Em mensagem, auxiliar de Gayer diz ter 'muitas coisas erradas acontecendo'
Auxiliar de Gustavo Gayer (PL-GO) disse, em conversa de WhatsApp com um secretário do deputado federal, que havia "muita coisa errada" na escola de inglês que funcionava em um endereço alugado com dinheiro da cota parlamentar. O diálogo faz parte das investigações da Polícia Federal que levaram à operação nesta sexta-feira (25) contra o bolsonarista e outras 17 pessoas.
O que aconteceu
Mensagens de um dos suspeitos do esquema revela o "desabafo". João Paulo de Sousa Cavalcante, que já havia sido alvo da PF em outro inquérito por envolvimento nos atos de 8 de Janeiro, teve o sigilo telemático quebrado naquela investigação. Com esse material, a PF conseguiu identificar outras suspeitas de irregularidades, que levaram à operação desta sexta.
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João Paulo era contratado pelo gabinete de Gayer por meio da empresa de publicidade Goiás Online. De acordo com a investigação, porém, na prática ele atuava como assessor do deputado. A contratação via empresa teria sido uma forma de burlar o impedimento que João Paulo tinha para ser contratado diretamente como assessor pela Câmara, pois ele tem pendências com a Justiça Eleitoral.
Segundo a PF, o deputado liderava uma associação criminosa que atuava para desviar dinheiro público em diferentes frentes. Verbas da cota parlamentar de Gayer foram usadas para alugar imóvel em Goiânia onde funcionava uma loja de roupas em nome de seu filho e uma escola de inglês do próprio Gayer. A cota parlamentar é o recurso que todo deputado tem direito para custear somente atividades ligadas a sua atuação política e não pode ser utilizada para fins privados.
No celular de João Paulo, a PF encontrou mensagem enviada para Marco Aurélio Alves Nascimento, secretário parlamentar de Gayer. No texto, com um extenso desabafo, ele fala que eles estariam "pregando uma coisa e vivendo outra" e que teria até alertado o deputado que o uso de verba pública na escola de inglês poderia dar problema.
E eu fico preocupado porque já falei pro Gustavo, um dia eu chamei atenção sobre a questão da escola lá, por exemplo, a escola de inglês num é mais escola de inglês, mas fica tendo aula sabe... Descobri que tá tendo aula na terça e na quinta presencial, entendeu? Ou seja, a escola tá sendo paga com recurso público e tá sendo usada pra um fim totalmente que tipo num existe né, num tem como ser assim e ai eles vão levando, ou seja, ainda não entenderam a gravidade sabe... Moço, pra esse povo já ter alguém ali na porta fiscalizando... filmando... Vai ser igual o caso daquela mulher do popular né na assembleia... Senhora, senhora, senhora, num tem jeito vei o povo vai pra cima mesmo... O Gustavo [Gayer] hoje ele é uma vidraça, ele é um alvo e, se for pra cima, moço, infelizmente, a gente tá tipo errando né nesse sentido, a gente tá pregando uma coisa e tá vivendo outra, infelizmente a gente tem muitas coisas erradas acontecendo aí.
Mensagem de João Paulo Sousa, contratado pelo gabinete de Gayer, a um secretário parlamentar do deputado
Efetivamente, os indícios colhidos pela Polícia Federal revelam que o deputado federal Gustavo Gayer teria empregado seus secretários parlamentares, remunerados com recursos públicos, para o desempenho de demandas privadas, bem como teria utilizado verbas públicas para manter, ainda que parcialmente, essas atividades privadas.
Trecho da decisão do ministro Alexandre de Moraes que autorizou a operação desta sexta
O que diz Gustavo Gayer
Gayer afirmou que a motivação da PF é eleitoreira. "Dois dias antes da eleição de segundo turno do qual meu grupo e candidato participa em Goiânia, acordo às 6h da manhã com minha porta sendo esmurrada pela Policia Federal", afirmou Gayer em um vídeo compartilhado no Instagram. "Numa sexta-feira, sendo que a eleição é no domingo, claramente tentando prejudicar meu candidato, Fred Rodrigues [PL], aqui em Goiânia."
O parlamentar atacou a PF, a quem chamou de "jagunços" de Moraes. "Eu que nunca fiz nada de errado nunca cometi nenhum crime, [mas] sou tratado como criminoso pela Policia Federal e por Alexandre de Moraes", disse. "Não estou acreditando que essa corporação, que a gente tanto admirou, que a gente tentou proteger, né, hoje viraram jagunços de um ditador. Sinceramente esse é um momento em que a gente começa a perder a esperança", afirmou.