Mulher que pichou estátua pediu desculpas a Moraes por 'ato desprezível'
A cabeleireira Débora Rodrigues Santos, 39, escreveu uma carta pedindo desculpas ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), por ter pichado a estátua da Justiça durante os atos golpistas de 8 de Janeiro.
O que aconteceu
A carta foi escrita em 6 de outubro de 2024 e inserida no processo apenas em novembro. O processo estava em segredo de Justiça, mas foi tornado público por Moraes hoje. A existência da carta havia sido revelada em janeiro, mas sem o conteúdo na íntegra.
Ela escreveu "Perdeu, mané" na estátua, em referência a uma fala do presidente do STF, o ministro Luís Roberto Barroso. O magistrado respondeu a um manifestante bolsonarista com essa frase ao ser abordado na rua, durante uma viagem a Nova York, em novembro de 2022.
Débora afirmou que "jamais compactuou" com atitudes violentas ou ilícitas. Segundo a cabeleireira, ela foi à Brasília para uma "manifestação pacífica e sem transtornos".
Sou uma cidadã comum e simples e sempre mantive minha conduta ilibada, jamais compactuei com atitudes violentas ou ilícitas. Fui a Brasília pois acreditava que aconteceria uma manifestação pacífica e sem transtornos, porém aos poucos fui percebendo que o movimento foi ficando acalorado. Devo deixar claro que, em momento algum, adentrei em quaisquer casa dos Poderes, fiquei somente na Praça dos Três Poderes, encantada com as construções tão gigantescas e bem arquitetadas.
Débora Rodrigues Santos, em pedido de desculpas por ter pichado a estátua da Justiça
A presença na manifestação foi por querer ser ouvida, afirma a cabeleireira. "Repudio o vandalismo, contudo eu estava ali porque queria ser ouvida, queria maiores explicações sobre o resultado das eleições tão conturbadas de 2022."
Por isso, no calor do momento, cheguei a cometer aquele ato tão desprezível (pichar a estátua). Posso assegurar que não foi nada premeditado, foi no calor do momento e sem raciocinar. Quando eu estava próxima a estátua, um homem pelo qual eu jamais vi, começou a escrever a frase e pediu para que eu a terminasse, pois sua letra era ilegível. Talvez tenha me faltado malícia para rejeitar o 'convite', o que não justifica minha atitude. Me arrependo deste ato amargamente, pois causou separação entre eu e meus filhinhos.
Débora Rodrigues Santos, em pedido de desculpas por ter pichado a estátua da Justiça
Importância da estátua era desconhecida por Débora, segundo ela mesma. "Meu conhecimento em política é raso ou nenhum. Não sabia da importância daquela estátua, nem o que ela representa ao STF, tampouco sabia que seu valor é de R$ 2 milhões. Se eu soubesse, jamais teria a audácia de sequer encostar nela."
A cabeleireira está na cadeia desde março de 2023. Ela foi presa preventivamente na Operação Lesa Pátria e segue detida no interior de São Paulo. Os investigadores confirmaram a identidade dela graças aos registros fotográficos feitos no dia.
Débora é ré por cinco crimes: abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração de patrimônio tombado e associação criminosa armada. Dos 14 anos, são 12 anos e seis meses de reclusão, um ano e seis meses de detenção e mais cem dias-multa.
Julgamento de Débora foi suspenso
O ministro Luiz Fux pediu mais tempo para analisar o caso. Ele terá até 90 dias para retomar o julgamento na Primeira Turma do STF. Os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino já haviam votado para condenar Débora a 14 anos de prisão. Como as turmas são compostas por cinco ministros, basta mais um voto para formar maioria pela condenação.
Moraes disse no voto que as provas mostram que Débora se aliou conscientemente ao grupo que planejava um golpe de Estado. Ela também permaneceu na organização em frente ao quartel-general do Exército em Brasília e escolheu participar dos atos de 8 de Janeiro. Débora confirmou as acusações em interrogatório.
Defesa pediu liberdade. Os advogados falam em vulnerabilidade afetiva e emocional das crianças, ausência de antecedentes criminais de Débora e inexistência de risco de que ela reincida em crimes. Também afirmam que ela tem residência fixa e família estável.
Em outro julgamento, Primeira Turma negou pedido. Ao tornar Débora ré, Moraes disse que, apesar de ela ser mãe de duas crianças, a gravidade dos fatos imputados a ela "constitui situação excepcional", que impede substituição da prisão preventiva pela domiciliar.
Mãe de duas crianças está longe da família. Débora é casada, tem dois filhos, de 6 e 11 anos, e morava em Paulínia, no interior de São Paulo. Atualmente, está detida no Centro de Ressocialização Feminino de Rio Claro, a uma hora de distância.