Hugo Motta é eleito presidente da Câmara com apoio de PT e PL
Do UOL, em Brasília
01/02/2025 18h52Atualizada em 01/02/2025 19h29
O deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB) foi eleito presidente da Câmara dos Deputados, neste sábado (1º), com apoio do governo e da oposição. Ele vai comandar a Casa pelos próximos dois anos.
O que aconteceu
Motta derrotou candidatos da direita e esquerda. O deputado foi eleito com 444 votos, contra 22 para o Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) e 31 para Marcel Van Hattem (Novo-RS). O resultado considerou a maioria absoluta dos votantes e não da composição da Casa. 499 deputados votaram, dois votaram em branco. O Novo tem quatro deputados, enquanto o PSOL soma seis cadeiras.
PL e PT vão ocupar a 1ª vice-presidência e a 1ª secretaria com os deputados Altineu Côrtes (PL-RJ) e Carlos Veras (PT-PE), respectivamente. Os outros integrantes da Mesa Diretora são Elmar Nascimento (União Brasil-BA), na 2ª vice-presidência, e Lula da Fonte (PP-PE), Delegada Katarina (PSD-SE) e Sérgio Souza (MDB-PR) nas secretarias.
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Presidente mais jovem da Câmara. Motta chegou ao posto mais alto da Casa aos 35 anos, após ser indicado por seu antecessor, Arthur Lira (PP-AL), em outubro do ano passado. Para tanto, o deputado Marcos Pereira, presidente do Republicanos, desistiu de concorrer. Na época, o parlamentar atribuiu a renúncia à falta de apoio de Gilberto Kassab, dirigente do PSD.
Arco de apoio reuniu 17 partidos, que somam 494 deputados. Lira articulou com Motta a base de legendas que dariam sustentação à candidatura. A negociação envolveu espaços na Mesa Diretora, presidências de comissões e indicações do PT para o TCU (Tribunal de Contas da União).
Após ser eleito, o presidente Lula (PT) parabenizou Hugo Motta, em nota divulgada à imprensa. "Estou certo de que avançaremos ainda mais nessa parceria exitosa entre Executivo e Legislativo, para a construção de um Brasil cada vez mais desenvolvido e mais justo, com responsabilidade fiscal, social e ambiental".
Paraíba em peso na Câmara. Familiares e amigos de Motta viajaram do estado do deputado para acompanhar a eleição em Brasília.
Estratégia desidratou outros concorrentes. Quando o republicano foi anunciado oficialmente, as principais siglas da Casa embarcaram rapidamente na aliança: PL, PT, MDB, PP, Podemos e Republicanos. Posteriormente, chegaram PCdoB, PV, Federação PSDB/Cidadania, PDT, PSB, Avante, Solidariedade, PRD e Rede.
Costura passou por cima de candidatos do PSD e do União Brasil. Sem o apoio de centrão, governo e oposição, os deputados Antonio Brito (PSD-BA) e Elmar Nascimento (União Brasil-BA), foram obrigados a desistir da disputa e apoiar Motta para não ficar sem espaço na Câmara.
Corpo a corpo com seus colegas eleitores. Nos últimos meses, Motta utilizou seu tempo para receber os deputados individualmente, em bancadas e em frentes parlamentares para buscar os apoios necessários para vencer a disputa.
Governadores e grandes bancadas marcam presença. Na última semana, o candidato participou de um jantar com a bancada de São Paulo, que contou com a presença de presidentes de partidos, como Ciro Nogueira, do PP, Gilberto Kassab, do PSD, e do governador do Estado paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos). O parlamentar também teve um encontro com a bancada do Rio de Janeiro, ao lado do governador Cláudio Castro (PL).
Diálogo com o governo. Durante as negociações com os petistas, Motta firmou o compromisso de manter a comunicação com o Executivo e andar com as pautas que são de interesse do país.
Lula e Motta estão se conhecendo melhor. Com a posição de apoio do PT, o chefe do Executivo fez gestos para se aproximar do republicano e o encontrou algumas vezes para conhecê-lo. A ideia é estabelecer uma relação "amistosa" para os próximos dois anos de mandato, especialmente para 2026, em caso de uma possível disputa pela reeleição.
Motta terá que lidar com a pressão por anistia aos presos do 8 de Janeiro. Durante a campanha, em 2024, Motta se esquivou do tema para conquistar os apoios do PT e do PL, ao dizer que Lira resolveria. O deputado alagoano autorizou a criação de uma comissão especial para debater o tema, mas o colegiado não foi instalado. Por outro lado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que o republicano vai pautar a proposta se tiver o requerimento de urgência aprovado. Os governistas continuam dizendo que não há clima para o tema.
Importância do cargo. Além de comandar a Câmara, de acordo com a Constituição, Motta agora é o segundo na linha de sucessão da Presidência da República (o primeiro é o vice-presidente, Geraldo Alckmin).
O trator de Motta
Hugo Motta resolveu a disputa em 36 horas. Neste intervalo, o deputado fez um intensivo de reuniões que foram do PT de Lula ao PL de Jair Bolsonaro. Os encontros levaram a acordos com cinco partidos e votos suficientes para vencer.
A campanha foi lançada às 9h da última terça de outubro. Àquela altura, Motta contava somente com os 44 votos de seu partido, o Republicanos. Ele queria resolver a questão antes de a semana acabar e inviabilizar rivais com vigorosa demonstração de força.
Logo ficou claro que Arthur Lira estava com Motta. Além da sinalização política substancial, significava o apoio e os 50 votos do PP. A adesão seguinte só viria nas primeiras horas da tarde de quarta, quando o Podemos convocou coletiva para anunciar apoio.
Demorou mais de 24 horas para primeira adesão acontecer, mas o movimento se revelou imparável. No começo da noite, houve uma corrida de partidos para dizer que haviam fechado acordo. O MDB confirmou que tinha aderido a Motta. A imprensa foi avisada que uma reunião na sala da liderança do PT na Câmara deveria ter o mesmo desfecho.
A urgência em se aliar a Motta produziu uma cena insólita. Preocupado em não perder espaço político, o PL enviou seu líder para a frente da liderança do PT. Ele chamou a imprensa e anunciou apoio ali mesmo. Na sequência, os caciques petistas declararam voto em Motta.
Em 36 horas, foram materializados meses de negociação. O deputado deixou a Câmara às 21h de quarta-feira com votos para vencer no primeiro turno.
Outros cargos na direção da Câmara
Deputados escolhem nomes para as outras posições na Mesa Diretora. Serão eleitos ainda hoje dois vice-presidentes, quatro secretários e quatro suplentes. Antes da eleição, os líderes de partidos fizeram uma reunião para formar um bloco e definir os nomes para cada cargo.