Dono da festa

Após dias críticos com crise da Amazônia, Bolsonaro mira popularidade no 7 de Setembro

Ana Carla Bermúdez e Antonio Temóteo Do UOL, em São Paulo e Brasília Pedro Ladeira/Folhapress

O presidente Jair Bolsonaro participou hoje de seu primeiro desfile de 7 de Setembro como presidente do Brasil. Após duas semanas tensas, com repercussões negativas das queimadas na Amazônia e uma conversa espinhosa via imprensa com a ex-presidente do Chile Michelle Bachelet, o chefe do Estado brasileiro distribuiu sorrisos em seu ambiente mais natural -- o círculo militar.

Viu-se um presidente esforçado em demonstrar popularidade, e assim contrariar a última pesquisa Datafolha, que o coloca como o morador do Palácio da Alvorada com a maior rejeição aos 8 meses de governo entre os últimos quatro presidentes eleitos.

Após o desfile, no Facebook, Bolsonaro comentou sua caminhada em direção ao público, que quebrou o protocolo da cerimônia: "Seguranças ficaram preocupados, mas é um pequeno risco que a gente corre. Mas a gente acredita que com isso aí, com esse pequeno risco, a gente ajuda a despertar mais o sentimento patriótico do povo brasileiro."

Bolsonaro ganhou reforço de peso para sua imagem: Silvio Santos e Edir Macedo, dois grandes mestres das massas, estiveram ao lado direito e esquerdo do presidente no palanque.

O vice-líder do governo na Câmara dos Deputados, Guilherme Derrite (PP-SP), afirmou que Bolsonaro deu uma demonstração de força política ao reunir no palanque também o presidente do Senado, o 1º vice-presidente da Câmara, ministros, empresários e outras autoridades.

Segundo Derrite, o desfile é histórico porque é o primeiro do presidente que tem fortes laços com as Forças Armadas e que faz questão de quebrar protocolos para se manter próximo do povo.

"Ele tem essa maneira sincera e espontânea de tratar as pessoas. É simples e faz questão de estar próximo da população para receber elogios ou críticas construtivas. Ele deve celebrar depois de um momento onde nossa soberania foi questionada no caso da Amazônia e ele se posicionou de maneira firme", disse.

Na avaliação do vice-líder da oposição na Câmara, Aliel Machado (PSB-PR), o governo defende o verde e amarelo no discurso político, celebra o 7 de Setembro, mas expõe o país a diversas crises diante dos destemperos do presidente.

O parlamentar declarou que a gestão Bolsonaro prioriza uma relação com os Estados Unidos, ignora aliados históricos e cria problemas com parceiros comerciais importantes na Europa e na Ásia.

"O momento é de preocupação. O governo erra bastante ao se envolver em diversas polêmicas e isso pode ter um reflexo negativo na imagem do país e na economia. Esperamos que a temperatura abaixe e presidente faça uma reflexão em uma data tão importante", afirmou.

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), endossa: "Estão se desfazendo das riquezas nacionais. A população está tomando consciência dos erros que estão sendo cometidos".

Já o líder tucano na Casa, o senador Roberto Rocha (PSDB-MA), foi um dos parlamentares que acompanhou o desfile ao lado de Bolsonaro. Segundo ele, a área destinada a autoridades estava repleta de deputados e senadores, uma demonstração da força política do governo.

Menino entra em carro de Bolsonaro no 7 de Setembro

Bolsonaro assistiu ao desfile cercado de empresários e apoiadores: Silvio Santos, dono do SBT, e o pastor Edir Macedo, da Igreja Universal e dono da Record TV, ocuparam lugares de prestígio no palanque oficial destinado para as autoridades.

Os dois chegaram a aparecer mais do que o vice-presidente da República, o general Hamilton Mourão, no início da transmissão da cerimônia pela TV Brasil.

Luciano Hang, dono da Havan e um dos principais apoiadores de Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018, também teve lugar na tribuna. Usando um terno verde, Hang até acompanhou o presidente quando ele decidiu quebrar o protocolo e descer ao asfalto para se aproximar da plateia. Assim como Bolsonaro, acenou e apontou aos presentes.

Ainda no meio da avenida, não teve receio em caminhar abraçado com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, cuja relação com o presidente vem passando por momentos conturbados.

O pastor Romildo Ribeiro Soares, conhecido como RR Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, também assistiu ao desfile na tribuna.

Pedro Ladeira/Folhapress

Improvisos e quebras de protocolo

O desfile foi marcado por improvisos e quebras de protocolo do presidente que pegaram a equipe de segurança de surpresa.

Logo no início da manhã, quando se deslocava pela esplanada no Rolls Royce presidencial para chegar ao palanque oficial, Bolsonaro surpreendeu ao convidar um garoto que estava na plateia para acompanhá-lo no trajeto.

O garoto Ivo César Gonzales, 9, usava uma camisa amarela número 10 do Brasil e foi levado até o veículo por um policial. O presidente estendeu a mão para cumprimentar o menino e, em seguida, o puxou para dentro do carro.

Segundo a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto, o convite de Bolsonaro ao garoto foi espontâneo. Ivo fez o restante do percurso dentro do carro com o presidente e, assim como Bolsonaro, acenou e sorriu para o público de dentro do veículo. No fim do trajeto, ganhou até um abraço do ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), o general Augusto Heleno.

Quando acontecia o desfile aéreo, Bolsonaro resolveu descer do palanque para se aproximar, a pé, das arquibancadas onde fica o público.

Nenhuma tropa estava na avenida, mas mesmo assim seguranças -e também o próprio general Heleno— saíram correndo atrás do presidente para formar um cordão ao redor dele.

Ao lado do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, Bolsonaro caminhou pela esplanada por cerca de 10 minutos. Acenou e apontou para os presentes, que entoaram coros de "mito" e "ô Bolsonaro, cadê você, eu vim aqui só para te ver".

O presidente também pegou uma batuta e fez gestos como se estivesse regendo a banda de orquestra que tocava na avenida.

A cerimônia só foi retomada com o presidente de volta na tribuna. Lá, ele usou um capacete da Polícia Rodoviária Federal durante o desfile das viaturas da corporação e também um capacete dos bombeiros durante a passagem das viaturas do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal.

Bolsonaro deixou a esplanada sem falar com a imprensa.

Presidente desce do palanque e se aproxima a pé do público

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