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Moro sobre doação de doleiro a aliado: 'Ninguém sabia quem era Youssef'

Ruben Berta

Do UOL, no Rio

29/12/2021 11h37

O ex-ministro e pré-candidato à presidência Sérgio Moro (Podemos) procurou minimizar, em entrevista dada na manhã de hoje para a Rádio Capital FM, do Mato Grosso, a doação feita pelo doleiro Alberto Youssef a um de seus principais aliados, o senador Álvaro Dias (Podemos-PR).

Reportagem da Folha de São Paulo mostrou que a campanha de Dias ao Senado, em 1998, recebeu R$ 21 mil de duas empresas de Youssef, um dos principais pivôs da Lava Jato, que chegou a ser preso pelo próprio Moro.

O ex-juiz afirmou que, na época da doação, "ninguém sabia quem era Alberto Youssef":

"Eu nem conhecia o senador (Álvaro Dias). Ninguém sabia quem era Alberto Youssef na época. Ele começou a ser processado em 2003, no caso Banestado. Depois foi condenado, preso na Lava Jato. Eu decretei a prisão do Alberto Youssef duas vezes: em 2003 e depois em 2014. (...) Qual criminoso de colarinho branco fica quatro anos preso no Brasil? Ninguém protegeu ninguém ali (na Lava Jato)".

A reportagem revelou que a empresa San Marino Táxi Aéreo pagou R$ 9.800. Já a Youssef Câmbio e Turismo colaborou com R$ 11.200. Os valores declarados à Justiça Eleitoral se referiam a horas de voo de jatinho que o doleiro cedeu a Álvaro Dias, então candidato ao Senado pelo PSDB.

À Folha, o senador afirmou que teve todas as suas contas aprovadas pela Justiça Eleitoral. Já Moro, na entrevista de hoje para a Rádio Capital, reforçou que foi responsável pela prisão de Youssef:

"A minha relação com o Alberto Youssef eu posso resumir: eu prendi ele duas vezes. E se eu não tivesse feito isso ele nunca teria respondido pelos seus crimes."

O doleiro foi condenado pelo ex-juiz, no âmbito da Lava Jato, a penas de mais de 120 anos de prisão. Youssef, porém, deixou o regime fechado em 2016, após fazer um acordo de delação premiada.

"Ganhar a vida"

Ainda na entrevista, Sérgio Moro disse que foi "ganhar a vida, como qualquer outro brasileiro", ao se referir à passagem pela iniciativa privada após deixar os cargos públicos que exerceu:

"Estava no setor privado trabalhando, depois que deixei a magistratura, que deixei o ministério. Fui trabalhar, fui ganhar minha vida, como qualquer outro brasileiro."

Os serviços do ex-juiz para a empresa Alvarez & Marsal —administradora responsável pela recuperação judicial da Odebrecht no âmbito da Lava Jato— estão na mira do TCU (Tribunal de Contas da União).

A construtora foi um dos principais alvos da megaoperação. O ministro Bruno Dantas determinou que o escritório informe toda a documentação relativa ao rompimento do vínculo de prestação de serviços com Moro, incluindo datas das transações e valores envolvidos.