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Com problemas políticos e financeiros, prefeito de Salvador muda, de novo, parte do secretariado

Heliana Frazão <br>Especial para o UOL Notícias <br>Em Salvador (BA)

06/01/2011 14h00

Sem recursos para cumprir com os compromissos municipais e com uma base de apoio esfacelada, o prefeito de Salvador, João Henrique (PMDB), passa por uma crise político-financeira, agravada, esta semana, por uma nova reforma administrativa. Ele mudou sete dos 11 secretários, além de ter exonerado alguns assessores. Em seis anos de administração, já foram nomeados cerca de 50 secretários  – as pastas da Fazenda, Saúde, e Educação foram as mais atingidas pelas sucessivas trocas.

A justificativa apresentada pelo prefeito para as mudanças é “dar mais eficiência à administração”. Ele garante também que, a partir de fevereiro, com o início do pagamento de impostos municipais, como o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), conseguirá normalizar os pagamentos em atraso.

O presidente do PMDB baiano, Lúcio Vieira Lima, critica o modo como o correligionário vem administrando a cidade. “Salvador não merece ficar nesse troca-troca de secretários como vem fazendo o prefeito, inclusive porque sabemos que o que está por trás disso não são os interesses da cidade”, diz ele, acreditando na existência de uma articulação para a Câmara não aprovar o parecer do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), que sugere a rejeição das contas de 2009 da prefeitura. Caso a Câmara endosse o parecer técnico, João pode ficar inelegível por oito anos.

O prefeito rebate as acusações e garante que já encaminhou ao órgão fiscalizador explicações sobre as eventuais irregularidades e aposta numa mudança de parecer do TCM.

Na reestruturação da Casa, João indicou dois vereadores da sua base para integrar o Executivo: Alfredo Mangueira (PMDB) e Gilberto José (PDT).

Renúncia surpresa

Para ampliar a crise, na quarta-feira (5), o  prefeito foi surpreendido com a renúncia do vereador Alfredo Mangueira (PMDB), que no dia anterior havia aceitado convite para assumir a estratégica pasta da Casa Civil. Apontado como ex-banqueiro do jogo de bicho, Mangueira alegou ter percebido que a secretaria seria esvaziada e que não teria “plenos poderes”, conforme havia combinado com o prefeito. Algumas funções que seriam atribuição da pasta teriam sido repassadas para o ex-chefe da Casa Civil, João Cavalcanti, remanejado para a chefia de gabinete.

Nos bastidores, contudo, há informações de que o PMDB, que desembarca da administração municipal, havia pressionado Mangueira a renunciar ao cargo, mas a informação foi negada pelo presidente da legenda. Lúcio Vieira Lima se disse surpreso com a decisão do vereador. “O que nós conversamos com Mangueira foi apenas o fato de que o partido não participaria mais da administração municipal. Mas, se ele quisesse permanecer, que fosse por uma decisão pessoal”, afirmou.

Em efeito cascata, o vereador Téo Senna (PTC) também renunciou ao cargo de líder do governo no Legislativo. Explicou que não teria como permanecer na função sem o colega Alfredo Mangueira, que o havia indicado para o cargo.

Em nota, a assessoria de comunicação da prefeitura disse que “o prefeito entende que a intenção do vereador – Mangueira – é continuar colaborando no sentido de melhor atender a população da cidade".

Enquanto João Henrique busca um novo nome para a Casa Civil, e os novos secretários assumem as funções, sobram críticas dos ex-secretários. José Saturnino Rodrigues, que comandava a Saúde, por exemplo, lamentou ter saído com apenas dois meses na pasta e atribuiu o afastamento ao fato de ser um técnico, sem vinculações políticas. “Se eu não tivesse perguntado, só saberia da minha exoneração através do Diário Oficial”, reclamou. Já Fábio Mota, que deixou a Sesp disse que foi avisado por meio de um telefonema.

As mudanças ocorreram na Casa Civil, secretarias de Saúde, Fazenda, Transportes e Infraestrutura (Setin), Trabalho, Serviços Públicos (Sesp), e Ouvidoria Geral (que não é secretaria).