Abandono de Bolsonaro e mensagens de esposa: o que Mauro Cid ouvirá na CPI
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), estará nesta terça-feira na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro para prestar depoimento. Programada para as 9h, a oitiva de Cid, preso há mais de dois meses, será o grande momento da comissão até agora.
O que os governistas planejam
Menções a abandono de Bolsonaro a outros aliados para pressionar Mauro Cid. A senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPMI, deve conduzir o depoimento do tenente-coronel. Segundo fontes ouvidas pela reportagem, a governista citará bolsonaristas que ficaram sem o amparo do ex-presidente depois dos ataques aos Três Poderes.
Serão citados os casos do ex-ministro da Justiça Anderson Torres e do coronel Jean Lawand Júnior. Torres ficou preso por quase quatro meses — na casa dele a PF encontrou, em janeiro, uma minuta de teor golpista. Ele foi solto em maio pelo ministro do STF Alexandre de Moraes com a obrigação de usar tornozeleira eletrônica. Já o coronel Lawand, que era subchefe do Estado-Maior do Exército, mandou mensagens em dezembro pedindo que Cid convencesse Bolsonaro a colocar em prática um golpe de Estado.
Relacionadas
A relatora da CPMI também falará sobre ao menos dois outros bolsonaristas: George Washington, responsável por planejar o ataque no aeroporto de Brasília, e Silvinei Vasques, ex-diretor da PRF (Polícia Rodoviária Federal).
Cid pode permanecer em silêncio em questões nas quais é investigado. O STF concedeu a ele esse direito. O tenente-coronel está preso desde o dia 3 de maio, acusado de fraudar cartões de vacina para o ex-presidente e seus familiares.
A defesa do militar teria afirmado à cúpula da CPMI que ele gostaria de "colaborar" com o colegiado. Portanto, Cid deverá responder a parte dos questionamentos.
A relatora da CPMI estará munida de perguntas, em caso de um grande silêncio de Cid. A senadora Eliziane almeja "fechar as pontas" dos eventos golpistas do dia 8 de janeiro, da tentativa de bomba no aeroporto e dos ataques à sede da PF (Polícia Federal), em Brasília.
Pergunta sobre mensagens da esposa de Cid
O depoente será confrontado pelo teor das mensagens de sua esposa, Gabriela Cid. Ela incentivou manifestações conduzidas em Brasília e nas portas dos quartéis do país, segundo a PF. A corporação encontrou as mensagens no celular dela.
Gabriela pediu que apoiadores de Bolsonaro protestassem contra o resultado legítimo das eleições de 2022. Ela também entrou na mira da CPMI, e já há requerimentos pedindo a sua convocação na investigação.
Cid é investigado em três inquéritos diferentes: fraude em cartões de vacina, joias sauditas e minuta golpista (incluído na investigação que apura os ataques). As perguntas serão feitas baseadas nos processos.
Vídeo do PT para mostrar Cid e Bolsonaro
Parlamentares petistas avaliam transmitir um vídeo com a "trajetória" de Cid até chegar ali. Nas imagens, serão divulgadas chamadas de jornais sobre os inquéritos e a aproximação entre o militar e Bolsonaro.
A expectativa de governistas é que Cid se defenda dizendo que recebia todo tipo de mensagem no celular. Na avaliação de aliados do presidente Lula (PT), o tenente-coronel tentará minimizar a gravidade do material encontrado pela perícia da PF.
Como reagirá a oposição
Os parlamentares bolsonaristas não dão o jogo como perdido. Eles admitem que a narrativa do depoimento será guiada por aliados do Palácio do Planalto e se reuniram para traçar uma estratégia contra a ofensiva governista.
A expectativa é que os bolsonaristas reforcem que nem todos os inquéritos têm ligação com os atos golpistas — a exemplo disso, é citado o processo envolvendo as joias sauditas. Contudo, ainda não há um consenso em relação a isso.
A ideia é reforçar que os motivos para a convocação de Cid são individualizados e nada tem a ver com Bolsonaro. Um integrante titular da CPMI afirmou à reportagem que também não caberá ao grupo "blindar" o ex-presidente, apesar de preverem que ele dominará a narrativa dos governistas.
Presidente da CPMI não é aliado petista, avaliam. Nos bastidores, oposicionistas que são integrantes do colegiado afirmam que tem sido "positivo" o balanço da gestão do presidente da comissão, deputado Arthur Maia (União-BA), apesar da proximidade da relatora com o governo Lula.