Quem é o agente da PF que passou detalhes da segurança de Lula a golpistas
Colaboração para o UOL
27/11/2024 12h13
Wladimir Matos Soares, 53, preso no último dia 19 sob suspeita de participar do plano para assassinar o presidente Lula (PT), é apontado como peça-chave no vazamento de informações sensíveis da segurança do petista para o grupo que planejava um golpe de estado.
O que aconteceu
Soares tem 22 anos de carreira. De acordo com as investigações, ele usou sua posição para repassar informações confidenciais sobre a segurança do presidente. Ele é acusado de integrar um esquema que planejava ações golpistas durante o período de transição de governo, atuando de dentro da equipe de segurança presidencial.
Segundo o relatório da PF, Soares fazia parte de um grupo que arquitetava o chamado 'Plano Punhal Verde Amarelo'. Esse esquema incluía ações para neutralizar autoridades e impedir a posse de Lula, utilizando métodos que iam desde monitoramento clandestino até envenenamento.
Soares nasceu em Salvador e ingressou na Polícia Federal há mais de duas décadas. Durante a transição de governo, ele foi designado para atuar na segurança do Hotel Meliá, em Brasília, onde Lula e sua equipe estavam hospedados.
No entanto, a investigação da PF revela que ele utilizou essa posição estratégica para beneficiar uma organização criminosa. Sua atuação incluía monitorar rotas e vulnerabilidades da equipe de segurança de Lula, informações que eram repassadas a outros membros do esquema golpista.
Informações sensíveis
Soares repassou informações sensíveis, incluindo detalhes sobre os responsáveis pela segurança de Lula, diz a PF. Em uma mensagem interceptada, ele compartilhou dados do delegado Cleiber Malta Lopes, coordenador da posse presidencial, acompanhado do comentário: "Petista e baba ovo do Alckmin".
Em áudios analisados pela PF, o agente relatava ações e estratégias em curso. Ele mencionou o posicionamento do COT (Comando de Operações Táticas) nas proximidades do Hotel Meliá, na região central de Brasília, próximo ao Eixo Monumental, além de outros detalhes operacionais sigilosos. A investigação identificou que essas informações poderiam ser usadas para ataques ao presidente e sua equipe.
Um áudio enviado por Soares a Sérgio Cordeiro, assessor de Jair Bolsonaro (PL), revelou detalhes importantes sobre a atuação da equipe de segurança. Ele informou que, devido à tentativa de invasão da sede da Polícia Federal em 12 de dezembro, uma equipe do COT foi mobilizada para proteger Lula. No áudio, o agente detalha:
Eles acionaram a equipe do COT. E uma equipe do COT, como o Lula estaria ali no prédio, né, do Meliá, uma equipe do COT ficou à disposição, próxima. Então, eles hospedaram essa equipe do COT aqui no Windsor.
Wladimir Matos Soares
Além de fornecer informações operacionais, o áudio também mostra sua disposição em apoiar os golpistas. Ele conclui: "Vamos torcer, meu irmão. Tamo aqui nessa torcida. Essa porra tem que virar logo. Não dá pra continuar desse jeito não, irmão. Vamos nessa. Eu tô pronto".
Entre as mensagens obtidas, Soares demonstrou alinhamento com o plano golpista. Em uma delas, escreveu: "Eu e minha equipe estamos com todo equipamento pronto para ir ajudar a defender o palácio e o presidente (Bolsonaro). Basta a canetada sair".
'Punhal Verde Amarelo'
O plano foi elaborado para impedir a posse de Lula e seu vice, Geraldo Alckmin (PSB). Entre as estratégias, estavam ações de assassinato, que incluíam o uso de envenenamento e armas químicas.
O policial teve papel central no fornecimento de informações que alimentavam as decisões do grupo. Ele atuava como intermediário, conectando os dados coletados em campo às operações articuladas pelos núcleos de inteligência paralela.
O plano previa uma série de etapas coordenadas, culminando em uma intervenção militar. No entanto, a resistência de comandantes das Forças Armadas a participar do golpe e o aumento da vigilância sobre os envolvidos impediram a consumação dos atos.
Apesar da interrupção do plano, a PF identificou que o grupo continuou promovendo ataques à democracia. A tentativa de golpe se estendeu para manifestações e outros atos violentos, como os registrados em 8 de janeiro de 2023.
A PF indiciou Bolsonaro, o general Braga Netto e mais 35 pessoas sob suspeita dos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. Soares também está na lista de indiciados. O ex-presidente, assim como outros indiciados, nega tentativa de golpe. O UOL tenta localizar a defesa do agente da PF.