Sakamoto: Nunes pôs secretária de extrema direita no lugar que foi de Marta
Colaboração para o UOL, em São Paulo
02/01/2025 13h18
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), colocou uma secretária de extrema direita, Angela Gandra, no lugar que já foi de Marta Suplicy no comando das relações internacionais, destacou o colunista Leonardo Sakamoto na edição do UOL News desta quinta-feira (2).
O prefeito Ricardo Nunes fez concessões ao bolsonarismo. A Angela Gandra é uma das concessões ao bolsonarismo, ela era secretária da Família no ministério de Damares Alves. Ajudou muito a costurar a participação do Brasil em movimentos ultraconservadores e partidos de extrema direita. Um exemplo é a questão dos direitos das mulheres, melhor dizendo, a exclusão dos direitos das mulheres, por conta de sua atuação contra o direito ao aborto.
Angela Gandra teve um papel fundamental nessa aproximação do Brasil nessas teias, nessas conexões. Nunes, ao trazê-la para a Prefeitura de São Paulo, sabe disso e não faz isso à toa.
Sabe quem já ocupou essa pasta? Marta Suplicy. Marta Suplicy era secretária de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo.
Para Sakamoto, a escolha para a pasta antes ocupada por Marta Suplicy é um "aceno duplo ao bolsonarismo".
Marta Suplicy saiu do governo de São Paulo alegando que Nunes, devido à sua aproximação com Bolsonaro, estava traindo os ideais em que ela acreditava. Voltou para o PT e foi candidata a vice de Guilherme Boulos na chapa municipal. Ao colocar uma pessoa de extrema direita no cargo que em seu governo já foi de Marta Suplicy, Nunes não apenas faz um aceno ao bolsonarismo, mas faz um aceno duplo.
Essa mudança é duplamente importante quando você olha quem estava sentada naquele posto. Tinha uma pessoa que era vista como petista, agora está colocando uma bolsonarista-raiz lá. Marta foi muito criticada durante a campanha pela extrema direita. Pablo Marçal cutucou Nunes porque Marta era secretária dele e depois virou vice do Boulos.
É um aceno forte ao bolsonarismo, um aceno forte ao eleitorado de extrema direita, que é relevante em São Paulo. É claro que São Paulo não tem maioria de extrema direita de maneira alguma, mas esse eleitorado é relevante.
Leonardo Sakamoto, colunista do UOL
Futuro de Nunes na Prefeitura está relacionado ao de Tarcísio
O colunista do UOL seguiu sua análise e afirmou que o futuro de Ricardo Nunes na Prefeitura de São Paulo irá depender do 'arroz com feijão' e está diretamente ligado ao do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O destino do Nunes está diretamente relacionado com arroz e com feijão. Eu explico. O governo Lula está com bons indicadores na economia, que deve crescer 3,5%, o desemprego chegou a 6,1%, o menor da série histórica desde 2012, a renda do trabalhador vem aumentando, o Natal e essas festas de final de ano tiveram muita compra, mas, ao mesmo tempo, a inflação, principalmente dos alimentos, ainda é grande. Então, o que acontece? A popularidade do Lula cai, reduz por conta disso, por causa da questão da qualidade de vida que acaba reduzida pelo poder de compra.
Se chegar em 2026 com o poder de compra lá no alto, o que vai acontecer com o Lula? Vai aumentar a sua popularidade. O Lula, com uma popularidade maior, pode botar um sucessor, como Haddad, para concorrer ou, se a popularidade não estiver tão grande, ele mesmo pode sair.
Se o Lula sai com a economia razoavelmente bem, o próprio Kassab, que é o homem forte do governo Tarcísio, já falou um milhão de vezes que ele acha que o Tarcísio não deve sair [candidato à Presidência]. E aí o Tarcísio tenta a reeleição.
Então é o seguinte, se o feijão e o arroz baixarem de preço, não só o feijão e arroz, os alimentos, mas feijão e arroz são ótimos indicadores, feijão, arroz, picanha, cerveja, baixarem, Tarcísio sai para a reeleição, não vai disputar a Presidência da República. O mais provável é esse desenho. E se Tarcísio sai para a eleição, o Nunes não tem uma cadeira para correr atrás em 2026, porque ele poderia renunciar em 2026 e tentar o Palácio dos Bandeirantes.
Mas isso só acontece se Tarcísio sair. Caso contrário, o Nunes pode até se tornar um secretário do Tarcísio em 2028 ou ficar na a fila de espera buscando uma saída para 2030. Nesse caso, fica um pouco mais difícil para o próprio Nunes, que vai ficar fora do poder durante um bom tempo.
E aí fica difícil para ele pleitear o Palácio do Bandeirantes, caminho que seria mais fácil caso ele saísse da Prefeitura de São Paulo e tentasse o Palácio do Bandeirantes diretamente. O futuro do Nunes depende, é claro, das relações com o centrão, do apoio dos partidos que estão com ele, do apoio na Câmara dos Vereadores, em que ele vai ter maioria, mas depende também do arroz e do feijão.
Leonardo Sakamoto, colunista
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