Uma das poucas boas séries brasileiras da Netflix está de volta, agora em terceira temporada. Com mais seis episódios, "Sintonia" explora novos problemas enfrentados por Doni, Rita e Nando, o trio de amigos de infância criado na fictícia Vila Áurea, um bairro na periferia de São Paulo. "Sintonia" foi idealizada pelo comunicador e produtor Kondzilla, nome artístico de Konrad Dantas, dono do maior canal brasileiro no YouTube e um dos maiores do mundo, com 65 milhões de assinantes. Hoje com 33 anos, ele próprio nascido numa quebrada, no Guarujá (SP), apostou em cantores de funk, produzindo vídeos que ajudaram a popularizar vários artistas. Como já escrevi antes, a série destinada ao público pós-adolescente oferece uma perspectiva provocadora e, sem jamais perder a disposição de entreter, ajuda a refletir sobre a realidade de jovens da periferia. Se a primeira temporada girou em torno do sonho de Doni em se tornar um funkeiro de sucesso e a segunda foi centrada no mergulho de Nando no mundo do crime, esta terceira agora tem como maior destaque a jornada da evangélica Rita, que aspira ser escolhida por sua igreja para disputar o cargo de vereadora nas eleições. O funkeiro Doni (MC Jottapê), que na primeira temporada era um menino talentoso e na segunda estourou, fazendo enorme sucesso, agora luta para permanecer na crista da onda. Mas faz uma burrada atrás da outra e mergulha numa terrível crise profissional e pessoal. Sempre didática, "Sintonia" mostra como o cantor perdeu a espontaneidade e se tornou um "personagem de Instagram". O criminoso Nando (Christian Malheiros), agora líder de um ramo da organização a que pertence (muito semelhante ao PCC), planeja um novo golpe milionário, mas quer mesmo é deixar o submundo e se tornar um pai de família respeitável. Não é preciso muito repertório televiso ou cinematográfico para saber que essa jornada é complicadíssima. Já Rita (Bruna Mascarenhas), a protagonista da temporada, precisa enfrentar dois grandes problemas. Seu namorado, o recém-convertido Clayton (MC M10), que era conhecido como Formigão nos tempos do crime, é convocado a prestar contas com a Justiça. E a própria Rita se vê obrigada a convencer o líder de sua igreja de que pode ser uma boa vereadora. Nas passagens mais interessantes da temporada, a menina perceberá que há algumas diferenças essenciais entre o seu desejo de entrar para a política e o interesse disfarçado do pastor para que ela dispute a eleição. A metáfora deste drama é representada pelo cartaz eleitoral, que mostra uma imagem totalmente distorcida de Rita: "Mexeram na minha foto e eu virei um emoji evangélico", diz. "Difícil fazer política. Parece que não posso ser eu mesma", completa. Sem mais spoilers, deixo aqui o convite para quem não ainda conhece, descobrir "Sintonia". Já quem é fã da série, com certeza, já devorou a terceira temporada e está cobrando nas redes sociais que a Nettflix anuncie logo uma quarta fornada. Estes fãs contam comigo. PUBLICIDADE | | |