Bolsonaro isenta Ramagem e nega Abin paralela: 'Para mim não chegava nada'
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou que tenha criado uma "Abin paralela" com o intuito de espionar seus adversários políticos durante o seu governo. A declaração aconteceu na noite de domingo.
O que aconteceu
Bolsonaro negou que espionou adversários. Durante uma live ao lado dos filhos Flávio, Carlos e Eduardo, o ex-presidente defendeu o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), da acusação do suposto esquema de espionagem na agência durante seu mandato, conhecido como "Abin paralela", para monitorar adversários políticos e beneficiar seus filhos.
Ex-presidente afirmou que "Ramagem é um cara fantástico" e que a "tal da Abin paralela" não existiu. Na live, Bolsonaro reforçou que não lhe "interessava" saber com quem o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, ou ex-deputado federal Rodrigo Maia, se reuniam — os dois, supostamente, seriam monitorados pela "Abin paralela".
Bolsonaro disse que informações dos serviços oficiais de inteligência não chegavam para ele. "Eu não tenho inteligência da Abin, da PF (Polícia Federal), da Marinha, do Exército. Uma vez fui no centro de inteligência do Exército, pessoal fez uma demonstração, [falei:] 'e aí, não chega nada para mim, só fica com vocês aqui'".
Falta de comunicação entre órgãos de Estado. Bolsonaro frisou que sua "inteligência" durante o governo era o contato que mantinha com pessoas comuns.
Quando falei da Abin, da inteligência paralela, está um problema, pegando fogo na Amazônia, liga para o coronel Menezes, 'Menezes, como tá aí essa questão de fogo, porque a imprensa tá divulgando', o cara fala para mim. Essa é minha inteligência. Ligo para um cabo do quartel, um militar da reserva, um cidadão qualquer, ou a minha própria forma de agir. Bolsonaro, em live
Hábito de ligar para quartéis para obter informações. "Muitas vezes eu ligava para um posto militar de um cantão desse brasil, atendia um cabo, essa era minha inteligência, essa é confiável, porque essas oficiais, respeitosamente, para mim não chegava nada. Converso com pessoas de confiança minha".
'Abin Paralela'
A Polícia Federal deflagrou operação para investigar se aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro na Abin usaram, de forma indevida, outras ferramentas de espionagem, além do software First Mile, que permite o monitoramento de geolocalização de celulares em tempo real. Segundo a PF, o então diretor da agência, Alexandre Ramagem, teria utilizado sua posição para "incentivar e encobrir" o uso de um programa espião.
Os investigadores ainda suspeitam que Ramagem utilizou da estrutura da agência para tentar fazer provas e relatórios em defesa de Flávio e Jair Renan Bolsonaro, filhos do ex-presidente, e espionar adversários políticos do ex-mandatário, como Joice Hasselmann e Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara.
É citado ainda que a Abin teria sido instrumentalizada para monitoramento da promotora de Justiça responsável pelo caso da vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018. Em decisão que autorizou buscas contra Ramagem, o ministro Alexandre de Moraes classificou a postura do ex-diretor da Abin como de "natureza gravíssima".
O First Mile é um programa adquirido pela Abin que permite ao usuário rastrear dados de geolocalização de qualquer pessoa a partir dos dados transferidos do celular do indivíduo para torres de comunicação da região. A ferramenta permite o rastreio de até 10 mil pessoas por ano.
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