Num início de ano sem maiores emoções na televisão, a exibição do Super Bowl por uma rede de TV aberta no Brasil foi uma ótima surpresa. A emocionante final da liga de futebol americano (NFL), com vitória do Los Angeles Rams sobre o Cincinnati Bengals por 23 a 20, foi ao ar não apenas na ESPN, como costuma ocorrer, mas também na RedeTV!. O acordo da NFL com a RedeTV!, anunciado três semanas antes do jogo, indica o desejo da liga americana de expandir o interesse do esporte no Brasil. As condições deste acordo não foram reveladas, mas duas fontes da coluna asseguram que não houve pagamento de direitos por parte do canal brasileiro. O acerto teria sido na base de "share revenue", ou seja, os lucros liquidos obtidos pela RedeTV! com a venda de publicidade seriam divididos com a NFL. Por razões contratuais, o canal brasileiro não pode comentar o assunto. Conversei com Amilcare Dallevo Neto, chefe de Value Creation da RedeTV!. Ao falar sobre o Super Bowl, o executivo faz uma analogia com a aposta do canal em UFC na década passada. "Temos um histórico de construção de modalidade", diz. Neto, como é conhecido, festeja o resultado da operação, sobretudo levantando em conta o curto espaço de tempo. O canal vendeu oito cotas publicitárias, para GM, Burger King, GSK (Eno e Sensodyne), Casas Bahia, JHSF, Vivo, Budweiser e HBO Max. A transmissão foi boa, informativa e preocupada na medida certa em ser didática para o espectador menos habituado ao esporte. Nos Estados Unidos, dos 20 programas com maior audiência em 2021, 19 foram transmissões esportivas (sobretudo de futebol americano). O Super Bowl é, há anos, o programa mais visto no país. Já no Brasil, os números são bem modestos. Segundo dados consolidados do Ibope, no domingo (13), a ESPN marcou 1,5 ponto de média, enquanto a RedeTV! registrou 0,5. Neste início de ano, a RedeTV! investiu numa outra modalidade promissora, os chamados esportes eletrônicos. O canal fez um acordo para exibir a sétima e a oitava etapa da Liga Brasileira de Free Fire. O momento da RedeTV! Lançada no final de 1999, após a aquisição das concessões da falida Manchete, a RedeTV! fez fama com uma programação voltada ao entretenimento popular. Sem maiores ambições e sofrendo cronicamente com a falta de anunciantes, o canal se estabeleceu no quinto lugar, atrás de Globo, Record, SBT e Band. Nos últimos anos, a RedeTV! alugou praticamente metade de sua grade para terceiros, em especial para igrejas evangélicas. "Se eu não vender horário para igreja, quebro", disse o vice-presidente do canal, Marcelo de Carvalho, em março de 2017. Em setembro do ano passado, a equipe que fazia o "Encrenca", programa de maior audiência e faturamento do canal, se mudou para a Band. Agora em janeiro de 2022, como revelou O Globo, dados do Kantar Ibope mostraram que a emissora perdeu o quinto lugar para a TV Brasil, o canal público ligado ao governo federal. Com média de 0,28% ponto, a RedeTV! está perto do que os analistas chamam de "traço". Com um jornalismo alinhado ao governo Bolsonaro, e com a presença de Carvalho no Twitter atacando a Globo e jornalistas com os quais discorda, a RedeTV! enfrenta possivelmente o seu momento mais delicado. Espero que a exibição do Superbowl neste domingo seja sinal de uma virada. |