Bonde da direita para posse de Milei é articulação de Eduardo Bolsonaro
Jair Bolsonaro recebeu convite oficial do governo argentino para a posse de Javier Milei, com quem teve um encontro privado ontem. Aliados do ex-presidente creditam a Eduardo Bolsonaro a aproximação entre os dois líderes e a organização da caravana na cerimônia.
O que aconteceu
O ex-presidente está acompanhado de cerca de 20 aliados na Argentina, entre deputados, senadores e ex-ministros. Ele viajou na quinta-feira para Buenos Aires em companhia da ex-primeira-dama Michelle e do filho Eduardo.
A viagem tem uma série de significados para a direita e para Bolsonaro, afirmaram deputados, senadores e caciques do PL ouvidos pelo UOL
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Ele fica associado a uma vitória conservadora contra a esquerda;
Mantém acesa a chama de a direita vencer a eleição presidencial em 2026;
Demonstra união dos partidos de direita de diferentes países;
Reforça status de liderança internacional da direita conservadora;
Rebate a alegação de não ter apoio no exterior;
Confere prestígio internacional à direita brasileira e a seu principal líder.
'Embaixador da direita brasileira'
Bolsonaro colhe os louros, mas lideranças da direita afirmam que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) é o articulador dos contatos internacionais que permitiram o ganho de imagem ao ex-presidente e à direita.
A deputada Júlia Zanatta (PL-SC) chamou Eduardo Bolsonaro de "embaixador da direita brasileira". A parlamentar afirmou que ele se reuniu com líderes da direita da América do Sul, dos Estados Unidos e da Europa.
Ex-secretário de comunicação de Bolsonaro, Fabio Wajngarten declarou que Eduardo Bolsonaro foi "fundamental" nos bastidores para viabilizar a comitiva bolsonarista em Buenos Aires. Ele disse que o deputado foi protagonista da aproximação com Milei.
Eduardo Bolsonaro conta que iniciou a aproximação com a direita internacional logo que o pai foi eleito, em 2018. O trabalho começou pelos Estados Unidos, na época com Donald Trump como presidente.
Eduardo Bolsonaro teve 30 reuniões nas cidades de Nova York, Boston e Miami. A mensagem nos encontros e entrevistas era de um novo Brasil livre do comunismo após a eleição do "Trump dos trópicos".
O movimento crucial para aproximação da direita brasileira com a americana ocorreu em março de 2019, relata o deputado. Eduardo Bolsonaro diz que o então presidente Bolsonaro visitou Trump e ele aproveitou a ocasião para se aproximar de organizadores de congressos de pessoas conservadoras.
Eduardo foi visionário ao convidar, em junho de 2022, o desconhecido Milei para CPAC Brasil, encontro que o Eduardo trouxe dos Estados Unidos para o Brasil.
Fabio Wajngarten, secretário de Comunicação na gestão Bolsonaro
Bolsonaro encontra Milei
Ontem, Bolsonaro fez uma visita de cortesia a Javier Milei. Eles se reuniram no Hotel Libertador, onde o próximo presidente argentino ficará hospedado até a posse no domingo.
Ambos falaram de segurança pública, pauta de costumes e da situação da Argentina. A conversa durou pouco menos de uma hora e contou com aliados de Bolsonaro e Milei.
A dupla fez questão de demonstrar proximidade. Bolsonaro comentou que conheceu Milei há dois anos e que o evento pareceu um encontro de velhos amigos.
A expectativa é de o ex-presidente receber tratamento de chefe de Estado na passagem por Buenos Aires. Aliados dizem que ele será convidado para as cerimônias fechadas.
Bolsonaro se projeta com Lula ausente. O presidente petista enviou o chanceler Mauro Vieira como representante na cerimônia.
Para o restante da comitiva, o ganho de imagem é menor, mas vale a pena a ponto de investirem dinheiro. Os cerca de 20 integrantes informaram que estão pagando a viagem do próprio bolso. A estimativa é de gastos em torno de R$ 5.000.
Mas dois deputados de Mato Grosso participaram de um congresso conservador nos Estados Unidos em agosto e pediram reembolso para a Câmara. Abílio Brunini e José Medeiros, ambos do PL, receberam R$ 24,6 mil para cobrir as despesas.
Eventos uniram direita
Eduardo Bolsonaro trouxe ao Brasil o CPAC, considerado maior evento conservador do mundo. Ele avalia que o intercâmbio abriu uma série de oportunidades para a direita.
O deputado cita que Javier Milei participou da edição brasileira do ano passado, o que demonstraria a capacidade de congressos de promover intercâmbios entre lideranças.
Eduardo Bolsonaro cita Estados Unidos como exemplo a ser seguido. Em sua opinião, a direita do país tem uma agenda que vai além de resultados eleitorais.
Ele explica este intercâmbio permite um planejamento de longo prazo para fomentar a organização da direita.
Eduardo Bolsonaro ainda menciona contatos com nomes como o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, deputados americanos, lideranças da América Latina e da Europa.
Para ele, a união destas lideranças faz ecoar o discurso da direita e afasta a narrativa de que os conservadores estão isolados e sem respaldo na comunidade internacional.
O deputado pretende ampliar a estratégia dos eventos. Um encontro com membros da direita da União Europeia está sendo organizado pelo ex-ministro Onyx Lorenzoni e deve ocorrer em Santa Catarina, estado de maior concentração de apoiadores bolsonaristas, em março do ano que vem.