PF: Golpistas tinham armas, avião e carros para plano de fuga de Bolsonaro
O então presidente Jair Bolsonaro (PL) tinha um plano de fuga a ser executado em caso de fracasso da tentativa de golpe de Estado, de acordo com o relatório da PF (Polícia Federal) tornado público nesta terça-feira (26).
O que aconteceu
A PF sugere que o plano pode ter sido parcialmente colocado em prática com a ida de Bolsonaro aos Estados Unidos, às vésperas da posse de Lula. Em 2 de janeiro de 2023, quando o ex-presidente estava fora do país, uma mensagem enviada a Bolsonaro pelo brigadeiro da Aeronáutica Maurício Pazini Brandão, também indiciado, revelava a expectativa de que um evento prestes a acontecer pudesse colocá-lo de volta no poder. "O plano foi complementado com as contribuições de sua equipe. Aguardamos na esperança de que será implementado", dizia a mensagem.
Para a PF, tratava-se dos atos de 8 de Janeiro, e o ex-presidente planejava aguardar no exterior o seu desfecho. Bolsonaro voltou ao Brasil apenas em março de 2023.
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Conforme será descrito nos próximos tópicos, JAIR BOLSONARO, após não conseguir o apoio das Forças Armadas para consumar a ruptura institucional, saiu do país, para evitar uma possível prisão e aguardar o desfecho dos atos golpistas do dia 8 de janeiro de 2023 ('festa da Selma')
Relatório da PF
O plano revelado no relatório envolvia tirar Bolsonaro do país, usando armas, veículos oficiais e outros recursos militares. Segundo a PF, ele seria posto em prática tanto se o golpe não desse certo quanto se fosse necessário esperar seu desfecho.
Nesse contexto, a investigação identificou um plano, adaptado da doutrina militar, para evasão e fuga do então presidente da República JAIR BOLSONARO do país, caso seu ataque ao poder Judiciário e ao regime democrático sofresse algum revés que colocasse sua liberdade em risco.
Relatório da PF
O plano de fuga envolveria a "construção de uma narrativa de perseguição" a Bolsonaro. Apoiadores usariam as redes sociais para disseminar mensagens para justificar sua fuga, descrevendo o ex-presidente como alguém perseguido e vulnerável e "criando um clima de instabilidade", segundo a PF. A narrativa já era desenvolvida por grupos nas redes que, posteriormente, seriam chamados de "milícias digitais".
Além de usar técnicas de forças especiais do Exército, a fuga contaria com a ajuda de militares, diz o relatório. Nas tratativas do golpe, membros do Alto Comando do Exército articulavam o apoio de militares para o plano, tentando "garantir a lealdade de oficiais dispostos a desobedecer ordens do comando e protegê-lo em caso de necessidade". Esses homens organizariam a logística da fuga de Bolsonaro.
Há indícios de que Bolsonaro e aliados da cúpula dos militares se reuniam no Palácio do Planalto e na Granja do Torto para discutir a fuga. Nesses encontros, eram debatidos os meios de transporte e as possíveis rotas que seriam usadas pelos militares, diz a PF.
Fuga seria bancada com recursos públicos, de acordo com o relatório. Para isso, os conspiradores contavam com o acesso e a proximidade de militares de confiança e o uso de aeronaves da FAB (Força Aérea do Brasil) e de outros veículos oficiais. Armas e munições guardadas em um cofre também seriam preparadas em caso de necessidade, diz a PF.
O plano de fuga seria consolidado com o transporte de Bolsonaro para outro país. O destino, que não é citado no relatório, protegeria o presidente em caso de ações judiciais no Brasil.
As evidências reunidas pela PF
"Ele entende as consequências do que pode acontecer", disse Mauro Cid em áudio coletado pela investigação. O relatório diz que mensagens do então ajudante de ordens descreviam as preocupações de Bolsonaro com sua liberdade.
As informações sobre o suposto plano de fuga foram recolhidas de um laptop de Mauro Cid. No aparelho, havia um slide que previa o uso de um dispositivo chamado "RAFE/LAFE. No jargão militar, significa Rede/Linha de Auxílio à Fuga e Evasão.
É descrito como um "Dispositivo montado em território ocupado pelo inimigo que visa a dar condições ao evadido de chegar às linhas amigas. Interliga várias redes de auxílio à fuga e evasão". O documento é composto por cinco slides com telas que incluem os logotipos do DRC (Destacamento de Reconhecimento e Caçadores) e do COpEsp (Comando de Operações Especiais do Exército), fato que reitera o uso de técnicas de forças especiais do Exército no interesse da organização criminosa. Inicialmente o documento estabelece três cenários hipotéticos de decisões do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal Eleitoral, que seriam contrárias aos interesses do então presidente da República JAIR BOLSONARO: "STF interfere no Executivo"; "STF cassa a chapa para 22"; e "STF (TSE) barra a PEC aprovada pelo Congresso do voto impresso".
Relatório da PF