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Citado na Lava Jato, Eunício discursa no Senado por "luta contra corrupção"

1.fev.2017 - Senador José Medeiros (PSD-MT), candidato à presidência do Senado, discursa aos colegas no plenário - Andressa Anholete/AFP - Andressa Anholete/AFP
Senador José Medeiros (PSD-MT), candidato à presidência do Senado, discursa aos colegas no plenário
Imagem: Andressa Anholete/AFP

Janaina Garcia

Do UOL, em São paulo

01/02/2017 19h09Atualizada em 01/02/2017 20h47

Citado em delações premiadas da Operação Lava Jato, o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) fez o último discurso antes da eleição para a presidência do Senado nesta quarta-feira (1º) com a promessa de garantir “transparência” e “luta contra a corrupção” caso seja escolhido para o cargo. O mandato tem duração de dois anos. Nome apoiado pelo governo do presidente Michel Temer (PMDB), Oliveira disputa o posto com José Medeiros (PSD-MT).

“É necessário fazer com que o Senado Federal não perca essa corrente contemporânea da luta contra a corrupção neste país. Temos que assumir o funcionamento do Estado democrático de direito”, afirmou.

Nome também da maior bancada no Senado, Oliveira enalteceu o Congresso ao defender que “não há, no Brasil, poder mais transparente que esta Casa e o Congresso nacional” e citou entre os “grandes nomes” que já o presidiram os de José Sarney (PMDB-MA), Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Renan Calheiros (PMDB-AL) –a quem destacou como autor de medidas que ajudaram a modernizar a administração do Senado e a “dotar a Casa de um potente conjunto de ferramentas que nos permite exercer e ampliar a transparência que desejamos”.

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O peemedebista admitiu ser o candidato da maioria dos senadores, mas disse reconhecer “o direito das minorias” como uma das bases para a harmonia na casa. “A minoria de hoje pode ser a maioria de amanhã, e a alternância é salutar em uma democracia”, declarou, ele que prometeu, ainda, “democratizar a distribuição das relatorias” entre os senadores, mas em comissões já estabelecidas. “As comissões especiais não podem ser rotina nesta casa”, avisou.

Oliveira ainda destacou a crise política e econômica que o país atravessa, defendeu que o desafio do Congresso e do Estado, nesse sentido, “exige liderança, maturidade, firmeza, diálogo e desprendimento” e pediu: “A hora é de unir, e não de dividir; é hora de retomar a confiança da sociedade no nosso Parlamento”, definiu, para completar: “O caminho que me traz até aqui é o da tradição – com três mandatos de deputado federal, ministro das comunicações e seis anos de convivência harmoniosa nessa Casa, onde aprendemos mais a ouvir que a falar”.

"Campanha não é MMA", diz Medeiros

Adversário de Oliveira na eleição para a presidência, José Medeiros (PSD-MT) classificou a eleição da presidência como momento de se começar a “decidir como pretendemos concretizar os sonhos do povo brasileiro” e destacou que, no momento atual da política brasileira, é hora de “restauração econômica do País, de superação das sucessivas turbulências políticas, e um tempo de recuperarmos o equilíbrio das relações entre a União, Estados e municípios.”

“Ainda que a tradição da Casa tenha se acostumado a referendar o nome indicado pela maior bancada, devemos nos perguntar se a escolha do chefe do poder legislativo há de ser realmente um ato de simples protocolo, um mero bater de carimbo da instituição Senado Federal para uma escolha feita pelo partido majoritário. Devemos nos perguntar se realmente queremos fazer desta sessão apenas uma cerimônia de recepção do nosso presidente”, sugeriu.

Medeiros citou os protestos que se levantaram pelo país em junho de 2013 –muitos, na ocasião, contra o reajuste das tarifas de transporte coletivo –como marco do que classificou como “uma nova era na política em nosso País” e defendeu que “os pilares da ética, na política, foram alçados ao nível da exigência da população brasileira”.

Dirigindo-se ao adversário, o matogrossense afirmou que a própria candidatura partiu de “uma construção saudável”, mas que não era “nada contra” Oliveira. “Na verdade, havia um bloco de senadores que queria que o PMDB pudesse ter duas candidaturas e não era nada contra o senador Eunício, mas sim que queria – esse bloco de senadores – que o Senado pudesse apresentar duas opções”, declarou.

“É preciso dizer, senador Eunício, que a minha campanha não significa uma ofensiva raivosa ou desmedida destinada a causar fraturas, distensões ou divisionismos no Senado Federal”, reforçou, afirmando que a disputa entre eles “não seria uma luta de MMA”, mas, “no máximo, uma luta de esgrima”.

Citado na Lava Jato

Oliveira chega ao comando do Senado com seu nome citado na Operação Lava Jato.

Em acordo de delação premiada, o ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho disse que a construtora pagou R$ 7 milhões a parlamentares para garantir a aprovação de uma medida provisória de interesse da companhia no Congresso. Um deles seria o peemedebista.

Nas planilhas de pagamento de propina, Oliveira é identificado como "Índio". O novo presidente do Senado disse, na época da divulgação das delações, que "jamais recebeu recursos para a aprovação de projetos ou apresentação de emendas legislativas".

Em entrevista à Folha, Eunício se defendeu e disse que, “no despero”, delatores inventam estórias.

“As pessoas, numa hora dessas de desespero, falam e ninguém pode impedir [...] As pessoas criam, inventam e até mentem para obter o benefício da delação”, afirmou. O senador disse também estar tranquilo em relação às citações ao seu nome ao longo da Operação Lava Jato. “Não sou investigado. Sei o que fiz e o que não fiz. Tenho tranquilidade em relação a qualquer citação”, disse.