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Cão de guarda na CPI: Marcos Rogério, de esquerda a defensor de Bolsonaro

20.mai.2021 - O senador governista Marcos Rogério (DEM-RO) Imagem: Reprodução / Instagram

Natália Lázaro

Colaboração para o UOL, em Brasília

29/05/2021 04h00

Um dos principais integrantes da tropa de choque do governo federal na CPI da Covid, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) tem uma trajetória política tão polêmica quanto suas falas e aparições na comissão parlamentar.

Hoje próximo de Flávio Bolsonaro (sem partido) e defensor intransigente do Palácio do Planalto, ele foi uma liderança de esquerda quando exercia o cargo de deputado federal.

Seu nome ficou ainda mais em evidência após protagonizar ontem uma discussão com Natuza Nery, comentarista da Globo News. O senador interrompeu uma fala da jornalista para defender Jair Bolsonaro. Em resposta, Natuza disse que ele "não vai fazer o que faz na CPI", ao se referir ao episódio com a senadora Leila. "O senhor vai me deixar concluir ou vai fazer comigo o que faz com as senadoras mulheres na CPI."

Marcos Rogério foi criticado por interromper a fala da jornalista Natura Nery Imagem: Reprodução / Internet

Passagem pelo PDT

Conhecido como o "cão de guarda" do Palácio, o atual líder do DEM no Senado foi filiado ao PDT, de 2007 a 2016, partido fundado pelo ex-governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola. Em dois mandatos na Câmara, foi vice-líder do partido.

Já naquela época, Marcos Rogério atuava em favor de pautas conservadoras e votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em abril de 2016. Foi relator do processo no Conselho de Ética contra o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. Na ocasião, a nomeação de Rogério foi vista como uma estratégia dos aliados de Cunha para amenizar as críticas ao investigado.

Neste contexto de aproximação de Marcos Rogério com o Centrão, uma discussão entre o político e seu mentor, o senador Acir Gurgacz (PDT-RO), motivou a saída do parlamentar do PDT. Marcos Rogério se filiou ao DEM.

Em paralelo, um consultor no Congresso relatou ao UOL que, a partir de 2016, houve um movimento de parlamentares que observaram a ascensão de Jair Bolsonaro, então deputado, e começaram a se aproximar daquele que viria a ser presidente.

Fez amizade com os filhos do presidente buscando uma aproximação com o pai, fato que ocorreu anos depois. Marcos Rogério e Jair Bolsonaro foram apresentados por meio de Flávio.

Marcos Rogério na CPI da Covid: a favor de Bolsonaro, contra os governadores Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

Marcos Rogério: "um oferecido"

Entre os congressistas, porém, Marcos é visto como "oferecido", no que diz respeito à aproximação gratuita para fortalecimento dos seus interesses, independente das pautas ou legendas. Ele leva a fama de um "bom negociador", que troca emendas e favores políticos por ascensão na vida pública.

Atualmente, o integrante da "tropa de choque" do governo na CPI tem radicalizado o discurso para se firmar como um dos principais nomes governistas na comissão. Há quem especule que Marcos Rogério tenta se aproximar do governo federal para tentar conseguir o apoio de Jair Bolsonaro em uma possível candidatura ao governo de Rondônia em 2022. Como senador, o mandato do parlamentar só termina em 2027.

Contudo, Rogério ainda mantém alguns elos com a esquerda, por ser membro titular da Frente de Políticas Públicas de Juventude e da Frente Parlamentar Mista Antirracismo. No ano passado, na fase de aproximação com o governo federal, ele se juntou à Frente em Defesa da Amazônia Legal, em um movimento contrário aos interesses do Planalto.

Patrimônio dispara

Marcos Rogério é formado em direito. Antes de entrar para política, atuou como jornalista e radialista em diversos veículos de comunicação do estado.

O patrimônio de Marcos Rogério disparou nos últimos anos. Candidato a vereador da cidade de Ji-Paraná (RO) em 2008, ele declarou patrimônio de R$ 168 mil, incluindo um imóvel e um carro Fiat 2001.

Já na eleição de 2018, o patrimônio declarado atingiu R$ 1,3 milhão em bens, sendo R$ 300 mil acumulado em espécie e R$ 266 mil em uma aeronave Beechcraft, modelo Bonanza A36.

Um defensor da cloroquina na CPI

A participação de Marcos Rogério na CPI tem sido marcada por brigas com os demais integrantes, defesa do governo federal e declarações negacionistas.

As falas têm sido aplaudidas pelos demais governistas no colegiado, como Jorginho Mello (PL-SC), Ciro Nogueira (PP-PI) e Eduardo Girão (Podemos-CE), além do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).

Em uma das principais polêmicas em que se envolveu, Marcos Rogério foi tachado de machista pelas mulheres da CPI e por parcela da sociedade após interromper a senadora Leila Barros (PSB-DF), no início de maio, durante discussão na CPI. Enquanto a parlamentar argumentava, ele pediu para que ela "se acalmasse".

Outro momento que marcou a participação de Rogério na comissão foi quando exibiu um vídeo onde governadores falam sobre o uso da cloroquina. Para defender Bolsonaro, o senador levantou que o uso do medicamento não era algo isolado do Executivo federal, mas também dos governadores e prefeitos.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSB-AM), entrou na discussão e alegou que a filmagem foi feita em março do ano passado, ainda sem informações científicas sobre a ineficácia da droga.

Marcos Rogério advoga também a favor do discurso de autonomia do médico em prescrever remédios em casos de covid-19.

Na última sessão, o senador conseguiu aprovar os requerimentos de convocação dos governadores Wilson Lima (Amazonas) e Hélder Barbalho (Pará). No entanto, os procuradores dos estados planejam entrar com recurso no STF (Supremo Tribunal Federal) para impedir a ida dos políticos.

Procurado, Marcos Rogério defendeu as convocações. Disse que "estão respaldadas na Constituição" e que "não há ofensa ao artigo nº 146 do regimento interno do Senado".

Ele também afirmou que a destinação de recursos federais aos estados justifica a competência da CPI para investigar. "Está chegando a hora de seguir o caminho do dinheiro, saber o que houve", disse.

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A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.


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