Topo

Ex-tucano, Walter Feldman dispara contra grupo de Alckmin e diz que PSDB se prendeu ao poder

Guilherme Balza

Do UOL Notícias <BR> Em São Paulo

25/04/2011 18h47Atualizada em 25/04/2011 20h07

Fundador do PSDB e uma das principais lideranças históricas do partido em São Paulo, Walter Feldman, atual secretário municipal de Esporte e Lazer, anunciou nesta segunda-feira (25) sua saída da legenda tucana.

Na semana passada, seis vereadores também abandonaram a legenda após o secretário de Gestão Pública, Júlio Semeghini, ter sido eleito para a presidência do diretório municipal do partido. Os vereadores, que chegaram a pleitear a presidência, reivindicaram a secretaria-geral do diretório, mas também não foram atendidos pelo grupo de Geraldo Alckmin.

Em entrevista ao UOL Notícias, Feldman afirmou que deixou o PSDB em solidariedade aos vereadores e porque o partido se desviou de seus objetivos originais, delimitando sua atuação à disputa pelo poder. O secretário fez diversas críticas ao governador Geraldo Alckmin e seus aliados e prometeu que não irá se filiar ao recém-criado PSD (Partido Social Democrático), do aliado Gilberto Kassab.

UOL Notícias - O senhor afirmou que deixou o PSDB porque o partido está se desviando do seu caminho. O que quis dizer com isso?
Walter Feldman -
Eu disse o que já foi intensamente manifestado pelo Fernando Henrique Cardoso. O PSDB hoje é incapaz de se constituir como partido de oposição, de se renovar e de compreender a derrota eleitoral. O PSDB hoje está preso a um projeto de poder, precisa retomar seus rumos e refazer suas práticas orgânicas. Um partido parlamentarista, como o PSDB, jamais pode desconsiderar o papel dos seus parlamentares. Cinco secretários que sequer tem inserção e não sabem nada da capital não podem querer comandar o partido.

UOL Notícias - O que houve exatamente no diretório municipal do PSDB?
Feldman - Os cinco secretários interferiram na escolha do diretório municipal (eleito no início deste ano), desrespeitando o trabalho dos parlamentares. Eles não têm autoridade para isso, não sabem nada da capital para quererem comandar o partido.

UOL Notícias - Quem são os cinco secretários a que o senhor se refere?
Feldman - José Aníbal (Energia), Júlio Semeghini (Gestão Pública), Edson Aparecido (Desenvolvimento Metropolitano), Silvio Torres (Habitação) e Sidney Beraldo (Casa Civil).

UOL Notícias - Acredita que o governador Geraldo Alckmin tem alguma influência nesse episódio?
Feldman - Se ele permitiu que cinco secretários atuassem com total liberdade, no mínimo o governador foi omisso. Em 2000, eu era forte candidato à prefeito, mas abri a candidatura para o Geraldo, que tinha a metade das intenções de voto. Em 2004*, eu disse a ele: ‘agora é a minha vez’, mas ele me respondeu: ‘eu quero o Saulo [de Castro Abreu Filho, então secretário de Segurança Pública]’. Eu argumentei, dizendo que o Saulo mexe com armas e bandidos, o que não é bandeira do PSDB. Disse também que o Saulo não existia antes do Alckmin e nem existiria depois, mas ele respondeu: “eu sou governador e eu comando”. O que fizeram agora é muito semelhante. Isso não é o PSDB.

[*em 2004, José Serra acabou sendo escolhido pelo PSDB para disputar a prefeitura de São Paulo]

UOL Notícias - A derrota do PSDB nas últimas eleições presidenciais foi o elemento que detonou de vez a crise no partido?
Feldman - Não. O que detona essa situação é o comportamento grave desse grupo que cerca o governo do Estado, que trata a decisão de parte dos vereadores do PSDB [que apoiaram Gilberto Kassab nas eleições municipais de 2008] como traição ao partido, quando na verdade foi uma opção política para questionar a vontade pessoal de Alckmin em ser candidato. O desejo pessoal dele se sobrepôs à política partidária e quebrou a aliança PSDB-DEM. Isso, de não conseguir estar longe do poder, vai contra a linha doutrinária do partido, defendida por Franco Montoro e Mário Covas.

UOL Notícias - O senhor acredita que a interferência dos secretários no diretório municipal foi uma retaliação aos vereadores que apoiaram Kassab?
Feldman - Mais do que uma retaliação, é um trabalho de cerco e aniquilamento, de provocar a saída deles do partido. Agora os vereadores estão ameaçados de não terem mais legendas. O patrimônio maior do PSDB na capital, que são seus vereadores, já foi destruído.

UOL Notícias - O PSDB vive a pior crise em sua história?
Feldmann - Sim, e é melhor aprofundá-la, do que escondê-la.

UOL Notícias - Há saída?
Feldman - Seguir FHC em sua posição intelectual. E os que estão no poder precisam ser mais humildes, compreenderam que não são os donos da bola.

UOL Notícias - Como José Serra está acompanhando isso tudo?
Feldman - Com muita tristeza, como eu. Eu tive que me segurar para não chorar. Serra foi generoso com o Geraldo. O tirou do ostracismo e o recolocou na vida pública como secretário. O mínimo que ele (Alckmin) deveria ter feito era ter sido generoso e não ter tratado os vereadores dessa maneira.

UOL Notícias - O senhor pretende ingressar em outro partido?
Feldman - Não, a manifestação de hoje não tem nada a ver com a ida a outro partido, como faz um [Gabriel] Chalita (deputado federal que recentemente deixou o PSB para ingressar no PMDB), que faz isso por conta de um projeto pessoal. A minha manifestação é política, doutrinária, e não pode ser confundida com a criação do PSD.

UOL Notícias - Mas o senhor descarta uma futura filiação ao PSD?
Feldman - Eu diria que eu tenho uma formação ideológica. Por dez anos foi do PCdoB, sou da luta popular, comunitária. Eu preciso de componentes ideológicos para ingressar em um partido. Estou na política por ideias.

Outro lado

O governador Geraldo Alckmin afirmou desejar que Feldman "seja feliz no seu novo partido" e "possa se realizar". "Eu desejo a ele que ele seja feliz, se realize no seu novo partido. Enfim, não temos nada contra, nós respeitamos as decisões de cada um."

Já a assessoria de Saulo de Castro disse que ele não comentará as declarações de Feldman. A reportagem aguarda respostas das assessorias de Edson Aparecido e Silvio Torres e não conseguiu localizar José Aníbal, Sidney Beraldo e Júlio Semeghini para comentar a entrevista.