Tigre anda 200 km para reencontrar antiga parceira e intriga pesquisadores
Uma história surpreendente de preservação e instinto animal chamou atenção no extremo leste da Rússia. Boris, um tigre siberiano solto na natureza após ser resgatado, percorreu quase 200 km em busca de Svetlaya, uma fêmea que viveu com ele em cativeiro.
O reencontro culminou no nascimento de filhotes, simbolizando um marco no esforço global da conservação da espécie pela organização sem fins lucrativos Wildlife Conservation Society. As informações são do The New York Times.
O que aconteceu
Casal foi resgatado filhote. Eles foram encontrados órfãos nas montanhas Sikhote-Alin, na Rússia, e criados em cativeiro para preservar a espécie.
Separados na vida adulta por mais de 160 km. Separados por mais de 160 km, a estratégia visava aumentar a área de presença dos tigres na natureza.
Boris percorreu 193 km para encontrar Svetlaya. Em uma jornada impressionante, ele se reuniu com a antiga parceira em seu território natural.
Nascimento de filhotes. Seis meses após o reencontro, Svetlaya deu à luz uma ninhada, confirmando o sucesso do projeto de conservação.
Comportamento pode ter sido causado por memória afetiva
Comportamento não é comum. De acordo com o biólogo com experiência em bem-estar de animais em cativeiro, Kayron Passos, ouvido pelo UOL, os tigres não montam parcerias fixas e se aproximam apenas no momento do acasalamento.
Não podemos afirmar com 100% de certeza o que levou a essa atitude, mas a melhor hipótese é que seja a falta de disponibilidade de parceiras ou afinidade com outras fêmeas. Há alguns aspectos comportamentais que outras fêmeas podem não ter achado tão interessante nele, que foi criado em cativeiro.
Kayron Passos, biólogo com experiência em bem-estar de animais em cativeiro.
"Isso pode ter feito com que ele passasse mais tempo procurando uma parceira. Somado a isso, a memória afetiva e a capacidade de caça (rastreio dos sinais químicos que uma fêmea emite no cio) podem ter levado ele a procurar Svetlaya", continua Passos.
Projeto de preservação deu certo com outros tigres na Rússia
A "tigre cinderela" encontrou seu príncipe. Outra fêmea reintroduzida, Zolushka (Cinderela em russo), também encontrou um parceiro na natureza, resultando nos primeiros filhotes da região desde os anos 1970. "O príncipe da Cinderela apareceu e eles viveram felizes para sempre", disse Dale Miquelle, cientista da Wildlife Conservation Society, em entrevista ao The New York Times.
Método cuidadoso e resultados do programa de conservação. No total, cientistas criaram 13 filhotes órfãos em cativeiro sem contato humano direto, ensinando-os a caçar presas vivas e soltando-os na primavera, quando há mais presas disponíveis. Doze dos tigres reintroduzidos adaptaram-se bem à vida selvagem, sobrevivendo e se reproduzindo.
"Esses resultados indicam que é possível cuidar de filhotes jovens em um ambiente semi-cativo, ensiná-los a caçar e soltá-los de volta à natureza", disse Viatcheslav V. Rozhnov, ex-diretor do Instituto Severtsov de Ecologia e Evolução da Academia Russa de Ciências e líder do projeto de reintrodução em entrevista ao The New York Times.
"Essas descobertas fornecem um caminho para o retorno de tigres a grandes partes da Ásia onde o habitat ainda existe, mas onde os tigres foram perdidos", continuou.