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Secretário-executivo assume como interino no Esporte, confirma Planalto

Camila Campanerut e Maurício Savarese<br>Do UOL Notícias

Em Brasília

26/10/2011 19h57Atualizada em 26/10/2011 20h15

O secretário-executivo do ministério do Esporte, Waldemar Manoel Silva de Souza, assume a pasta interinamento após a queda de Orlando Silva. A informação foi confirmada pelo Palácio do Planalto na noite desta quarta-feira (26). Souza faz parte da direção estadual do PCdoB no Rio de Janeiro.

Entenda o caso e veja perfil do ex-ministro

Mais cedo, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, afirmou que a "tendência" é que a pasta fique com o PCdoB, sigla que comanda o ministério desde a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.

Orlando Silva deixou o cargo após mais de uma semana de acusações de desvio de verba em sua pasta. Silva foi acusado de participar de um esquema de desvio de recursos do programa Segundo Tempo, que dá verba a ONGs para incentivar jovens a praticar esportes.

"Me sinto vivendo um linchamento público sem provas. Há 12 dias sofro um ataque baixo, de agressão vil, baseada em mentiras. Nenhuma prova surgiu, nem surgirá", afirmou Silva após a decisão. “Conversamos e o resultado da conversa é que a melhor solução seria eu me afastar do governo. Eu decidi sair do governo para que possa defender minha honra", completou.

Após a fala de Silva, o presidente nacional da legenda, Renato Rebelo, afirmou que a presidente Dilma deve decidir o novo ministro em breve. A legenda tenta emplacar a indicação do deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

Entenda a crise no Esporte

A situação do agora ex-ministro piorou depois que, na terça-feira (25), a ministra do STF (Supremo Tribunal Federal) Cármen Lúcia aceitou pedido do Ministério Público para a abertura de inquérito para investigar as supostas irregularidades. O pedido de abertura de inquérito foi feito na sexta-feira (21) pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

Ontem, Silva participou durante quatro horas de uma audiência pública sobre a Lei Geral da Copa, na Câmara dos Deputados. O ministro, porém, não respondeu às criticas de oposicionistas que pediam sua demissão. Foi a terceira vez que Silva esteve no Congresso sendo questionado sobre as acusações.

Ele é o sexto ministro a cair em dez meses do governo Dilma, depois de Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Nelson Jobim (Defesa), Wagner Rossi (Agricultura) e Pedro Novais (Turismo). Com exceção de Jobim, que criticou publicamente o governo diversas vezes, todos os titulares deixam o cargo após acusações de corrupção.

Sob o domínio do PCdoB desde a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder, o Ministério do Esporte permitiu a ascensão política de Orlando Silva –ocupante de diversas secretarias até assumir o cargo de titular da pasta, em 2006. Com o governo Dilma Rousseff, no entanto, o comunista e ex-líder estudantil só perdeu espaço até ser substituído em meio a acusações de desvio de recursos públicos para caixa dois eleitoral.

Silva precisou do aval direto de Lula para se manter no cargo. Dilma cogitou trocá-lo durante a transição do governo. Preferia a deputada federal Luciana Santos (PCdoB-PE), ex-prefeita de Olinda. Pesavam a favor do ministro o trânsito com dirigentes esportivos e a participação dele nas vitórias para o recebimento da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Dilma acabou demovida da ideia de afastar Silva, também por pressão do PCdoB, mas tirou poderes do ministro com a criação da APO (Autoridade Pública Olímpica), responsável pelos Jogos Olímpicos de 2016. Em seu último mês no cargo, Silva passou a evitar entrevistas e começou a dar declarações públicas cada vez mais protocolares. Até surgirem denúncias contra ele.

A presidente também deu ao comunista o papel de anteparo junto a dirigentes polêmicos, como os titulares da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira, e da Fifa, Joseph Blatter. A relação se deteriorou rapidamente. Enquanto o destino de Silva era selado em Brasília, Blatter já falava na expectativa de ter um “novo interlocutor” no governo brasileiro.

Não eram esses os planos do ministro que ajudou a organizar, já nos estágios finais, o Pan-Americano de 2007 –uma espécie de preparatório para a candidatura olímpica. Antes consultado com frequência, Silva teve de lutar para evitar que Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central e titular da APO, tirasse dele também as atribuições sobre a Copa do Mundo de 2014.

*Com informações da Redação do UOL Notícias, em São Paulo

ANÁLISE DOS BLOGUEIROS DO UOL ESPORTE

JUCA KFOURI: "Alguma coisa aconteceu para que se fale num interino para assumir o ministério". Leia o comentário completo.
JOSÉ CRUZ: "Brasil precisa de um novo modelo de Ministério do Esporte". Leia o comentário completo.
PERRONE: "Craque em articulações, ministro sai acusado de traição por São Paulo e CBF". Leia o comentário completo.