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Pesquisa da USP: 74% dos eleitores de Bolsonaro criticam artistas da Globo

O presidente Jair Bolsonaro durante uma coletiva de imprensa - Agência Brasil
O presidente Jair Bolsonaro durante uma coletiva de imprensa Imagem: Agência Brasil

Do UOL, em São Paulo

19/07/2022 14h46Atualizada em 19/07/2022 15h37

Um eleitor da cidade de São Paulo que apoia a reeleição de Jair Bolsonaro (PL) à Presidência da República teve a sua identificação com a direita, o conservadorismo e o sentimento antissistema acentuados entre 2019 e 2022, mostra um levantamento do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação da USP (Universidade de São Paulo), publicado por Pablo Ortellado e Marcio Moreto no jornal O Globo.

Com análises das atitudes de Bolsonaro e suas relações com líderes de direita no mundo, os pesquisadores aplicaram novamente um questionário feito entre março e abril de 2019, primeiros meses do presidente no cargo, para avaliar quais pontos continuavam a formar a "identidade" do eleitorado bolsonarista paulistano.

Entre os pontos, se destaca uma desconfiança da imprensa e sentimentos anti-feministas, anti-movimento LGBTQIA+, com atitudes críticas à chamada "elite cultural". Entre os eleitores de Bolsonaro, 74% concordaram que "artistas da Globo não respeitam valores morais", percepção quarenta pontos percentuais maior do que entre os não eleitores de Bolsonaro.

Outros 58% concordaram que "professores estão abordando temas que contrariam os valores das famílias", também quarenta pontos a mais do que os não apoiadores de Bolsonaro.

A análise dos resultados, para Pablo Ortellado e Marcio Moreto, coordenadores da pesquisa, representa "a estratégia retórica populista de atribuir a difusão de valores progressistas a uma elite cultural e intelectual que dominaria as instituições de reprodução de valores como as universidades e escolas, os meios de comunicação e as artes".

Para eles, a falta de mudança de opinião do eleitorado em relação a temas de comportamento indica que "uma eventual derrota eleitoral de Bolsonaro não significará que o conservadorismo enquanto fenômeno social desapareceu".

A margem de erro da pesquisa, feita com 2.308 pessoas entre 7 e 14 de maio de 2022, é de 4 pontos percentuais quando considerados aqueles que declararam ter votado em Bolsonaro em 2018 e 5 pontos percentuais para aqueles que declaram votar no atual presidente em 2022. O intervalo de confiança é de 95%.

Antipetismo balançado

Ortellado e Moreto também dividiram a pesquisa em três grupos: bolsonaristas convictos — que votaram no presidente em 2018 e repetirão o voto —, bolsonaristas arrependidos — que não votarão mais nele, apesar do voto em 2018 — e não bolsonaristas — que não votaram e nem votarão no pré-candidato do PL.

Com esse recorte, é dividida a análise do sentimento antipetista, apontado por cientistas políticos como um dos propulsores de Jair Bolsonaro em 2018: houve uma diminuição desse sentimento entre os arrependidos, o que pode ter aberto espaço eleitoral para apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições 2022, mas uma intensificação entre os apoiadores de Bolsonaro.

Isso ocorre porque 63% dos eleitores convictos de Bolsonaro adotam a identidade "muito antipetista". Esse número é de 17% entre os arrependidos e 8% entre os não bolsonaristas. Além disso, 69% dos convictos concordam com a afirmação de que "todos os partidos são corruptos, mas o PT é pior", que é de 21% entre os arrependidos e 11% entre os não bolsonaristas.

Dos que votam em Bolsonaro, 86% concordam com a afirmação "a incompetência do PT afundou o país" — número que é de 38% entre os arrependidos e 21% entre os não bolsonaristas.