Saneamento e desenvolvimento: o que o RS tem a mostrar ao Brasil
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O saneamento básico está diretamente associado a direitos fundamentais como saúde, moradia e dignidade humana, o que o torna também um dos mais importantes eixos de transformação social, ambiental e econômica desta década. Quando uma criança pode ir à escola com segurança, quando uma família deixa de adoecer por conta da água que consome, quando um bairro ganha infraestrutura que valoriza sua existência — o impacto vai além dos indicadores.
Essa vocação do setor faz dele um dos pontos de atenção da reforma tributária, especialmente no que diz respeito à desoneração de investimentos essenciais à expansão da infraestrutura. Trata-se de um setor que exige segurança jurídica e regulação clara para atrair capital e viabilizar soluções estruturantes em escala. O objetivo não é só cumprir metas, mas reparar injustiças históricas e garantir o que deveria ser garantido desde sempre: saneamento é básico, saneamento é para todos.
Neste cenário, o Rio Grande do Sul protagoniza um dos movimentos mais significativos do país. Com a desestatização da Corsan, o Estado passou a executar o maior plano de investimentos da história do saneamento gaúcho: R$ 15 bilhões até 2033, com a meta de elevar a cobertura de esgotamento sanitário de 0% a 90% em 258 municípios. Isso representa a instalação de mais de 20 mil quilômetros de redes — quase quatro vezes a distância do Oiapoque ao Chuí. Tudo isso sem parar o serviço, como quem reforma a casa morando dentro dela — um desafio que exige planejamento, diálogo com as prefeituras e paciência da população.
Os impactos ultrapassam os números. Trata-se de uma mudança silenciosa, mas profunda, que interfere diretamente nos indicadores de saúde pública, produtividade, qualidade de vida e desenvolvimento urbano. Segundo o Instituto Trata Brasil, doenças de veiculação hídrica são responsáveis por mais de 344 mil internações hospitalares por ano no Brasil, afetando principalmente crianças e idosos. No RS, onde a infraestrutura de esgoto ainda é incipiente em diversas cidades, essa realidade exige ação imediata e planejada.
A Corsan, agora sob controle do Grupo Aegea, reúne o maior número de municípios atendidos por uma única companhia no Brasil — são 317 cidades, cada uma com desafios técnicos, sociais e ambientais distintos. Isso exige estratégia, governança e um olhar sistêmico para a eficiência da operação, a modernização dos processos e a entrega de obras com o menor impacto possível à população.
É fundamental combinar investimentos estruturantes com iniciativas sustentáveis e tecnológicas. Um exemplo é a adoção de satélites israelenses para detectar vazamentos ocultos, que já permitiram a economia de mais de 30 milhões de metros cúbicos de água tratada em um único ano. Outro é o programa de resiliência hídrica, que prevê a substituição de captações superficiais por poços profundos para enfrentar eventos climáticos extremos com mais estabilidade. Trata-se de uma visão integrada que conecta metas regulatórias, responsabilidade social e impacto ambiental positivo — em consonância com o novo marco legal do saneamento.
O que está em curso no RS é mais do que um projeto de engenharia. É um esforço de justiça social, saúde pública e sustentabilidade, feito com responsabilidade e senso de urgência. Porque saneamento é a base da cidadania. É ele que impede internações, que permite que crianças não faltem à escola, que preserva nossos rios e garante um futuro melhor. O Brasil tem pressa. E o RS virou um estudo de caso vivo de como o setor pode evoluir com eficiência quando há clareza de propósitos, capacidade de investimento e segurança jurídica.
*Fabiano Dallazen é diretor de relações institucionais do Grupo Aegea no Rio Grande do Sul
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