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Corpo de José Alencar chega a Belo Horizonte para ser velado e cremado

Do UOL Notícias*

Em São Paulo

31/03/2011 09h16Atualizada em 31/03/2011 09h59

O corpo do ex-vice-presidente José Alencar chegou ao aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, capital mineira, onde será velado, por volta das 9h16 desta quinta-feira (31). O transporte de Brasília, onde Alencar foi velado ontem (30) com honrarias, até Belo Horizonte foi realizado em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira).

O caixão com o corpo de Alencar recebeu as honrarias militares antes de entrar no Palácio da Liberdade. Um outro avião com os familiares de José Alencar e autoridades pousou na Pampulha pouco antes das 9h. Eles foram recepcionados pelo governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, e outras autoridades do Estado.

O cortejo que leva seu caixão é feito em um carro histórico do Corpo de Bombeiros. O trajeto passa por importantes ruas da cidade, que estão interditadas. Pessoas acenam e aplaudem a passagem do carro que leva o caixão de Alencar durante o cortejo.

O velório será aberto ao público e deve durar até as 13h. Depois disso, o corpo de Alencar será cremado, conforme era seu desejo.

Participarão das últimas homenagens a José Alencar em Belo Horizonte a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve Alencar como vice por oito anos. Também devem comparecer ao evento políticos mineiros como o governador Anastasia, o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, ex-ministros e ministros nascidos no Estado e os senadores Aécio Neves (PSDB) e Itamar Franco (PPS).

Em Brasília

O corpo do ex-vice-presidente deixou o Palácio do Planalto por volta de 6h30 desta quinta-feira (31), e seguiu até a Base Aérea de Brasília, de onde embarcou por volta das 7h47 rumo a Belo Horizonte.

Na quarta-feira (30), duas missas de corpo presente foram celebradas e mais de 8.000 pessoas passaram pela capital federal, de desconhecidos a familiares e amigos no Palácio do Planalto, para prestar as últimas homenagens a Alencar.

Muitas das autoridades que estarão no velório mineiro já prestaram homenagens a Alencar no Palácio do Planalto, onde o corpo foi velado ao longo de toda a quarta-feira, depois de deixar São Paulo – o ex-vice-presidente morreu na terça-feira (29), no hospital Sírio-Libanês, após longa batalha contra o câncer.

Além da família, devem se deslocar para a capital mineira parentes espalhados pelas cidades interioranas de Ubá, Montes Claros e Muriaé.

Funcionários da Coteminas, empresa têxtil que deu a Alencar sua fortuna e que hoje é administrada pelo filho Josué, também devem comparecer. Milhares de pessoas devem passar pelo Palácio da Liberdade para render homenagens.

A família do ex-vice-presidente tem residência na capital do Estado, mas a viúva, Mariza Gomes da Silva, passou a maior parte dos últimos anos dividida entre Brasília e São Paulo, onde o marido se tratava.

Quarta-feira de honrarias

O Palácio do Planalto, na capital federal, recebeu o primeiro velório desde a morte de Tancredo Neves (1910-1985). O corpo de Alencar foi velado com honras de chefe de Estado – durante as viagens de Lula ele governou por mais de 500 dias e assinou mais de 2.000 decretos presidenciais. A concessão foi feita por Dilma, que antecipou retorno da viagem a Portugal, onde teve reuniões bilaterais e onde Lula recebeu título de doutor honoris causa pela Universidade de Coimbra.

A primeira missa em homenagem ao ex-vice-presidente foi rezada no Salão Nobre pelo representante do Vaticano no Brasil, o núncio apostólico dom Lorenzo Baldissieri. A segunda, com a presença da presidente e de seu antecessor, teve como condutor o secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Dimas Lara Barbosa. Ministros e ex-ministros estiveram presentes nas duas cerimônias religiosas, a pedido de Dilma.

Foram eles que acabaram consolando Lula, que chorou várias vezes, beijou a testa de Alencar e conversou bastante com Josué. Em seu único momento de descontração na noite, ao lado do caixão, o ex-presidente fez à viúva um gesto com o polegar como se estivesse bebendo. O governo transformou o ex-sindicalista e o empresário em grandes amigos, que gostavam de compartilhar doses de cachaça mineira.

Dilma prestou homenagens de forma mais sóbria ao amigo e trocou apenas algumas palavras com a viúva, a quem abraçou no fim da celebração. Ela também consolou a ex-primeira-dama, Marisa Letícia. Mais ouviu do que falou. Sorriu quando Lula fez o gesto com o polegar. E o tocou depois que ele voltou a chorar.

Na missa, dom Dimas Lara Barbosa classificou Alencar de “guerreiro vitorioso”. Ele disse ainda que por conta da doença, detectada pela primeira vez em 1997, “nosso irmão já estava preparado” para o fim da vida.

Das 8.000 que pessoas passaram pelo funeral em Brasília, uma delas furou a segurança e se aproximou do caixão: a ex-servidora do Palácio do Planalto Marlene Celestino de Araújo colocou um terço nas mãos dele. Depois, abraçou a viúva. A maioria das pessoas mostrava resignação pelo ex-vice, que lutava contra a doença há mais de 13 anos. Mas também havia lágrimas.

Biografia

Mineiro de Muriaé, na Zona da Mata mineira, Alencar é uma figura ilustre no Estado e, por isso, o governo espera um grande número de admiradores para o último adeus na quinta-feira. Antes de se tornar vice-presidente de Lula, foi candidato derrotado ao governo estadual em 1994. Quatro anos depois, elegeu-se senador com 2,9 milhões de votos.

Filho de um pequeno comerciante de um vilarejo mineiro, José Alencar Gomes da Silva começou a trabalhar cedo e deixou a família quando tinha 14 anos para empregar-se numa loja na sede do município de Muriaé. Em 1947, atrás de um emprego melhor, mudou-se para Caratinga, cidade onde conheceu Mariza.

Aos 18 anos, foi emancipado pelo pai (na época, a maioridade civil ocorria aos 21 anos) e, com apoio financeiro de um irmão, abriu uma loja na cidade – “A Queimadeira”. Hoje, a Coteminas S.A., controlada pela família de Alencar, é a maior empresa do setor têxtil do país e um dos mais importantes grupos econômicos do Brasil.

Em 2002, disputado pelos candidatos à Presidência da República, optou pela aliança com o PT de Lula. Na época, era membro do PL, partido ao qual aderiu depois de perder espaço no PMDB. Em 2006, foi reeleito vice-presidente, desta vez pelo PRB – que dará o seu nome à fundação do partido. Em 2004, ele também ocupou o Ministério da Defesa, em caráter emergencial. A doença o impediu de disputar qualquer cargo em 2010.

Ainda assim, fez campanha por Dilma, que venceu as eleições com grande ajuda dos mineiros. Dificuldades pós-operatórias o impediram de descer a rampa do Palácio do Planalto ao lado de Lula no dia 1º de janeiro de 2011. Alencar lutava contra um câncer na região abdominal há 13 anos e chegou a fazer 17 cirurgias durante o tratamento contra a doença.

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