A semana que passou foi marcada pela notícia do fim do "Bom Dia & Cia", programa dedicado ao público infantil que o SBT mantinha em sua grade havia 28 anos. Como quase tudo que ocorre na emissora comandada por Silvio Santos, a coisa foi repentina. A decisão foi comunicado na quinta-feira (31) e já no dia seguinte a apresentadora Silvia Abravanel se despediu do público. O cancelamento abrupto do "Bom Dia & Cia" significa o fim de uma era. O SBT foi a última emissora comercial da TV aberta a manter programação infantil com destaque. A Globo encerrou a versão diária do "TV Globinho" em junho de 2012, permanecendo ainda até 2015 de forma semanal na grade. A TV Cultura, mantida com recursos públicos, do Estado de São Paulo, ainda exibe um segmento importante de programação infantil em sua grade. Mas já não investe no gênero, como no passado. O canal tem uma tradição relevante neste campo. Duas criações suas, os programas "Castelo Rá-Tim-Bum" e "Cocoricó", estão entre as melhores coisas já feitas para crianças na TV. A programação infantil tem migrado, já faz tempo, para a TV por assinatura e, mais recentemente, para as plataformas de streaming. A renovação do contrato da "Galinha Pintadinha" com a Netflix é um bom exemplo. Uma das razões deste movimento são as restrições à publicidade infantil na TV aberta. A regra é clara neste campo: sem publicidade, não há investimentos em programação. Na TV paga, a legislação é mais flexível. Nos últimos dois anos, a Cultura negociou os direitos dos quase 300 episódios de "Cocoricó" para as plataformas de streaming da Amazon e da Disney. Até aí tudo bem. O que causou incômodo a muitos espectadores foi o fato de o canal ter retirado os episódios do programa de seu canal online e do You Tube. Uma vez que a série foi realizada com recursos públicos, seria natural que continuasse à disposição de todos os espectadores. Por isso questionei a TV Cultura a respeito. O canal nega haver qualquer relação entre o licenciamento com Amazon e Disney e a retirada do programa dos canais online da própria emissora e do YouTube. Mas não explicou o motivo. Outro problema em relação à programação infantil é que parte dos programas exibidos, tanto na TV aberta quanto na paga, foram realizados com o apoio de leis de incentivo. Mas o esvaziamento das agências de fomento, que ocorre no governo Bolsonaro, também afeta este tipo de produção. Como apontou a jornalista Cristina Padiglione, parte dos títulos produzidos sob leis de incentivo criadas para o audiovisual permite que canais como TV Cultura e TV Brasil abasteçam também as suas grades de programação com produções que já estavam pagas pelos recursos criados para fomentar a cena nacional na TV por assinatura. O quadro, enfim, é complexo e não muito animador para quem busca programas infantis brasileiros na televisão. P.S. Como outras decisões intempestivas de Silvio Santos, o fim do "Bom Dia & Cia" e o aumento do espaço do telejornal "Primeiro Impacto" derrubaram a audiência do SBT nos primeiros dias desta semana. PUBLICIDADE | | |