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Assessor de deputado pagou com propina apartamento de prefeito de Taubaté (SP), diz testemunha-chave do MP

Bruno Monteiro<BR>Especial para o UOL Notícias<BR>Em Taubaté

23/06/2011 16h51

O ex-chefe de gabinete da Prefeitura de Taubaté (SP) e testemunha-chave do Ministério Público e da Polícia Federal na investigação do esquema de corrupção no município, Fernando Gigli, declarou em depoimento à Promotoria Pública que pessoas ligadas ao deputado estadual e pré-candidato a prefeito, Padre Afonso Lobato (PV), intermediaram e fizeram o pagamento da compra de um apartamento em Ubatuba para a família do atual prefeito com dinheiro de propina.

O chefe do Executivo municipal, Roberto Peixoto (PMDB), e a primeira-dama da cidade, Luciana Peixoto, estão presos na sede da PF. Eles são acusados de envolvimento em fraudes a licitações para a compra, gerenciamento e distribuição de medicamentos e merenda escolar por meio de empresa registrada em nome de laranjas.

A denúncia que levou à investigação, iniciada em 2009, partiu de Gigli, que chegou a ser ameaçado de morte.Segundo ele afirmou em depoimento feito em 11 de maio de 2009 –ao qual o UOL Notícias teve acesso–, o responsável pelo pagamento do corretor de imóveis que vendeu o apartamento à família Peixoto era Rodrigo Duque Andrade, que é chefe de gabinete e braço direito de Lobato há muitos anos.

Quem comprou primeiramente o apartamento foi Gladson Dutra Costa, que era casado com Andreia Dutra Costa –que também trabalha para o deputado Padre Afonso Lobato e hoje é casada com Rodrigo Duque Andrade.

Como funcionava o esquema

Uma ex-aliada do casal Peixoto, Zali Leite, que é a presidente do PTN de Taubaté, detalhou como foi a compra do apartamento. Ela disse que foi pessoalmente com a primeira-dama ver o apartamento nº12 do edifício Hans Staden, situado na rua Hans Staden, 780.

“Fomos no dia 4 de abril de 2005, porque ela queria dar o apartamento de presente ao prefeito, que faz aniversário em 6 de abril”, relata. “Chamou a atenção do corretor o dinheiro vivo. Ele me ligou e disse que uma pessoa de nome Oswaldo ligava pra ele, marcava [um encontro] na praça de Santa Terezinha [uma das principais da cidade], chegava em um carro preto, parava, jogava uma bolsa com dinheiro e ia embora.” A testemunha diz não saber quem seria o homem identificado como Oswaldo.

Já Fernando Gigli, ainda em seu depoimento, esclarece quem seria Oswaldo: “O apartamento foi adquirido em nome de pessoas ligadas ao Padre Afonso. Ocorre que, posteriormente, o padre e o prefeito romperam relações. Como o prefeito não possuía nenhuma prova de que havia adquirido o apartamento, e temendo que as desavenças políticas pusessem o negócio em risco, pediu ao declarante (Fernando Gigli) que entrasse em contato com Rodrigo, a fim de providenciar que o contrato de gaveta fosse transferido para o nome de Felipe, filho dele. Rodrigo havia sido o responsável pelo pagamento do preço cobrado pelo apartamento, se apresentando ao vendedor ou à imobiliária como sendo ‘Oswaldo’”.

De acordo com o ex-chefe de gabinete, o apartamento custou R$ 120 mil. Os recursos para a aquisição do imóvel eram oriundos de pagamento de propina pelas empresas Sistal e Home Care, segundo Gigli.

“[As empesas] prestavam serviços à prefeitura municipal, sendo certo que Rodrigo [atual chefe de gabinete do deputado Padre Afonso] era o responsável por arrecadar as quantias. A contrapartida para as empresas era na manutenção e na renovação dos contratos com a prefeitura”, completou Gigli.

Outro lado

Presos na última terça-feira (21), o prefeito e a primeira-dama negam qualquer relação com o esquema instaurado na prefeitura.

Já o deputado estadual Padre Afonso Lobato diz desconhecer a história relatada por Gigli. Procurado pela reportagem, ele afirmou que, se alguém tem que responder às denúncias, é Rodrigo, seu chefe de gabinete, e as outras pessoas citadas. Ainda segundo Lobato, se ficarem comprovadas as irregularidades, todos serão exonerados.

O UOL Notícias tentou, por diversas vezes, entrar em contato com Rodrigo Duque Andrade e sua mulher, Andreia Dutra Costa, mas durante todo o dia o celular permaneceu desligado.   

As empresas Home Care e Sistal também foram procuradas pela reportagem, mas ninguém respondeu às ligações. Gladson Dutra Costa não retornou as ligações.