Agentes contra dengue aderem à greve por aumento de 16%; Nunes propõe 2,16%
Agentes de combate a endemias, que inclui o trabalho contra a dengue na cidade de São Paulo, aderiram à greve unificada de servidores de diferentes secretarias e categorias do município por reajuste salarial de 16% e melhorias nas condições de trabalho.
O que aconteceu
Os servidores afirmam que a paralisação é por tempo indeterminado. Eles pedem um reajuste de 16% no salário — a proposta feita pelo prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), é de 2,16%. Segundo a administração municipal, o cálculo considera a inflação medida pelo índice IPC-Fipe.
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Além da dengue, os agentes de combate a endemia atuam na desratização, no controle de escorpiões e recebem denúncias de maus-tratos a animais. Na atuação contra o Aedes aegypti, eles visitam casas para dar orientações aos moradores e também realizam a nebulização, que é a aplicação do inseticida para combater o mosquito.
"Estamos literalmente dando suor para conseguir atender a população e aí o prefeito vem e oferece 2% de reajuste, chega a ser humilhante", afirma Lucianne Tahan, agente na região da Casa Verde, zona norte da cidade.
Ao todo, 80% dos 1954 agentes estão paralisados, segundo o Sindsep, sindicato dos servidores municipais e um dos envolvidos na greve.
A gestão Nunes não informou o impacto da paralisação dos agentes de endemia. No caso das unidades de saúde, a prefeitura afirmou que "estão funcionando normalmente" e que não foram registradas ocorrências que podem impactar os serviços.
O valor do salário dos agentes é repassado pelo governo federal aos municípios. Atualmente, o piso da categoria é de R$ 2.824.
A categoria também reivindica o pagamento do IFA (Incentivo Financeiro Adicional). Eles afirmam que é um valor que funciona como um 14º salário repassado também pelo governo federal. "A prefeitura não repassa esse recurso para nós e também não diz onde é gasto essa verba", diz Aloir Viola, agente de combate as endemias na região da Capela do Socorro. Ele faz parte do Sindsep também.
Sobre o pagamento do IFA, a prefeitura não respondeu. O UOL também procurou o Ministério da Saúde e não teve retorno.
A proposta de reajuste feita pela prefeitura foi enviada à Câmara dos Vereadores no último dia 13, um dia após os servidores iniciarem a greve. Na quinta-feira (14), um protesto foi realizado durante uma agenda pública de Nunes em São Miguel Paulista, na zona leste, contra o reajuste oferecido pela administração.
Na ocasião, Nunes disse que o ato é "estritamente político". "Da nossa parte não faltará diálogo, demonstração das contas. Agora, responsabilidade fiscal é uma marca do meu governo, não farei nenhum absurdo par agradar ninguém", afirmou o prefeito. Segundo ele, sua gestão investiu R$ 5 bilhões na valorização do servidor.
Os servidores negam que há qualquer diálogo com a gestão e citam como exemplo a falta de uma reunião agendada para novas negociações. A reportagem perguntou sobre o tema à prefeitura, mas também não teve retorno deste tópico.
A Prefeitura de São Paulo lamenta que os sindicatos se pautem por uma agenda político-partidária completamente desvinculada do compromisso com a população e com o atendimento das crianças ao serviço essencial, como no caso da Educação.
Trecho da nota enviada pela prefeitura
Greve atinge outras categorias de servidores
A paralisação inclui outros servidores como também professores, agentes de saúde, assistentes sociais. Além do reajuste de 16% salarial, os servidores pedem o fim da contribuição de 14% — a prefeitura afirma que a porcentagem está em uma legislação aprovada em 2018. Segundo o Sindsep, a categoria pede o fim dos 14% da cobrança previdenciária dos aposentados e pensionistas por considerar que os servidores já contribuíram a vida toda.
No caso dos professores, a reivindicação pelo reajuste é diferente. A categoria quer a incorporação dos abonos complementares que, segundo os educadores, somam 39%. "Aceitaríamos 16% como primeira parcela de incorporação nos salários dos ativos e aposentados", afirma Claudio Fonseca, presidente do Sinpeem, sindicato dos professores municipais.
O pedido dos professores é antigo e parte de entendimentos diferentes sobre o cálculo do reajuste do piso dos educadores. Reportagem do UOL mostrou que há municípios que entendem que o aumento deve fazer parte da remuneração e outros que a porcentagem pode funcionar como um complemento — ou seja, o valor fica de fora das contas do INSS, por exemplo.
Segundo Fonseca, cerca de 35% dos educadores estão em greve — a prefeitura diz que o movimento atinge 0,7% dos professores. A categoria também pede por melhores condições no atendimento a crianças com deficiência e também a redução do número de bebês e crianças por sala de aula.
No caso dos professores, a proposta da prefeitura prevê, além dos 2,16%, um acréscimo de 3,62% — esse último apenas para quem está no início da carreira.
As categorias marcaram um novo ato para terça-feira (19) em frente à Câmara Municipal. Os servidores dizem que vão dialogar com vereadores para barrar o projeto enviado por Nunes.