Paes e Pedro Paulo agiram juntos por R$ 18,3 milhões em caixa 2, dizem delatores
Executivos da Odebrecht revelaram em delação premiada à força-tarefa da Lava Jato que o ex-prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes e o deputado federal Pedro Paulo (PMDB-RJ) agiram juntos por caixa 2. Delatores contaram ao Ministério Público Federal terem doado a eles, via caixa dois, mais de R$ 18,3 milhões nas eleições de 2010, 2012 e 2014. O ministro Edson Fachin autorizou abertura de inquérito no âmbito do STF (Supremo Tribunal Federal).
Paes é padrinho político de Pedro Paulo, que foi derrotado para sucedê-lo na Prefeitura do Rio de Janeiro no ano passado. Já o deputado do PMDB foi coordenador da campanha de reeleição do ex-prefeito e secretário Executivo do governo de Paes.
Segundo os delatores Benedicto Barbosa da Silva Júnior, ex-executivo da empresa, e Leandro Andrade Azevedo, diretor de Contratos, Paes agiu como um "facilitador" das doações ilegais, enquanto Pedro Paulo "participou diretamente dos ajustes e da operacionalização das entregas".
Os depoimentos apontam que, em 2010, Pedro Paulo pediu e recebeu para sua campanha de deputado federal cerca de R$ 3 milhões. O então prefeito Eduardo Paes teria procurado Benedicto Júnior para a realização dos repasses.
Na contabilidade paralela da Odebrecht, segundo informações que constam na petição de inquérito do MPF ao ministro do Fachin, há várias menções ao pagamento de propina a Nervosinho, codinome de Paes.
Em 2012, ano em que Paes se reelegeu, os executivos dizem ter pago mais de R$ 15 milhões via caixa dois. Segundo eles, a Odebrecht tinha interesse na "facilitação de contratos relativos às Olimpíadas de 2016".
"O prefeito Eduardo Paes pediu para que o seu coordenador de campanha, Pedro Paulo, fosse procurado para operacionalizar os pagamentos; os pagamentos foram feitos em espécie, conforme determinação de Pedro Paulo, entregues nos escritórios da agência Prole; houve repasses de mais de R$ 11 milhões no Brasil e de R$ 5 milhões no exterior", segundo relatos de Benedicto Júnior.
Fachin ainda determinou abertura de inquérito no âmbito da Justiça Federal do Rio para apurar a suspeita de caixa dois na campanha de Paes de 2012.
Segundo Leandro Azevedo, os pagamentos foram fundamentais para que a Odebrecht tivesse acesso privilegiado a Paes. Ele disse ainda que, em reunião no Palácio da Cidade, residência oficial do prefeito, Pedro Paulo orientou "a fazer transferências no exterior e pagamentos pontuais em endereços diversos". Foi anexado ao pedido de inquérito e-mail que aponta transferência internacional direcionadas a Nervosinho em banco de Portugal.
A delação também aponta que, em 2014, Pedro Paulo recebeu R$ 300 mil do grupo Odebrecht. Na ocasião, Paes teria mais uma vez sido um dos facilitadores da transação.
Fachin também determinou abertura de inquérito para apurar denúncia de caixa 2 no valor de R$ 650 mil para a campanha de 2008 de Eduardo Paes. A intenção da Odebrecht, segundo delatores, era vencer contratos futuros na capital fluminense. O caso foi remetido à Justiça Federal do Rio de Janeiro.
Outro lado
Por meio de nota, Eduardo Paes disse que "é absurda e mentirosa a acusação de que teria recebido vantagens indevidas por obras relacionadas aos Jogos Olímpicos". Ele negou ter aceito propina para facilitar ou beneficiar os interesses da Odebrecht.
Paes também disse que nunca teve contas no exterior e que todos os recursos recebidos em sua campanha de reeleição foram devidamente declarados à Justiça Eleitoral.
A reportagem do UOL procurou a assessoria de imprensa do deputado Pedro Paulo, que, até as 12h45, não havia se manifestado sobre as denúncias.
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