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Bolsonaro ataca Biden, cita cobiça sobre Amazônia e diz não aceitar suborno

Luciana Amaral

De Brasília

30/09/2020 12h11Atualizada em 30/09/2020 14h45

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) atacou hoje o candidato à Presidência dos Estados Unidos Joe Biden, do partido Democrata, pela fala do norte-americano de que poderia organizar US$ 20 bilhões (R$ 112 bilhões) para a Amazônia junto a outros países. Bolsonaro citou uma cobiça de outros países pela Amazônia e disse que não aceitará "subornos".

Biden falou ontem em debate com o atual presidente dos Estados Unidos e candidato à reeleição, Donald Trump, do partido Republicano, que o Brasil está queimando a Amazônia e, se não parar, haverá consequências econômicas significativas.

Em publicação em rede social, Bolsonaro afirmou que o Brasil "mudou" e o presidente da República, "diferentemente da esquerda, não mais aceita subornos, criminosas demarcações ou infundadas ameaças. Nossa soberania é inegociável".

"A cobiça de alguns países sobre a Amazônia é uma realidade. Contudo, a externação por alguém que disputa o comando de seu país sinaliza claramente abrir mão de uma convivência cordial e profícua. Custo entender, como chefe de Estado que reabriu plenamente a sua diplomacia com os Estados Unidos, depois de décadas de governos hostis, tão desastrosa e gratuita declaração", escreveu.

Bolsonaro afirmou que o governo federal está atuando "sem precedentes" pela proteção da Amazônia e enxerga com bons olhos uma cooperação com os Estados Unidos, inclusive para projetos de investimento sustentável que possam gerar empregos para a população do bioma. Ele ainda falou que tem conversado com Trump sobre o assunto.

"Lamentável, Sr. Joe Biden, sob todos os aspectos, lamentável", concluiu na nota, publicada em português e inglês.

Ao chegar ao Palácio do Planalto pela manhã, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), disse não ter visto "questões de ameaça" na fala de Biden, mas apenas que este buscaria arrecadar US$ 20 bilhões para ajudar no combate a desmatamentos ilegais da Amazônia.

"Vamos aguardar. Achei que o debate foi de baixo nível", afirmou.

Bolsonaro é esperado para discursar hoje à tarde em um evento da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre a biodiversidade.

Mourão disse que Bolsonaro vai falar que a visão do governo é de saber que a proteção da biodiversidade da Amazônia é fundamental e de buscar transformar essa "riqueza por meio da bioeconomia em emprego e renda para todo mundo que vive lá".

Em discurso com distorções e dados imprecisos na sessão de abertura da 75ª Assembleia Geral da ONU em 22 de setembro, Bolsonaro falou que o Brasil é vítima de "uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal".

Ao contrário do que afirmou o presidente no discurso, não há evidências de que os incêndios na Amazônia tenham acontecido por iniciativa de caboclos e indígenas. Ele também não levou em consideração as investigações sobre as queimadas no Pantanal ao atribuir o problema à alta temperatura e ao acúmulo de massa orgânica em decomposição. A Polícia Federal suspeita de atos criminosos.

Ao falar sobre o combate aos incêndios, Bolsonaro ignorou que, em seu governo, houve desmonte da política ambiental e de órgãos que tradicionalmente atuam na fiscalização de crimes ambientais, como o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).

Apesar do aumento no desmatamento no país, as sanções impostas pelo Ibama caíram 60% nos seis primeiros meses deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado.

No discurso, o presidente exaltou ações do governo brasileiro para combater a pandemia da covid-19 - o país contabiliza mais de 143 mil mortos pelo coronavírus - e elevou o valor do auxílio emergencial para US$ 1.000 a 65 milhões de brasileiros.

Pela cotação atual, o presidente afirma que o governo destinou cerca de R$ 5.400 para cada brasileiro atendido pelo governo. Na verdade, o auxílio deverá ser de, no máximo, R$ 4.200 à maioria dos beneficiários.

Bolsonaro também mentiu ao afirmar que os hospitais não tiveram problemas para tratar os pacientes de covid-19. Em abril e maio, alguns estados tiveram colapso no sistema de saúde, como Amazonas, Pernambuco, Ceará e Maranhão.

Mais cedo, no Twitter, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, questionou se o dinheiro citado por Biden seria por ano. "Só uma pergunta: a ajuda dos USD 20 Bi do Biden, é por ano?".