Milton Leite acelera votações e colhe vitórias em despedida da Câmara de SP

A última semana de Milton Leite (União) à frente da Câmara Municipal de São Paulo foi marcada pela aprovação acelerada de projetos polêmicos e a inclusão de jabutis na pauta de votação.

O que aconteceu

Sem definição na presidência, Leite preferiu garantir aprovação de projetos. O UOL apurou que havia uma tensão sobre como estará o início da legislatura em 2025. Como havia projetos importantes para o prefeito reeleito Ricardo Nunes (MDB) e para o presidente da Casa, ele preferiu apressar as votações.

Nunes enviou projetos vistos como impopulares pela oposição, e presidente da Casa incluiu jabutis. "Após a eleição, a Câmara entrou em um ritmo para acelerar propostas impopulares, que existia um receio de votar antes da eleição", disse a vereadora Luana Alves (PSOL).

Derrubada de 10 mil árvores, construção no metrô e privatizações foram aprovadas. A proposta que autoriza transformar uma área de preservação em aterro sanitário autoriza a derrubada das árvores —o mesmo texto libera regras mais flexíveis sobre emissão de ruídos em shows e eventos.

O texto que permite a derrubada de árvores em São Mateus, na zona leste de São Paulo, vai contra o que foi definido na COP28 e outros movimentos que existem hoje na parte de meio ambiente. A revisão do Plano Diretor no ano passado já trouxe mudanças ruins nesse sentido.
João Ananias (PT), vereador em São Paulo

Aliados defendem pauta cheia em última semana. "São projetos e propostas para os quais a cidade precisa ter um posicionamento", afirmou Major Palumbo (PP). "Temos buscado fazer o melhor para a cidade de São Paulo", defendeu o vereador Sansão Pereira (Republicanos).

No final da legislatura, [o maior número de votações] é uma prática, porque as pessoas acabam sendo mais cobradas e precisa ter uma decisão.
Major Palumbo (PP), vereador em São Paulo

Proposta que libera privatização de ciclovias foi aprovada em menos de dois dias. Presidente da Câmara há quatro anos, Leite é conhecido por acelerar projetos de interesse do Executivo e ligados ao setor imobiliário —como foi o caso do jabuti que libera a construção de prédios sobre estações de trem, metrô e terminais de ônibus.

Durante a última sessão do ano, o presidente da Casa colocou na pauta a derrubada de um veto. Vereadores da oposição chegaram a reclamar no plenário que o conteúdo não havia sido analisado, mas de nada adiantou. Leite seguiu a votação e derrubou um veto de Nunes sobre a minirreforma do zoneamento que permite construção de prédios em áreas mais restritas a casa na cidade.

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Em despedida, Leite pediu perdão por "tudo que pode ter errado". Ao final da sessão na sexta-feira (20), o presidente da Câmara agradeceu a Deus pela trajetória e desejou sucesso aos vereadores que continuarão na próxima legislatura. Ele foi aplaudido pelos vereadores no plenário.

Aos senhores vereadores que tenham um futuro brilhante nessa Câmara Municipal de São Paulo a qual eu tenho um carinho especial, pois 28 anos da minha vida foram dedicados aqui. A todos vocês só tenho uma palavra, antes do agradecimento, quero pedir perdão a Deus naquilo que errei.
Milton Leite, presidente da Câmara em último discurso no plenário

Protagonista até o fim

"Milton Leite me liga sem parar", disse prefeito durante entrevista ao UOL. No encontro realizado na tarde de quarta-feira (18), Nunes afirmou durante a conversa que recebia telefonemas do presidente da Câmara naquele momento. Na ocasião, o texto enviado pela prefeitura à Casa não foi aprovado por um voto.

Em última sessão, vereadores eleitos do União e secretário visitaram plenário. Sandra Alves, Silvão Leite e Silvinho estiveram na Câmara. O secretário da Casa Civil e futuro chefe da pasta das Subprefeituras, Fabricio Cobra, também estava presente. Com base eleitoral na zona sul, Silvão e Silvinho estrearão na Câmara em 2025.

Atual presidente da Câmara e possível futuro ocupante do cargo ficaram lado a lado. Milton Leite e Ricardo Teixeira (União) dividiram a mesa que comandava os trabalhos no fim da manhã de ontem. Nos bastidores, já há quem trate Teixeira por "presidente", em função de acordo firmado por partido na campanha.

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União apoiou reeleição de Nunes para manter presidência da Câmara com partido. Legenda elegeu sete nomes, mas apenas Ricardo Teixeira e Rubinho Nunes não são estreantes —prefeito prefere Teixeira a Rubinho. Já Milton Leite quer que seu apadrinhado Silvão seja indicado ao posto.

Sucessão na presidência ainda está em aberto. Os vereadores buscam nome de consenso e consideram "muito importante" fatores como experiência. "O próximo presidente tem que conversar com todos", afirma Palumbo. "Não vai ser fácil substituir o presidente Milton Leite", afirma Pereira. A indicação de um vereador novato seria motivo de "chacota", segundo um político, pela incapacidade da situação não ter construído uma alternativa experiente com força nos quatro anos.

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