Jornal: Heleno foi monitorado por 'Abin paralela' durante governo Bolsonaro
Colaboração para o UOL, em São Paulo
27/03/2024 12h45
O general Augusto Heleno foi monitorado pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) quando comandava o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) durante o governo de Jair Bolsonaro, segundo a Polícia Federal.
O que aconteceu
A PF investiga a criação de uma Abin paralela montada durante a gestão Bolsonaro para monitorar desafetos do ex-presidente. Por esse motivo, os investigadores se surpreenderam ao encontrar indícios de que até mesmo Heleno, um dos principais aliados de Bolsonaro, também era monitorado. As informações são do jornal O Globo.
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Vigilância foi feita por intermédio do programa espião FirtsMile, que mapeava a localização de celulares em todo o país. Um celular funcional usado por Heleno para temas vinculados a sua atuação como ministro foi consultado onze vezes pelo programa, em maio de 2020.
Aparelho não era registrado no nome de Heleno como forma de evitar rastreamento. Conforme a investigação, isso sugere que alguém próximo ao ex-ministro tinha conhecimento que ele usava a linha telefônica, que passou a ser monitorada pela Abin paralela.
Investigadores acreditam que o general foi monitorado em um período em que Bolsonaro suspeitava até mesmo de seus aliados mais próximos. Naquele momento, o então presidente se queixava da Abin e reclamava por não receber informações do serviço de inteligência.
Augusto Heleno também é suspeito, pela PF, de comandar uma estrutura informal de inteligência quando comandava o GSI. O ex-ministro teria infiltrado agentes em campanhas nas eleições de 2022.
'Abin paralela'
A PF identificou indícios de que Bolsonaro seria um dos destinatários das informações da espionagem ilegal na Abin sob a gestão de Alexandre Ramagem. As provas colhidas até o momento, de acordo com a investigação, indicam que dossiês e documentos produzidos pela Abin paralela eram impressos e entregues ao Palácio do Planalto durante a gestão.
A Abin de Ramagem intensificou o uso do First Mile no período eleitoral de 2020, mostram as investigações. De acordo com a decisão do ministro do STF, Alexandre de Moraes, em um universo de 60 mil consultas ao sistema, a metade ocorreu nesse período. Isso, de acordo com a investigação, indica a instrumentalização da Abin para fins eleitorais de interesse do núcleo político.
Os investigadores ainda suspeitam que Ramagem utilizou da estrutura da agência para tentar fazer provas e relatórios em defesa de Flávio e Jair Renan Bolsonaro, filhos do ex-presidente, e espionar adversários políticos do ex-mandatário, como Joice Hasselmann e Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara. O ex-presidente nega a existência da Abin paralela e afirmou que não recebia informações do órgão.
O First Mile é um programa adquirido pela Abin que permite ao usuário rastrear dados de geolocalização de qualquer pessoa. Os dados transferidos do celular do indivíduo para torres de comunicação da região permite o rastreio de até 10 mil pessoas por ano.