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CPI: Governista apresenta vídeos de 2020 sobre cloroquina e causa bate-boca

Rayanne Albuquerque e Hanrrikson de Andrade*

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

20/05/2021 11h28Atualizada em 20/05/2021 15h09

Durante depoimento do ex-ministro Eduardo Pazuello à CPI da Covid, na manhã de hoje, o senador bolsonarista Marcos Rogério (DEM-RO) usou vídeos datados de março e abril de 2020 nos quais governadores de diferentes estados fazem comentários a respeito da prescrição de cloroquina e hidroxicloroquina como alternativa de enfrentamento à pandemia.

Em defesa do governo, Rogério exibiu o material com o intuito de afirmar que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não teria sido o único entusiasta do uso de medicamentos sem eficácia científica comprovada no tratamento da covid.

Esse é um dos pontos de maior interesse da CPI, que apura se o Executivo federal tem ou não responsabilidade pelo agravamento da pandemia.

Questionado por colegas a respeito do lapso temporal, Rogério respondeu que publicaria os vídeos posteriormente em suas redes sociais, com as respectivas datas.

Na CPI, o congressista omitiu em sua argumentação o fato de que os vídeos são antigos e, no período entre março e abril de 2020, fase inicial da pandemia, pesquisadores e cientistas em todo o mundo trabalhavam com a hipótese de que fármacos como a cloroquina e a hidroxicloroquina poderiam compor uma resposta eficiente aos sintomas da covid.

Posteriormente, no entanto, a própria ciência mostrou —até o momento— que as substâncias analisadas não eram eficazes para tratamento do coronavírus.

A narrativa começou a ser derrubada já em maio de 2020, quando pesquisadores do Hospital Raymond Poincaré, na França, pediram que fosse retirado do ar a pré-publicação de um estudo que recomendava a hidroxicloroquina e a azitromicina.

Durante o segundo semestre de 2020, enquanto governadores e outros líderes políticos acompanhavam a ciência e ponderavam que era incorreto defender esses medicamentos como uma alternativa de política pública, Bolsonaro se empenhava em divulgá-los. O presidente advoga até hoje em favor do que passou a chamar de "tratamento precoce".

A mesma opinião é compartilhada por outros membros do governo e por senadores da base de apoio na CPI.

Debate acalorado

As imagens foram exibidas durante a CPI da Covid que aconteceu na manhã de hoje no Senado. A apresentação gerou um bate-boca entre os membros do colegiado e a sessão foi suspensa por alguns minutos.

Em defesa do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e falando de forma irônica, o parlamentar disse que "se não foi o Bolsonaro que inventou o coronavírus, ele teria inventado a hidroxicloroquina e o espalhou para o mundo", porque muitos países ainda usam e usaram.

Quem está acompanhando essa CPI e não tem memória curta sabe que a narrativa aqui não está em torno do que está acontecendo nesse momento. Está apontando em que momento um documento foi produzido pelo ministério, em que momento foi solicitado um medicamento fora do país
Marcos Rogério (DEM-RO)

Para sustentar os argumentos, Rogério transmitiu imagens em o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) recomenda o uso da cloroquina, assim como o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) e outros gestores de estado.

O senador também reforçou durante sua fala que todos estão tentando incriminar o presidente Bolsonaro, que não pode se defender durante as sessões.

Em resposta a Marco Rogério, Flávio Dino disse que em razão do debate na CPI sobre o uso da Cloroquina, "é muito fácil distinguir duas condutas".

1) a de um gestor irresponsável que empurra remédios sem habilitação técnica; 2) a de um gestor que disse, no dia 10 de abril de 2020, que respeitava as orientações médicas. A 2ª atitude foi a minha
Flávio Dino, governador do Maranhão

Em defesa do Maranhão, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) disse que não iria "admitir mentiras" sobre o seu estado. A partir deste momento, o senador disse que uma "sanha vingadora" começou a surgir na CPI e disse que caso o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da Comissão, soubesse como se muda uma bula não acreditaria que o governo tentou mudá-la por decreto.

Eu não mostrei isso aqui para condenar governador, mas para escancarar a falta de bom senso e até de vergonha aqueles que tentaram criminalizar o presidente, a esse mesmo tempo, quando seus próprios governadores fizeram a recomendação do medicamento. E fizeram de forma acertada Marcos Rogério (DEM-RO)

Os medicamentos que incluem o "kit covid", de uso incentivado pelo presidente Jair Bolsonaro, não tem eficácia comprovada para combater a covid-19. Entre as medicações está a cloroquina, a ivermectina e a azitromicina.

A senadora Eliziane Gama disse que o tempo mostrou que a ciência evoluiu e que as recomendações sobre a cloroquina no início da pandemia não poderiam ser levadas em consideração a essa altura da pandemia.

Nas redes sociais, o partido Democratas também fez comentários sobre a postura do senador Marcos Rogério.

As posições do senador Marcos Rogério na CPI refletem seu pensamento como parlamentar, e não como Partido. Desde o início da pandemia, o compromisso do Democratas com a ciência e a preservação da vida se faz evidente em nossas gestões pelo Brasil
DEM

* Colaborou Ana Carla Bermúdez

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.