Lula segura Nísia e Moser, mas pastas de aliados entram na mira do centrão

Pressionado por mais cargos no primeiro escalão, o governo Lula (PT) não descarta fazer trocas de partidos aliados, como PCdoB e PSB, na Esplanada dos Ministérios para acomodar o centrão.

O que acontece?

Sem maioria, o governo tem avaliado que sai em desvantagem toda vez que tem de recorrer às emendas para aprovar projetos importantes no Congresso. Para resolver, já tem aberto a torneira no segundo escalão e, internamente, não nega realocar indicações ministeriais.

Entre as "vagas" debatidas, Lula tem negado pessoalmente as pastas da Saúde e do Esporte, ocupadas por duas mulheres das respectivas áreas, sem influência partidária, e do Desenvolvimento Social, na mão de um petista. Sobra, então, para partidos que compuseram a chapa original da campanha petista, como PCdoB e PSB, as atenções de União Brasil, PP e Republicanos.

O argumento de partidários desta ideia do governo é o pragmatismo: na situação atual, estes partidos não entregam o número de votos necessários no Congresso. Além disso, conforme o UOL já mostrou, também está sendo feita a distribuição em estatais e fundações.

No momento, tudo está em fase de negociação. Lula está em viagem à Bélgica e nenhuma pasta deve ser trocada antes do fim do recesso parlamentar, em duas semanas.

Aliados na mira

A pressão recai sobre aliados de partidos que não trazem tantos votos no Congresso, em especial PCdoB e PSB — que, juntos, somam 22 votos na Câmara e quatro no Senado.

No Planalto, tem se fortalecido o argumento de que é preciso integrar mais partidos políticos para sustentar o governo

  1. Um dos nomes veiculados é a da ministra Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), única representante do PCdoB no governo. O partido, que fez federação com o PT, tem apenas sete deputados e nenhum senador.
  2. O ministro Márcio França (PSB), de Portos e Aeroportos, também entrou para a mira. A pasta é responsável por obras de infraestrutura e carrega centenas de indicações em unidades federais por todo o país.
  3. Outra ideia veiculada seria deixar Geraldo Alckmin (PSB) só como vice-presidente e "liberar" o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços). Segundo o UOL apurou, no entanto, esta mudança sofre resistência por Lula, não só pela relação estabelecida entre os dois como pela entrada do vice junto ao empresariado.
  4. No chamado segundo escalão, o centrão também tem mostrado interesse nos Correios, como o UOL já contou, e no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O primeiro deverá ir para o União Brasil, enquanto o segundo, comandado pelo petista Aloízio Mercadante, também sofre resistência pelo papel central do banco na área social.
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Formalmente, o governo tem negado. Tanto Lula quanto o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e o próprio Alckmin têm dito que, por ora, não há chance de reforma ministerial e que a troca de Daniela Carneiro (União) pelo deputado Celso Sabino (União) no Turismo foi uma questão pontual.

Eu não tenho ouvido nada a não ser a substituição que já ocorreu, no Ministério do Turismo, porque ela foi feita em torno de uma articulação partidária, com o União Brasil. Eu sou da tese de que é importante a governabilidade, é importante ter mais apoio, isso é bom.
Geraldo Alckmin, à imprensa, na última segunda (17)

Aqui, não

Lula não tem apenas dialogado com o centrão como liberado cargos e emendassó na pré-votação de reforma tributária foram R$ 7,5 bilhões —, mas, ao mesmo tempo, tem indicado que não cairá em todas as pressões. Nas últimas semanas, tem, por sua conta, negado alguns pedidos.

O presidente tem dito publicamente e internamente que a Saúde, comandada pela pesquisadora Nísia Trindade e cobiçada por PP e União Brasil, é inegociável. Presidente da Fiocruz durante a pandemia, ela leva a imagem de governo pró-ciência que o PT procura emplacar desde a campanha.

O mesmo tom foi dado ao Esporte, da ex-jogadora de vôlei Ana Moser — pelo menos por enquanto. O presidente negou os últimos pedidos em relação à pasta e ela ganhou sobrevida no governo. Aliados não descartam, no entanto, que haja mudança no fim do ano, quando Lula considera uma reforma ministerial.

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Outra pasta que ele tem resistido mudar é o Desenvolvimento Social, com o senador Wellington Dias (PT-PI). A pasta é vista como uma das mais estratégicas do governo por ser responsável pelo Bolsa Família, principal programa social do país.

Na transição, Lula negou dá-la inclusive a aliados, o que dirá a antigos opositores. O ex-governador piauiense, nome forte no Nordeste e fiel ao presidente, foi escolhido a dedo, mas há uma insatisfação com seu desempenho, considerado tímido pelo Planalto. Sua saída não está descartada, mas, caso ocorra, deve ir para outro petista.

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