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Auxílio, passado com Alckmin e estabilidade: o que Lula falou a empresários

O ex-presidente Lula (PT) e seu vice Geraldo Alckmin (PSB) participam de debate com empresários na Fiesp - Tomzé Fonseca/Estadão
O ex-presidente Lula (PT) e seu vice Geraldo Alckmin (PSB) participam de debate com empresários na Fiesp Imagem: Tomzé Fonseca/Estadão

Do UOL, em São Paulo

09/08/2022 12h48Atualizada em 09/08/2022 15h30

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou sobre Auxílio Brasil, instabilidade política e econômica nacional e até seu passado conflituoso com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice em sua chapa, em conversa com empresários hoje (5) em São Paulo.

Em encontro com o setor na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) nesta manhã, Lula fez duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e prometeu retomada da estabilidade nacional, inclusive para o empresariado. Acompanhado de Alckmin e do ex-prefeito Fernando Haddad (PT), candidato ao governo, Lula discursou e respondeu a perguntas por pouco mais de 1h30.

Promessa de estabilidade: O tom do discurso de Lula foi voltado à retomada da estabilidade econômica e política do país.

Em meio a duras críticas a Bolsonaro, Lula argumentou que a atual situação nacional impossibilita desenvolvimento de negócios tanto internamente como no exterior.

"Vocês, empresários, vão voltar a ser respeitados, vocês vão ser tratados com a defesa que têm que ser tratados nas relações internacionais. Nada será feito de surpresa, não haverá política de surpresa", disse Lula. "Nós não vamos dormir de noite e à meia-noite anunciar pacote. Na minha vida não existe isso, tudo será motivo de discussão. Tudo será público até o sol aparecer. Quando o sol se esconder, não tem mais acordo, só no outro dia."

Ele afirmou que Bolsonaro cria um "clima de instabilidade" e "convulsão diplomática no mundo" e aproveitou para citar Alckmin, bem-visto pelos empresários, durante seu discurso.

"Isso vai ser para nós um filé mignon, Alckmin. Quando nós dois chegarmos e eles perceberem o sabor de lula com chuchu, esse Brasil vai voltar a crescer, vai voltar a ser representativo", disse o ex-presidente.

Vou repetir três palavras que fazem parte do meu dicionário, essas três palavras se chamam: credibilidade, estabilidade e previsibilidade. A segunda coisa é que o Brasil precisa voltar a normalidade. O que é voltar a normalidade? Cada um no seu galho, cada macaco no seu galho. Nem a Suprema Corte pode fazer política, nem o Congresso Nacional pode fazer o papel da Suprema Corte."
Lula (PT), a empresários

Crescimento sustentável: A retomada da pauta sustentável, assunto delicado para o governo Bolsonaro, tem sido também uma das principais bandeiras do plano de governo do PT —ainda que o programa completo não tenha sido lançado. Na Fiesp, Lula prometeu que condicionará investimento estrangeiro a incentivos sustentáveis.

A Europa vai definitivamente voltar a compreender, se quiser fazer investimentos no Brasil: a gente [tem que] ter disposição de enfrentar qualquer grileiro, qualquer boiadeiro, qualquer canavieiro que quiser invadir áreas que não podem ser invadidas. O Brasil precisa reconquistar credibilidade no exterior."
Lula (PT), sobre a pauta ambiental

Críticas à Lava Jato: Como costume, o ex-presidente não poupou a Operação Lava Jato, amplamente aprovada pelo empresariado brasileiro nos últimos anos. O ex-presidente voltou a atribuir à operação liderada pelo ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro (União Brasil), pré-candidato ao Senado no Paraná pelo União Brasil, a causa da falência de alguns setores do país.

"Apareceu a Lava-Jato para destruir a Braskem. Em nome de quem? De um fedelho chamado Dallagnol, que encheu a cabeça de vocês de mentiras? Conseguiu construir um mundo de mentiras", criticou.

Uma das principais pautas econômicas do plano de governo do PT tem sido a reindustrialização. Lula comparou a presença de mercado da China e dos Estados Unidos no setor industrial brasileiro e disse que um dos pontos da volta do crescimento econômico do país é retomar este processo.

Uso eleitoreiro do Auxílio Brasil: O ex-presidente também foi para cima do "uso eleitoreiro", como a campanha tem chamado, do Auxílio Brasil de R$ 600 e outros benefícios, que começam a ser pagos hoje, porque só vão até dezembro.

É nesse clima que vamos concorrer a uma eleição, vendo um dos adversários, para não citar nomes, fazendo a maior distribuição de dinheiro que uma campanha política já viu desde o fim do império. Não se tem conhecimento, não se tem precedentes na história do Brasil de alguém, que faltando 57 dias para as eleições, resolva fazer uma distribuição de R$ 58 bilhões de um benefício que só dura até dezembro."
Lula (PT), em crítica a Bolsonaro

"Me preocupa porque, depois de terminar os benefícios depois de três meses, há de se perguntar se o povo aceitará pacificamente a retirada desses benefícios que está recebendo por causa das eleições", disse Lula.

Para rebater Bolsonaro, a campanha de Lula deverá focar em duas estratégias: inicialmente, criticar a medida como eleitoreira, como esta fala de Lula e, ao mesmo tempo, reforçar a associação de auxílios e benefícios ao nome de Lula, como sempre foi feito com o Bolsa Família.

Troféu Alckmin: A união com ex-governador paulista, próximo da federação durante seus 17 anos no Palácio dos Bandeirantes, foi exibida como troféu pela campanha, seja na fala de Lula quanto na do ex-ministro Aloízio Mercadante (PT), coordenador do plano de governo.

O fato de eu e Alckmin estarmos juntos é uma das grandes novidades políticas desse país. O Alckmin foi meu adversário político em 2006 [eleição presidencial]. Esse jeitão bonzinho dele não foi tão bom na campanha, eu estou com as canelas até agora machucadas mesmo usando tornozeleira. [risos] E eu e ele resolvemos relevar isso ao segundo plano e resolvemos compor uma chapa na perspectiva de consertar esse país."
Lula (PT), sobre Alckmin

Antes de Lula, Alckmin foi amplamente aplaudido pelo empresariado, durante seu discurso de dez minutos e. Ao ser apresentado pelo presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, o ex-governador foi definido como alguém "que sempre teve um carinho muito grande pela Fiesp".

"O caminho é o diálogo. Quem ouve mais, erra menos. Estar sintonizado com o setor produtivo. O foco na questão do emprego e renda, que é a obsessão do presidente Lula. Por isso nós estamos juntos. O Brasil precisa. As caneladas ficaram para trás, os olhos têm que estar no futuro e o hit das paradas é Lula com chuchu. É um sucesso absoluto", declarou Alckmin.

Carta da democracia: O ex-presidente também comentou sobre a declaração dada por Bolsonaro sobre a carta em defesa da democracia e disse que o atual chefe do Executivo mente todo dia.

"Como a gente pode viver em um país que o presidente conta sete mentiras todo dia? Que chama uma carta, que defende a democracia, de cartinha. Quem sabe a carta que ele gostaria de ter é uma carta feita por milicianos no Rio de Janeiro", afirmou Lula.

Debate com empresários: Lula falou a empresários na sede da Fiesp nesta manhã. Esta é a quarta rodada de debates com presidenciáveis promovidos pela federação.

Já participaram Ciro Gomes (PDT), Luís Felipe D'Ávila (Novo) e Simone Tebet (MDB). Na semana passada, Bolsonaro cancelou a ida em cima da hora e desmarcou um jantar com empresários em São Paulo.