Sucessão de Lira: governo teme 'fator Cunha' e deputados miram 2026
A eleição para presidente da Câmara é só em fevereiro de 2025, mas, nos bastidores, os deputados já articulam alianças e estratégias porque é o futuro deles que está em jogo. O resultado da disputa pela cadeira de Arthur Lira (PP-AL) vai influenciar em como eles estarão posicionados na campanha de 2026.
O que está em jogo
Cadeira tem poder. O presidente da Câmara pode fazer a vida do presidente Lula mais fácil ou difícil porque controla a pauta de votações, incluindo o ritmo de discussão dos projetos.
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Sindicato dos deputados. Lira atua como uma espécie de "presidente do sindicato dos deputados", cuja função central está em conseguir emendas parlamentares e liberá-las de acordo com os posicionamentos nas votações. Lira está no segundo mandato —foi reeleito com votos de 464 dos 513 deputados—, o que mostra a força de sua política interna. Seu sucessor precisa estar comprometido com a manutenção desta dinâmica para se eleger.
Emendas parlamentares. Ao longo dos últimos anos, Lira conseguiu ampliar o controle da Câmara sobre as verbas públicas por meio das emendas parlamentares. Sua gestão instituiu o chamado orçamento secreto. O poder de barganha dos deputados cresceu com isso.
Trauma no PT. O presidente da Câmara tem o poder de abrir impeachment contra o presidente da República. Em 2015, a então presidente Dilma Rousseff não se dava bem com Eduardo Cunha; o governo apoiou outro nome, perdeu e Cunha foi o responsável por abrir o processo para afastá-la do cargo.
Cabo de força
Três na liderança. Os postulantes mais fortes da pré-disputa no momento são: Elmar Nascimento (União-BA), candidato de Lira; Antonio Brito (PSD-BA), o nome do governo; e Marcos Pereira (Republicanos-SP), próximo a Lira e com boa relação com o governo.
Lira forte. Elmar Nascimento é o nome preferido de Arthur Lira, de quem é amigo pessoal. Considerado um braço-direito do presidente da Câmara, essa proximidade pode ser justamente o seu calcanhar-de-Aquiles: sua eleição seria considerada a vitória total de Lira. Além disso, Elmar é rival do PT na Bahia, estado onde o partido de Lula é muito forte.
Tiro no pé. A atuação de Elmar no caso Chiquinho Brazão foi prejudicial à sua candidatura. O aliado de Lira articulou para libertar o deputado acusado de mandar matar a vereadora Marielle Franco. Serviu para ganhar simpatia dos bolsonaristas, mas a contrapartida foi a desconfiança da esquerda.
Governo forte. Os adversários de Antonio Brito afirmam que seus aliados o fragilizam porque não estão no grupo que comanda as verbas da Casa. Ele é descrito como alinhado ao Planalto e a situação faria o governo ter forte influência na Câmara. Além disso, ele não seria uma candidatura que Lira abraçaria.
Ponto de equilíbrio. Marcos Pereira é apontado como quem tem potencial para unir os interesses de Lira e Lula e "equilibrar" as forças. Ele já fez acenos ao Planalto, como entregar votos na tramitação de projetos e sinalizar que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, não deve concorrer em 2026 — ao menos não pelo Republicanos.
Outra igreja. Mas Pereira é bispo da Universal e próximo a Edir Macedo, o que é um um problema para parte da bancada evangélica. O próprio Jair Bolsonaro (PL) —que, apesar de não participar diretamente do pleito, tem influência sobre os deputados bolsonaristas— é íntimo do pastor Silas Malafaia, dirigente da Assembleia de Deus e desafeto de Pereira. Um influente parlamentar diz que, se Lira apoiar Pereira para a presidência, corre o risco de perder o apoio da direita para o Senado por Alagoas em 2026.
O segundo homem do presidente
O segundo preferido de Lira. Assim como Elmar, Hugo Motta (Republicanos-PB) é amigo pessoal de Lira. Foi o deputado mais jovem da história e fez carreira na Câmara: eleito em 2011 com 21 anos (idade mínima), aos 25 integrava a tropa de choque de Eduardo Cunha. Seria o segundo nome na preferência de Lira para a sucessão, mas há um entrave: Motta é do Republicanos, presidido por Marcos Pereira.
Romper para disputar. Desafetos de Pereira dizem que seria possível eleger Motta se ele concorresse como avulso para o cargo. O raciocínio é que o centrão precisa de um consenso para não rachar e ele seria alternativa por ser do Republicanos e amigo de Lira. Seus amigos, no entanto, afirmam que ele jamais faria isso: um deles diz que "seria mais fácil cortar meu próprio braço do que ver Hugo Motta passar a perna em Pereira"; outro compara a potencial traição com a disputa que houve recentemente no União Brasil e que virou caso de polícia.
Os outros no páreo
Centrão unido jamais será vencido. Um grupo de deputados sustenta que nenhum dos candidatos está se destacando e outros nomes devem aparecer até o fim do ano. A nova opção precisa ser alguém do centrão, com interlocução com Lira, que agregue diferentes líderes e que, no papel de "presidente do sindicato dos deputados", continue a fazer valer os interesses dos parlamentares. Hugo Motta se enquadra neste perfil.
Nome do agro. Outro cotado para uma candidatura alternativa é Pedro Lupion (PP-PR). Presidente da poderosa Frente Parlamentar do Agronegócio, é do mesmo partido de Lira. Um grupo vem trabalhando por sua indicação, mas o movimento tem perdido força. Para alguns, a situação passa pela estratégia de sair de cena para evitar questionamentos dos adversários e surgir na reta final das articulações como uma solução para a Câmara.
Partido tenta ficar no poder. Mas mesmo aliados de Lupion dizem que, neste momento, a alternativa a ser considerada deve ser a do deputado Doutor Luizinho (PP-RJ). É o atual líder do partido de Lira na Câmara e perpetuaria a legenda no comando da Casa.
Rival em Alagoas. Isnaldo Bulhões (MDB-AL) representa um partido forte, circula bem entre os os colegas, tem boa relação com Lira e o apoio do governo. Poderia ser a solução para unir os diferentes grupos, mas sua proximidade com a família Calheiros em Alagoas torna praticamente impossível com que sua candidatura prospere. As famílias Calheiros e Lira são inimigas políticas no estado e ambos devem ser rivais na disputa pelo Senado em 2026.
Ex-concorrente escanteado. Outro expoente do centrão, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) também tem articulação com o governo, mas tampouco é um nome que seria apoiado por Lira. Pertencem a grupos diferentes dentro do mesmo partido. No passado, Ribeiro antagonizou com o atual presidente na disputa pela cadeira.
Como pensa a maior bancada. Com 95 deputados, o PL é o maior partido da Câmara e estuda os cenários. A legenda não descarta lançar um nome para marcar posição, mas o foco principal vai ser o apoio de um nome para conquistar lugares importantes na Mesa Diretora, de vice-presidência a secretarias.