Mais uma vez a corda estoura do nosso lado: nós, que trabalhamos sério e dentro da Lei e das regras.
Saímos, tão logo começou a onda da covid-19 em outros países, a conversar com empresas parceiras que já viviam a experiência no outro lado do mundo — Ambev, Coca-Cola e Heineken, dentre outras — para ver o que podíamos fazer em busca das melhores soluções.
Avaliamos, buscamos especialistas, conversamos com quem poderia ajudar e nos preparamos.
Elaboramos cartilhas, editamos cursos e treinamentos, disponibilizamos tudo isso para todo o setor, fizemos investimentos, treinamos nossas equipes e nos preparamos para continuar trabalhando de forma correta, sempre com o propósito de contribuir.
Mesmo assim, enfrentamos de cabeça erguida restrições que duraram mais de cinco meses.
Fizemos das tripas coração, evitamos ao máximo penalizar nossas equipes, investimos o que restava para trabalharmos em novos formatos, aprendemos — muitos — a sobreviver.
Exatamente isto: sobreviver somente com o delivery e retirada nas lojas. Trabalhamos com faturamentos mínimos para não fechar nossos negócios — e não promover demissões em massa, pois sabemos bem qual impacto isso causa numa sociedade que tem no setor de Alimentação Fora do Lar o seu principal empregador, especialmente com nossa capacidade de absorver mão de obra com baixa ou nenhuma qualificação e ser grande responsável no Brasil pelo primeiro emprego.
Desesperados, fomos aos bancos: muitos de nós acabamos de pires na mão, pois as linhas apresentadas se destinavam aos grandes, quando nosso setor é composto em sua grande maioria — mais de 90% — por micro e pequenas empresas.
Pra quê?
Pra ver no país inteiro, quando a classe política precisou ir às ruas em busca de votos, as regras de isolamento e todos os protocolos serem rasgados.
Pra ver chegarem as festas de Natal e Réveillon e as pessoas "precisarem" se aglomerar porque estavam necessitando confraternizar com amigos e familiares.
Pra ver nos veraneios, praias e casas lotadas de gente que precisava espairecer, que não aguentava mais o isolamento.
Pra ver no Carnaval, que em tese foi proibido de Norte a Sul nas ruas, clubes e bares, mas sabendo que as festas familiares, de amigos e clandestinas aconteceram como sempre. Muitas delas causadas pela proibição dos bares em realizá-las.
Além disso, enfrentamos a nova concorrência de quem passou a ver no fornecimento de refeições a domicílio uma alternativa após perder a ocupação em outras áreas. Quantos novos entraram na concorrência?
Essa luta, se digna pelo lado da busca do sustento, desleal pelo outro, pois entraram sem atender o que nos é imposto: atender exigências sanitárias, obrigações trabalhistas, tributárias e fiscais.
E, agora, mais uma vez, nos apresentam a conta.
Nunca, em tempo algum, aqui ou em qualquer lugar do mundo, houve evidência de que contribuímos com o aumento das taxas de transmissão.
Não nos confundam!
Há quem, como grande parte da população, ignore solenemente as regras, mas esses não somos nós.
Onde se escondeu o poder público, que não demonstrou a menor preocupação em combater festas clandestinas e outras nem tanto?
Era impopular?
E agora?
Punam-se os Bares e Restaurantes mais uma vez.
Sabemos que independentemente do motivo — corrupção, incompetência, má gestão —, quando os serviços de saúde colapsam, não há o que fazer, a ordem é restringir mesmo.
E apoiamos a decisão.
Mas e nós?
O que será dos Bares e Restaurantes?
É dever, agora, do poder público nos três níveis — municipal, estadual e federal —, acenar com ajuda para o setor de Alimentação Fora do Lar.
Estamos proibidos de trabalhar
Temos locais aptos a funcionar, equipes treinadas e prontas para produzir e atender, insumos estocados para operarmos.
Mas nada podemos fazer.
Quem vai nos socorrer?
Precisamos rachar a conta!
* Max Fonseca é jornalista e diretor nacional da Abrasel
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