Trump. C.J. Grisham, um sargento aposentado do Exército e presidente da Open Carry Texas, comprou dois rifles AR-15 e um kit de fabricação de munição pouco antes da eleição, por temer uma possível vitória de Hillary.
"Muita gente da comunidade pró-armas pode voltar a respirar aliviada", ele disse. "Não acho que tenha ninguém reclamando do fato de que eles foram comprar armas extras."
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