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Bolsonaro pediu filmagem de crianças cantando o hino, diz ex-ministro Vélez

30/06/2022 11h32

Ricardo Vélez Rodríguez, ex-ministro da Educação do governo de Jair Bolsonaro (PL), participou do UOL Entrevista nesta quinta-feira (30) e revelou detalhes sobre a pressão que existe no MEC (Ministério da Educação e Cultura). Ele contou que Bolsonaro foi responsável por sugerir que o hino nacional fosse cantado e filmado em todas escolas, uma ideia que gerou polêmica na época.

"Ele sugeriu que seria bom que crianças cantassem o hino nacional. Eu acho que seria interessante para suscitar o patriotismo. Tomei a decisão de mandar carta, pelos canais do MEC, para os diretores de escolas municipais pedindo isso. Foi uma decisão minha e houve erro da minha parte, porque não consultei o ponto de vista jurídico sobre essa decisão fundamental", assumiu Vélez.

O ex-ministro admitiu que sugeriu que as crianças falassem o slogan do governo, "Brasil acima de tudo. Deus acima de todos". Mas afirmou que Bolsonaro pediu a gravação desse momento e alegou que não sabe o motivo.

"O slogan eu coloquei. Pessoalmente eu coloquei e foi erro meu. Não deveria ter feito isso. Deveria ter consultado assessores jurídicos. A parte de filmagem foi o presidente. Ele falou que, se pudesse haver registro, seria muito bom. Cometi o erro de não ter visto a legislação a respeito disso. A ideia de cantar hino não me era estranha a outros governos. Quanto ao registro da imagem não estou na cabeça dele para ver o que ele queria fazer com isso"

Pressões no MEC

Vélez diz que não sofreu outras pressões diretas de Bolsonaro. Mas afirmou que outros "atores" faziam essa pressão sobre o orçamento do MEC.

"Essa pressão começa na transição de um governo para outro. Entram muitos atores e os já nomeados ministros começam a receber cantadas. Tive que rejeitar muita gente que queria auferir vantagens financeiras da sua proximidade com o ministério. Ou que ofereciam recursos, gente com grana. Minha posição é que não sou contra a entrada desse dinheiro, contanto que respeitem a legislação", contou Vélez Rodríguez.

Questionado sobre qual é o principal problema do MEC atualmente, Vélez apontou que o orçamento é muito grande e gerido por poucas pessoas.

"A gestão pública brasileira gere muito dinheiro. Essa concentração de recursos em único lugar não é bom. Esses recursos, alocados nos estados, haveria fiscalização mais tranquila e nao haveria pressão sobre um unico ministerio", opinou Vélez.

Milton Ribeiro

A troca de ministro mais recente no governo Bolsonaro envolveu Milton Ribeiro, suspeito de envolvimento com corrupção. Vélez Rodríguez disse que não teria gerido essa questão da forma como Bolsonaro agiu - dizendo que colocaria a cara ou a mão no fogo por Milton.

"É uma figura retórica ruim. Não colocaria a cara nem a mão no fogo por ninguém. Bolsonaro não foi feliz nessa expressão. Cada um é responsável pelos seus atos", iniciou Vélez.

Na sequência ele concluiu que Bolsonaro poderia ter agido mais rápido para afastar Milton. "Eu teria agido de forma diferente. No momento em que se confirma um ato ruim para a gestão pública, a pessoa tem que no mínimo ser suspensa", opinou ele, ressaltando que as suspeitas ainda precisam ser investigadas.