CPI do 8/1: general Dutra irá fardado falar se ajudou em tentativa de golpe
O general Gustavo Henrique Dutra depõe amanhã na CPI do 8 de Janeiro, aumentando o desgaste para os militares na investigação sobre os atos golpistas, que vandalizaram as sedes dos três Poderes, em Brasília. As Forças Armadas estarão ainda mais expostas quando ele entrar com sua farda.
Verde-oliva na CPI
Além de um símbolo, o uniforme vai gerar a conexão que governistas buscam entre as atitudes do Exército e a tentativa de golpe.
Como Dutra é oficial da ativa, ele estará de farda. A justificativa do Exército é que as investigações se referem ao período em que o general estava à frente do Comando Militar do Planalto.
Era ele quem deveria preservar a área em frente ao QG do Exército onde bolsonaristas montaram acampamento, afirma o deputado Henrique Vieira (PSOL-RJ). Ele diz que o general teria impedido operações para desmontar as barracas e expulsar os golpistas.
Ele blindava aquele acampamento.
Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), deputado federal
A reportagem do UOL esteve no local em 29 de dezembro do ano passado, quando viu agentes do DF Legal serem cercados, ameaçados e expulsos pelos manifestantes. Um carro foi depredado enquanto os militares apenas observavam.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) disse que é sempre muito ruim para as Forças Armadas quando um integrante precisa dar explicações em uma CPI. Ainda mais por se tratar de uma tentativa de derrubada do presidente.
Ela apontou que tudo ficará ainda pior se o general mentir, possibilidade que ficou no ar durante depoimento de Dutra à CPI do Distrito Federal. Na ocasião, o militar declarou que nunca protegeu e nem deu vida fácil aos manifestantes acampados em frente à sede do Exército.
Documento da PM diz o contrário e aponta quatro tentativas de desmobilização que teriam sido abortadas por iniciativa do general.
Ele também não agiu quando ônibus chegaram a Brasília no final de semana das invasões. Além disso, Dutra ordenou que um subordinado solicitasse ao governo do Distrito Federal que enviasse caminhões de lixo e garis para limpar a área dos acampamentos.
Como vai atuar a oposição
A oposição vai bater num ponto: a comunicação entre o general Dutra e o ex-chefe do GSI Gonçalves Dias em 8 de janeiro. Ambos afirmam que tentaram acionar o outro colega de farda e ficaram sem resposta.
Mas deputados bolsonaristas declararam não estar dispostos a defender Dutra.
Eles estão mais preocupados em caracterizar que um capitão —no caso, Jair Bolsonaro— não poderia influenciar altos oficiais. Esse argumento não se sustenta já que como presidente Bolsonaro era o comandante Supremo das Forças Armadas.
O deputado André Fernandes (PL-CE) vai atribuir as invasões a falhas de GDias. Ele não convocou o Batalhão de Guarda Presidencial nem acionou o Plano Escudo, criado para proteger o Planalto.
Filipe Barros (PL-PR) vai ressaltar que Bolsonaro estava fora do Brasil e não comandava as Forças Armadas na data da invasão.
Cid convocado de novo
O ex-comandante pode ser o último general a depor. Existe um entendimento da cúpula da CPI para não chamar mais militares de altas patentes.
A desistência da convocação de mais oficiais ocorre depois de uma conversa entre o presidente da CPI, deputado Arthur Maia (União-BA), e o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro.
Os integrantes da comissão também concordam em não culpar as Forças Armadas enquanto instituição. Militares envolvidos serão tratados como lobos solitários, que teriam agido por motivações pessoais.
Mas, mesmo com esta blindagem, a farda do Exército vai aparecer na CPI outra vez. Já havia um requerimento aprovado para Mauro Cid prestar novo depoimento, o que ocorre depois de ele ter homologada a delação premiada com a Polícia Federal. Na primeira ida à comissão, ele optou por ficar em silêncio.
Possível acordo entre governistas e oposição
Existe uma possibilidade de outro oficial ser convocado. Ela está ligada a um eventual acordo entre esquerda e oposição.
Para amparar a tese de omissão do governo federal, bolsonaristas desejam ouvir o integrante da Força Nacional em 8 de janeiro —o órgão é ligado ao Ministério da Justiça, alvo primordial da oposição.
Em troca desse nome desejado pela oposição ser chamado, eles votariam para também ser convocado o general da reserva Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa durante o governo Bolsonaro.