Ouça os áudios em que Delgatti revela trama para fraudar urnas
Colaboração para o UOL, em São Paulo
22/08/2023 12h25Atualizada em 22/08/2023 14h00
Áudios de conversas mantidas pelo hacker Walter Delgatti Neto com pessoas próximas a ele revelam detalhes da trama supostamente organizada pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL), entre outras pessoas do entorno do ex-chefe do Executivo, para atentar contra urnas eletrônicas durante as eleições de 2022.
O que dizem os áudios:
Objetivo era alterar o código-fonte das urnas. "Eles vão configurar o código-fonte para dar o resultado que eles querem. Eles vão pegar agora uma urna. Eles mesmo vão fazer isso."
Às vésperas do primeiro turno, hacker diz ter sido chamado por Bolsonaro. "O Bolsonaro, ele tá fazendo questão que eu vá lá. Aí, teve alguém da equipe que falou: 'irmão, é bom ele não vir aqui porque pode queimar'. Ele [Bolsonaro] falou: 'quem manda aqui sou eu, e ele [Delgatti] vai vir'".
Bolsonaro sabia do plano. "Você acha que o presidente da República estaria correndo esse risco de me receber lá, me receber lá [no Planalto], se não fosse algo que ajudasse muito ele?".
Delgatti ironiza Lula e diz ser de direita. "O Lula nunca me quis... [Ele] me falou um 'oi'. O que eu vou fazer atrás do Lula? Eu nunca vou ser de esquerda. Eu sempre gostei de arma".
Relação com Zambelli era quase de "mãe e filho". "Eles estenderam a mão para mim, cara. A Carla me tratou hoje como se fosse um filho, coisa que nunca aconteceu na minha vida, a ponto da mãe dela me servir leite com Nescau, na mesa, e acompanhado com ela".
O UOL tenta contato com Carla Zambelli e o ex-presidente Jair Bolsonaro sobre as gravações. Caso haja resposta, o texto será atualizado.
Qual era o suposto plano?
Em 2022, Walter Delgatti Neto teria sido procurado por Carla Zambelli, que intermediou um encontro entre o hacker e Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada. O objetivo da reunião foi, segundo o hacker, para explicar detalhes do sistema das urnas eletrônicas — o então presidente divulgou diversas fake news sobre o sistema eleitoral brasileiro, inclusive em uma reunião com embaixadores, que o tornou inelegível por oito anos após decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Além das urnas, Delgatti também disse que lhe pediram para grampear o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. A ideia, segundo falou, seria invadir o celular do ministro.
Walter Delgatti Neto ganhou projeção nacional em 2019 após vazar conversas de procuradores da República que participavam da Operação Lava Jato. A divulgação das conversas ficou conhecida como Vaza Jato.
Na época, Delgatti foi preso na Operação Spoofing e admitiu ter hackeado o celular de diversas autoridades brasileiras — entre elas: Sergio Moro, Deltan Dallagnol e outros procuradores da Operação Lava Jato.
Em 2020, ele foi colocado em regime semiaberto, com tornozeleira eletrônica e restrição ao uso de internet.
Em junho deste ano, Delgatti foi preso novamente por descumprir uma medida da Justiça que o proibia de acessar a internet. No entanto, ele foi colocado em liberdade novamente. Então, no último dia 2 de agosto, ele foi preso mais uma vez. Agora, Delgatti é acusado de participar de um ataque contra o sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) para emitir um falso pedido de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes.
Segundo o advogado dele, Ariovaldo Moreira, o hacker teria recebido R$ 40 mil da Carla Zambelli em pagamentos pelos serviços de hacker. A parlamentar teria feito depósitos que chegam a R$ 14 mil e o restante do valor foi feito em espécie. Ela nega as acusações.
Delgatti foi condenado nesta segunda-feira (21) a 20 anos de prisão pelas ações da Vaza Jato.