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Tabata x Marçal: o duelo entre a nerd e o valentão do fundo da sala

Tabata Amaral (PSB) assumiu de vez o papel de franco atiradora da campanha à Prefeitura de São Paulo ao lançar na madrugada desta segunda-feira (26) um vídeo em que sugere uma associação de Pablo Marçal (PRTB) com o PCC —e, de quebra, tira onda do "rostinho harmonizado" do adversário.

Golpe no queixo recauchutado não é golpe baixo.

A postura parece contrastar com o desenho do início da disputa, em que a deputada parecia fadada à coadjuvância devido à fala polida e quase monocórdica de melhor aluna da sala. Um amigo vê nela um ar meio Sandy, menina prodígio que carregou o irmão, Junior, nas costas enquanto ostentava português correto e aparentemente imune a palavrão.

Pois foi justamente a garota estudiosa —e "certinha", na expressão ouvida pelo repórter Mateus Araújo— quem chamou pra briga o encrenqueiro do fundão da sala que joga pó nos coleguinhas só para postar a peraltice nas redes.

Tabata primeiro denunciou o grandalhão para a inspetora quando ele resolveu jogar bombinha na lei eleitoral. Ele teve as contas suspensas e, como todo valentão acuado, abriu o berreiro.

Em seguida, ela mandou Pablo escolher as suas armas e esperar na saída. "Quem é que banca essa candidatura? Uma pesquisa por seus aliados esbarra sempre nas mesmas letras: P de Pablo, C de Coach, C de Criminoso", diz ela em um vídeo que mais parece série de true crime da Netflix —a mesma estética usada por Marçal.

A peça atinge o autointitulado coach como nenhum outro candidato tinha conseguido fazer até então.

E faz sentido que seja assim.

Alvo preferencial de Marçal, Guilherme Boulos (PSOL) fica entre a cruz e a espada toda vez que é acusado pelo adversário de ser usuário de droga. Se responder, dá palanque ao agressor. Se não responder, parece fugir da briga. Se partir para as vias de fato, elege o rival.

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O tom das respostas, considerado até aqui tímido demais, tem explicação. Desde a campanha de 2020, o desafio de Boulos é se dissociar da imagem de radical e construir a fama de candidato da paz e do amor. E ninguém afasta a fama de mau com voadora no peito.

Ricardo Nunes (MDB) também tem penado para responder à altura o desafiante. Em parte, por falta de traquejo; em parte, por receio de errar a dose e afastar de vez tanto um potencial aliado de segundo turno quanto o eleitor que debandou para o colo de Marçal.

Já José Luiz Datena (PSDB) parece aborrecido demais com os compromissos partidários para perder o que resta de fôlego e paciência batendo boca com alguém que tem idade para ser seu estagiário. Ele até ensaiou uma ofensiva contra o adversário, mas em um vídeo preguiçoso, gravado dentro do carro, e com uns óculos escuros que davam a ele um tom de youtuber revoltado em início de carreira —e não de apresentador com 40 anos de estúdio.

Todos têm algo a perder se partirem para o enfrentamento de peito aberto contra Marçal. Votos, no caso de Boulos e Nunes, e prestígio, no caso de Datena —que seguirá empregado mesmo que termine a corrida na lanterna.

Nesse vácuo, coube a Tabata assumir o protagonismo que as pesquisas não lhe dão.

Com 8% das intenções de voto —prova de que só os professores, minoria na sala de aula, gostam de aluna sabichona— e sem muito a perder, ela decidiu partir para cima do candidato que, até agora, só teve coragem de atacá-la pelas costas.

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Primeiro quando responsabilizou a família de Tabata pela morte do pai da deputada.

Em seguida, após tomar um vareio num debate, correr para uma coletiva e admitir que ela podia até ser mais preparada, mas só porque não tinha marido e sobrava tempo para estudar.

"Ela é uma mulher brilhante, é a que mais estuda aqui, tenho que assumir, estuda demais. Mas não tem marido, não tem filho, não tem problema, aí dá para estudar", disse Marçal, botando na testa, além do despreparo, o selo de covarde.

No vídeo que até aqui é o maior petardo contra Marçal, a adversária só não chamou para o duelo na Ceilândia em frente ao lote 14 porque o endereço é outro. Convocou o rival a comparecer ao debate de domingo (1º) para ser desmascarado. Vai encarar, Pablo?

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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