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Para acomodar centrão, Lula tem de escolher entre tirar mulheres ou aliados

O presidente Lula (PT) acompanha o jogo da seleção na Copa do Mundo de Futebol Feminino com suas ministras no Palácio da Alvorada Imagem: Ricardo Stuckert/PR

Do UOL, em Brasília

30/07/2023 04h00

O presidente Lula (PT) vai ter de escolher entre diminuir o número de aliados ou de mulheres na Esplanada dos Ministérios em meio às negociações com o centrão em busca de apoio no Congresso.

O que acontece

Desde que fechou a entrada de PP e Republicanos no corpo ministerial, o governo tem tentado resolver um xadrez para não criar problemas com aliados nem quebrar promessas de campanha, mas Lula já aceita que alguma das pontas terá de ficar descoberta.

O presidente tem repetido que não quer diminuir o número de mulheres no alto escalão. A articulação do governo repassou isso para o centrão e busca saídas para que cargos visados, como Esporte, Ciência e Tecnologia e a presidência da Caixa Econômica, se mantenham com comando feminino.

Por outro lado, os governistas tentam evitar que, para agradar o centrão, acabem desagradando aliados. O PSB, do vice-presidente Geraldo Alckmin, tem pastas em xeque, assim como membros do próprio PT de Lula e apoiadores antigos.

Lula já entendeu que a conta não fecha e tem ouvido aliados que defendem posições distintas. A decisão deverá ser tomada nas próximas semanas, com a retomada das sessões no Congresso e após reuniões com lideranças do centrão.

Sem diminuir a participação feminina

Depois de trocar Daniela Carneiro por Celso Sabino no Ministério do Turismo, Lula quer seguir com uma alta participação feminina no alto escalão como política de governo. Segundo interlocutores, isso tem sido dito tanto a aliados e ao centrão —o ponto, tenta argumentar ele, é buscar deixar seu terceiro mandato com uma marca mais igualitária.

O problema é que os indicados pelos dois partidos para integrar a Esplanada são homens: os deputados André Fufuca (PP-MA), líder do partido na Câmara, e Sílvio Costa Filho, o Silvinho (Republicanos-PE). Alguns dos cargos cobiçados são femininos. O principal deles foi a chefia da Saúde, da ministra Nísia Trindade, mas Lula já negou essa pasta ao PP.

Além de um ministério, o partido articula a indicação da presidência da Caixa Econômica, comandada por Rita Serrano. O primeiro nome a ser ventilado foi o do ex-ministro Gilberto Occhi, mas Lula intercedeu para ter um nome feminino. Aparentemente foi atendido: a ex-deputada Margarete Coelho (PP-PI) tornou-se o nome mais cotado.

O Republicanos também mira uma pasta de comando feminino: Esporte, de Ana Moser. Responsável pela regulamentação das apostas esportivas, o comando desse ministério também já foi descartado para entrar nas negociações, mas, segundo aliados, a pressão continua e não está de todo descartado haver a troca.

Cobre de um lado, descobre de outro

Se quer segurar mulheres, terá de cortar "na própria carne", ouviu do centrão. Para isso, restam pastas do PSB ou de petistas históricos —o que não tem agradado aliados.

Do PSB, são sondados os Ministérios de Portos e Aeroportos, de Márcio França, e Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, de Alckmin. No primeiro caso, Lula resiste por França não ter mandato e ser influente na bancada. Já no segundo, a questão é a ligação do vice junto ao empresariado.

A possibilidade de troca gerou reação do presidente da sigla, Carlos Siqueira (PSB), que apoia a candidatura de Lula desde que o presidente saiu da prisão, em 2019. Em entrevista ao UOL, ele disse que qualquer saída de seu partido seria "uma sinalização ruim".

Vamos apoiar o governo com três, com dois, com um, sem nenhum cargo, por razões maiores. Se o presidente achar que deve mudar A, B ou C, ele muda, é um direito dele. [...] É uma sinalização ruim se algum deles sair, porque os três estão dando certo nos ministérios que estão ocupando. Se o presidente quiser tirar, é outra coisa.
Carlos Siqueira, presidente do PSB

Outra saída seria cortar ministros da chamada "cota pessoal", de grande maioria petista. Em conversa com Lula, Alexandre Padilha (Relações Institucionais) chegou a oferecer o cargo, mas foi descartado. O presidente também afastou mudança entre os palacianos Rui Costa (Casa Civil) e Paulo Pimenta (Secom).

O mesmo não se diz sobre Wellington Dias, no Desenvolvimento Social. O senador eleito sempre teve o carinho de Lula, mas a atitude discreta tem incomodado e o cargo é alvo da cobiça do PP. Por ora, a resistência de Lula se dá pela pasta ser responsável pelo Bolsa Família.

Martelo será batido na semana que vem

Lula vai se reunir com lideranças dos partidos do centrão e do Congresso na próxima semana para bater o martelo. Na última quarta (26), ele conversou com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para acertar detalhes.

Ficou combinado que eles se encontrarão pessoalmente, com a presença de Fufuca. Padilha também conversou com Hugo Motta (Republicanos-PB), líder do partido na Câmara, para alinhar as negociações.

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