No Brasil, Obama traz chavões familiares para uma plateia corporativa
O ex-presidente dos EUA Barack Obama, na quinta-feira (5), disse a líderes empresariais no Brasil que se arrependia de não ter conseguido fazer mais para remediar a política profundamente polarizada dos Estados Unidos durante seu mandato.
Obama não mencionou o nome de seu sucessor e evitou discutir a turbulência que aflige a gestão do presidente Donald Trump. O ex-presidente tampouco mencionou as tentativas da gestão Trump de reverter a reconciliação que ele negociou com Cuba em 2014, uma iniciativa que marcou seu mandato e foi aclamada em toda a América Latina.
"Meu maior arrependimento é não ter conseguido superar as diferenças que estavam surgindo em nossa política tanto quanto eu queria", disse Obama a uma plateia de aproximadamente mil pessoas que pagaram entre R$ 5 mil e R$ 7,5 mil para ouvi-lo falar.
Obama deu pelo menos dez palestras pagas desde que deixou a presidência, chegando a cobrar até US$ 400 mil (R$ 1,25 milhão) por aparição. Ele falou a plateias em Montreal, na Itália e na Indonésia nos últimos meses. Um porta-voz não quis dizer quanto ele receberia por esta palestra.
Sua palestra de 23 minutos em São Paulo, capital financeira do Brasil, se intitulava "Mudar o mundo? Sim, você pode", uma referência ao seu lema de campanha de 2008, "Yes, we can".
Obama fez referências somente passageiras aos escândalos de corrupção que têm agitado o Brasil nos últimos anos, emaranhando vários políticos e empresários em uma ampla investigação. Líderes políticos "precisam ser responsabilizados", disse Obama, sem entrar em detalhes.
O evento, patrocinado pelo banco espanhol Santander e pelo jornal "Valor Econômico" do grupo Globo, atraiu basicamente banqueiros e empresários.
Para os brasileiros, foi uma oportunidade de ver um estadista que foi muito admirado aqui quando presidente e cuja mensagem sobre superar divisões políticas repercute com força em um país que vem sofrendo há anos uma turbulência política.
"Ele é um popstar aqui", disse Fernando, um gerente de investimentos de um banco concorrente que não quis dar seu nome completo. "Valeu cada centavo".
Mas Claudia, que também estava na plateia e não quis dar seu sobrenome, disse que ficou desapontada depois de pagar um ingresso com desconto, no valor de R$ 3,5 mil. "Foi meio decepcionante", ela disse em voz baixa. “"Não me parece que ele tenha dito nada de novo".
Grupos de interesse público expressaram decepção com a rapidez com que Obama começou a ganhar dinheiro depois de deixar a presidência. Uma palestra paga dada recentemente por Obama a uma firma de Wall Street atraiu críticas mordazes.
Robert Weissman, presidente do grupo Public Citizen, baseado em Washington, disse que as palestras corporativas de Obama pareciam destoantes e fora de sintonia em relação à ofensiva da era Trump.
"Com a crise em que nossa democracia se encontra hoje, os americanos querem sentir que seus líderes não estão lucrando de forma oportunista", disse Weissman em uma entrevista na quinta-feira. "Especialmente com o presidente Obama, que demonstrava uma ética tão forte, isso o diminui em um momento em que o país precisa que ele não se diminua".
Obama disse durante a palestra de quinta-feira que o ritmo de recuperação da crise econômica que ele herdou havia exacerbado as divisões. "Aconteceu de forma tão lenta que as pessoas ficaram frustradas e cada uma foi para um dos dois polos", ele disse. "E a raiva na nossa política aumentou, em vez de eu conseguir extirpá-la".
No entanto, Obama disse que continuaria tentando aproximar os dois lados em seu país e globalmente com sua Fundação Obama, que é focada principalmente nos jovens.
Obama participou de uma sessão de perguntas e respostas ao final de sua palestra que evocou respostas familiares. Uma delas era sobre a mudança climática.
"Não me importo se alguém quiser discutir comigo dizendo: 'sabe de uma coisa, não há nada que possamos fazer sobre a mudança do clima'", disse Obama. "Mas o que não quero é ter uma discussão onde a pessoa diga que o planeta não está ficando mais quente".
Obama visitou o Brasil pela última vez em 2011 junto com a primeira-dama, Michelle Obama, e suas filhas. Dois anos depois, as relações entre os Estados Unidos e o Brasil azedaram em meio a revelações de que a Agência de Segurança Nacional havia espionado Dilma Rousseff, presidente na época, que em resposta adiou bruscamente uma visita oficial a Washington.
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