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MPF investiga "rota da propina" de Geddel de olho em denúncia por corrupção e lavagem de dinheiro

Geddel Vieira Lima está em prisão domiciliar desde o dia 12 de julho - Reprodução
Geddel Vieira Lima está em prisão domiciliar desde o dia 12 de julho Imagem: Reprodução

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

24/07/2017 04h00

Procuradores do MPF (Ministério Público Federal) no Distrito Federal tentam identificar o “caminho da propina” supostamente destinada ao ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), preso em regime domiciliar em Salvador. Geddel é investigado pela suspeita de fazer parte do esquema que operava a liberação de recursos do FI-FGTS a empresas em troca de propina. As informações sobre como Geddel recebia e administrava dinheiro ilícito deverão embasar uma denúncia do MPF. A defesa de Geddel disse rechaçar "o recebimento de qualquer vantagem indevida". 

O MPF trabalha agora na apresentação da primeira denúncia contra Geddel, concentrada no crime de obstrução de Justiça. A investigação do "caminho da propina" forneceria bases para uma eventual segunda denúncia, esta com base em crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. 

Geddel Vieira Lima foi preso no dia 3 de julho em Salvador e transferido para Brasília. No último dia 12, a Justiça concedeu a ele o direito a cumprir prisão domiciliar.

Segundo os procuradores, Geddel e o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) atuavam junto a empresários para agilizar liberações de recursos do FI-FGTS em troca de propina. O FI-FGTS é um fundo de investimentos que utiliza recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e que é operado pela CEF (Caixa Econômica Federal). Geddel foi vice-presidente de Pessoa Jurídica da CEF entre 2011 e 2013.

Geddel Vieira Lima (esq.) e Eduardo Cunha (dir.) teriam participado de esquema na Caixa - Arte UOL - Arte UOL
Geddel Vieira Lima (esq.) e Eduardo Cunha (dir.) teriam participado de esquema na Caixa
Imagem: Arte UOL

As irregularidades na condução do fundo são investigadas pela Operação Greenfield, um desdobramento da Operação Lava Jato. A estimativa é que Cunha e Geddel tenham atuado na liberação de R$ 1,2 bilhão em recursos em troca de vantagens ilícitas. A dupla nega seu envolvimento no caso.

A investigação da estrutura de recebimento de propinas de Geddel é tida como importante pelo grupo que investiga as irregularidades do FI-FGTS.

O empresário Lúcio Funaro, apontado como um dos principais operadores do esquema, prestou depoimento à PF (Polícia Federal) em que diz que entregava malas de dinheiro para Geddel como parte do pagamento de propina. Ele disse ter repassado R$ 20 milhões em espécie a Geddel a título de propina por operações de crédito que ele teria ajudado a liberar. 

Os investigadores querem saber, agora, que destinação Geddel dava para o dinheiro que Funaro disse repassar ao ex-ministro. A ideia é detalhar a rede de operadores financeiros, empresas e eventuais contas bancárias que teriam sido abastecidas pela propina supostamente destinada ao ex-ministro.

Pessoas ligadas à investigação afirmam que os próximos depoimentos de Funaro à Justiça Federal e as informações que ele deverá repassar à PGR (Procuradoria-Geral da República) em seu acordo de delação premiada poderão detalhar “o caminho da propina” de Geddel, um dos ex-ministros mais próximos do presidente Michel Temer (PMDB-SP).

13.jul.2017 -  O doleiro Lucio Funaro chega em uma viatura da PF ao prédio da Justiça Federal em Brasília. Ele participa como réu no depoimento do ex-presidente da OAS Leo Pinheiro, que foi ouvido por vídeoconferência (23.jun.2017) - Pedro Ladeira/Folhapress - Pedro Ladeira/Folhapress
Funaro chega em carro da PF ao prédio da Justiça Federal, em Brasília, em junho
Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Além das informações de Funaro, os investigadores deverão cruzar dados já obtidos pela Operação Lava Jato para rastrear o dinheiro que teria sido repassado a Geddel. 

Denúncias em série

Fontes ligadas ao MPF afirmam que a estratégia, a partir de agora, é apresentar a primeira denúncia contra Geddel relacionada ao FI-FGTS. Ela deverá se concentrar no crime de obstrução de Justiça e deverá ser apresentada nos próximos 15 dias. 

Depoimentos prestados por Funaro e sua mulher, Raquel Pitta, indicam que o ex-ministro teria feito pressão junto ao casal para que o empresário não aderisse a um acordo de delação premiada. Foram esses depoimentos que serviram de base para a prisão preventiva de Geddel, ocorrida no início do mês. 

Após a apresentação desta denúncia, os procuradores deverão se concentrar em pelo menos mais uma pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Esta, sim, usaria como base as informações sobre as propinas supostamente recebidas pelo ex-ministro.

Outro lado

O advogado de Geddel Vieira Lima, Gammil Föppel, enviou uma nota negando as alegações feitas por Lúcio Funaro. A nota diz que Geddel "rechaça, enérgica e categoricamente, o recebimento de qualquer vantagem indevida por parte do senhor Lúcio Funaro ou de qualquer outra pessoa, tanto durante sua gestão na vice-presidência da Caixa Econômica Federal, quanto em qualquer outro período da sua vida". 

A nota continua afirmando que "vale ressaltar que até mesmo os alegados beneficiários de supostas operações de crédito irregulares, alegadamente realizadas pela Caixa Econômica Federal, já afirmaram reiteradas vezes não terem pago qualquer forma de propina ao senhor Geddel Vieira Lima". 

A defesa de Geddel diz ainda que o ex-ministro "não possui contas ou qualquer forma de estrutura financeira no exterior, estando todos os seus bens e rendimentos regularmente declarados perante a Receita Federal".