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OPINIÃO

Opinião: É incompatível comparar julgamento de plano de golpe com mensalão

Colaboração para o UOL, em São Paulo

23/03/2025 20h06

As comparações dos julgamentos do plano de golpe de 8 de janeiro com o mensalão são incompatíveis e descabidas, já que são repletos de diferenças, apontou Isabela Kalil, antropóloga da FESPSP, em comentário no UOL News deste domingo (23).

Eu acho descabido essa comparação, porque ela é muito perigosa, porque a gente está falando de coisas que são distintas de fato. Isso não significa minimizar o que foi escândalo de corrupção, questões envolvendo a Lava Jato ou até o mensalão.

Comparar mensalão e o 8 de janeiro precisa ter um determinado cuidado. Primeiro, há um interesse, isso é público, todo mundo sabe, que há um interesse que esse julgamento aconteça, se possível, ainda no ano de 2025, para que não contamine o ano eleitoral de 2026. Então, isso está posto, a gente sabe que é isso.
Isabela Kalil

A antropóloga listou uma série de questões que diferenciam os dois casos, como a evolução da tecnologia e a própria disparidade entre os dois crimes julgados.

Comparar com o mensalão, tem uma série de problemas. Primeiro, quando a gente teve o julgamento do mensalão, a própria tecnologia era diferente. A justiça brasileira precisou de um prazo para pegar o que estava em papel e digitalizar para ficar acessível para todas as partes. Hoje já não é mais assim. Hoje todos os processos já são digitais.

Então, a tecnologia mudou, a Corte tem uma configuração que é diferente da do mensalão, não são os mesmos ministros. Tem muita coisa que aconteceu. A gente tem uma expertise diferente, a Corte e todo o sistema de justiça aprendeu com os erros e acertos do mensalão.

Por último, são processos diferentes. Uma coisa é a gente julgar o mensalão, e aí eu não estou minimizando a relevância do julgamento do mensalão, mas outra coisa é julgar uma tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, uma tentativa de golpe do Estado. A gente está falando de coisas que são distintas. A comparação é válida para a gente ter parâmetro, mas a gente tem que ter muito cuidado com essa comparação.
Isabela Kalil

Para finalizar, Kalil destacou que a comparação é uma tentativa de minimizar e colocar os atos do 8 de janeiro como se eles fossem menores.

Essa comparação é uma tentativa também de minimizar os atos do 8 de janeiro e colocar os atos do 8 de janeiro como se eles fossem atos menores. Corrupção é um ato menor? Nesse caso, basicamente, a ideia é a seguinte. Quando a gente está falando de corrupção, a gente está falando de crimes que estão acontecendo dentro do nosso sistema.

Agora, quando você tem uma ação coordenada para acabar com o sistema como todo, é uma coisa diferente. Então, tem também essa tentativa de igualar para tentar criar uma espécie de minimização do que é, de fato, o processo do 8 de janeiro.
Isabela Kalil

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL


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