Delator do PCC operava a 3 graus de separação de grandes empresas do país
Assassinado a tiros de fuzil, à luz do dia, na saída de passageiros de um dos terminais do mais movimentado aeroporto da América Latina, o chamado "delator do PCC" era muito mais do que o apelido veiculado pela imprensa dá a entender. Antonio Vinicius Lopes Gritzbach acumulou um patrimônio declarado de cerca de R$ 20 milhões em poucos anos fazendo negócios imobiliários para o PCC. Lavava o dinheiro do crime.
O tema é um dos destaques do episódio desta semana do A Hora, podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo, disponível nas principais plataformas. Ouça aqui.
Ao se examinar a rede de empresas, de sócios e dos sócios dos sócios de Gritzbach, chama a atenção como o dinheiro originário do tráfico internacional de drogas comandado pela maior facção criminosa do país está sendo lavado com facilidade e em grande volume na economia formal. Sócios diretos do corretor assassinado estavam a dois ou três graus de separação de algumas das maiores empresas de construção do país.
Não há conexão direta entre uns e outros, tampouco há indicação de que o dinheiro de origem criminosa tenha sido usado para fazer negócios diretamente com essas construtoras. Mas a proximidade das relações societárias revela que isso não seria impossível, muito ao contrário, tamanha é a imbricação do crime organizado na economia formal.
É um risco a que todas as empresas legítimas, mesmo as maiores, estão sujeitas ao captar recursos no mercado para investirem. É um risco contra o qual é difícil de se proteger atualmente. Não há cadastro de pessoas e empresas suspeitas para se consultar. E, mesmo que houvesse, outra característica dos lavadores de dinheiro do PCC é abrir e fechar empresas em alta velocidade. A rotatividade de seus negócios é muito grande.
O caso Gritzbach é exemplar desse novo fenômeno, mas não é o único. A família Brazão, cujos chefes são acusados de terem ordenado o assassinato de Marielle Franco, também tem uma larga e profunda imbricação com a economia formal carioca. Em vez da área imobiliária, a predileção dos Brazão é pelos postos de combustíveis e outros negócios que usam dinheiro vivo.
Algumas das empresas de Bet recém-autorizadas a funcionar no Brasil também apresentam grandes redes de sociedades empresariais que estão emaranhadas por vários setores da economia formal. O crime parece estar mais organizado que os mecanismos estatais de controle da atividade criminosa.
Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky
A Hora é o novo podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube. Na TV, é exibido às 16h (veja aqui onde assistir).
Escute a íntegra nos principais players de podcast, como o Spotify e o Apple Podcasts já na sexta-feira pela manhã. À tarde, a íntegra do programa também estará disponível no formato videocast no YouTube. O conteúdo dará origem também a uma newsletter, enviada aos sábados de manhã.