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Após declarar amor a Dilma, Lupi diz que demissão de Orlando Silva foi "grande injustiça"

Maurício Savarese

Do UOL Notícias <BR> Em Brasília

10/11/2011 14h23

Depois de 4h de depoimento à Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), afirmou nessa quinta-feira (10) que a demissão do ex-ministro dos Esportes, Orlando Silva (PCdoB), foi uma "grande injustiça".

Questionado por jornalistas sobre se poderia deixar o cargo assim como Silva, que se demitiu no mês passado em circunstâncias parecidas, Lupi respondeu: “eu acho que se cometeu uma grande injustiça. Mas garanto que vou até o fim pela verdade.”

Lupi afirmou ainda que não espera ser o próximo membro do primeiro escalão do governo Dilma Rousseff --a quem, mais cedo, o ministro disse amar-- a deixar o cargo após denuncias. Ele disse que nenhuma das denúncias anônimas publicadas pela revista “Veja” o liga a um suposto esquema de cobrança de propina para financiamento eleitoral do PDT.

Durante a reunião da comissão, o pedetista condenou o que chamou de “bolsa de apostas” sobre qual ministro do governo seria o próximo a cair. Já deixaram o cargo, por suspeita de corrupção, Antonio Palocci (Casa Civil), Wagner Rossi (Agricultura), Alfredo Nascimento (Transportes) e Pedro Novais (Turismo).

Silva, recém-substituído por Aldo Rebelo, perdeu o emprego após o acúmulo de acusações de corrupção em convênios com ONGs firmados pelo Ministério do Esporte.

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Amor a Dilma

No começo da tarde, o ministro pediu desculpas à presidente Dilma Rousseff pela "forma exagerada" como se expressa para se defender e afirmou que a ama.

“Presidente Dilma, me desculpe se eu fui agressivo. Dilma, eu te amo”, disse Lupi nesta quinta-feira (10) na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados.

Lupi afirmou também que tem uma relação de mais de 30 anos com a presidente e que seu partido --ao qual Dilma foi filiada-- apoiou sua candidatura antes mesmo que o PT.

Lupi se desculpou por declarações controversas como a que de só deixaria o cargo “a bala”. “Peço desculpas à opinião pública porque fica a imagem de que a gente é um doido.”

O ministro também declarou que querem tirá-lo da pasta desde 2007, quando assumiu o posto. “Desde que cheguei ao ministério querem me derrubar. São mais de 200 dando tiro na gente”, afirmou. “Mas ninguém atinge um soldado se não for para acertar o general”, disse referindo-se a Dilma.

Questionado pelo deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) sobre se deixaria o cargo para cuidar de sua defesa, Lupi respondeu: “Não tem título mais importante para mim do que o da lealdade”.

“Estou numa tranquilidade...não fizemos nada de errado”. Lupi disse ainda que seu estilo extrovertido não compromete a seriedade de sua gestão. “É que eu sou atirado, sou italianão.”

O ministro se colocou à disposição dos partidos oposicionistas para prestar informações e novos esclarecimentos. “Eu gosto do embate, gosto do debate”.

Presidente licenciado do PDT, o ministro disse que nunca fez “esquema para financiamento político de quem quer que seja”.

O ministro descredenciou as denúncias da revista “Veja” de que funcionários do ministério teriam cobrado propina para firmar convênios com ONGs. “Um denunciante anônimo denunciou em nome de uma instituição que não recebeu nada. Como é que vão pagar [propina] por aquilo que não receberam”, disse .

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"Fritura" e ódio

Vários deputados que questionaram o ministro afirmaram que é interesse do governo derrubá-lo.

“Vossa excelência ainda não entende o que está acontecendo. Esse é um processo de fritura”, disse Anthony Garotinho (PR-RJ), que teve Lupi como secretário no governo do Rio de Janeiro.

Para Vaz de Lima (PSDB-SP), “as denúncias não vieram da imprensa, nem da oposição; é fogo amigo”. O pedetista evitou responder a essas afirmações. Disse apenas que existe “uma onda de denuncismo”.

Lupi se colocou à disposição dos parlamentares para ir ao Congresso Nacional e até mesmo à revista “Veja” para explicar que nem ele nem o partido tem relação com as acusações.

Já no fim do encontro, Lupi e o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), subiram o tom das críticas. O tucano afirmou que quer o pedetista fora do governo e que vários membros do governo Dilma “escondem sua incompetência atrás da força da nossa economia”. Ele disse ainda que a pasta do Trabalho não é responsável pelo aumento do número de empregos na última década.

Lupi respondeu com ironias. “Eu vejo muito ódio nos comentários do deputado. Eu entendo a situação da oposição. O governo tem 80% de aprovação, criou mais de 17 milhões de empregos. A herança que o presidente Lula deixou é bendita”, declarou o ministro.

Duarte Nogueira replicou insistindo na saída de Lupi. “Espero que o senhor consiga se desvencilhar. Senão, vai haver uma sessão espírita no ministério sem o senhor”, afirmou o tucano. Irritado, Lupi, que é kardecista, apontou o dedo indicador para Duarte e esbravejou: “Respeite a religião dos outros”.

Estratégia

Ele repete a estratégia utilizada pelos ex-ministros Wagner Rossi (Agricultura), Pedro Novais (Turismo) e Orlando Silva (Esporte). Os três foram à Câmara e ao Senado antes de entregar a carta de demissão à presidente Dilma Rousseff.

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Os outros três ministros que caíram neste anos adotaram táticas diferentes para prestar esclarecimentos ao público sobre as denúncias que sofreram: Antonio Palocci (Casa Civil) concedeu entrevista exclusiva à Rede Globo; Nelson Jobim (ex-Defesa), que saiu por criticar o governo, não falou e Alfredo Nascimento (Transportes) só falou no Senado depois de sair do posto ao voltar a exercer seu cargo de senador, já que estava licenciado para assumir o ministério.

Ao lado de Lupi, o líder do PDT na Câmara dos Deputados, Giovanni Queiroz (PDT-PA), afirmou ontem que se o ministro for afastado do cargo, a legenda deixará o governo federal. 

“O ministro Lupi não tem substituto. Se sair o ministro Lupi, sai o PDT do governo”, disse em entrevista coletiva ao lado ministro.  “Não é uma ameaça. Não temos o que ameaçar. O partido não vê a queda do Lupi por corrupção. Por isso, não há razão nenhuma para ele ser pressionado pelo partido”, completou.

*Com reportagem adicional de Camila Campanerut